USP associa álcool e cigarro na gravidez à microcefalia antes do zika

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 4 de abril de 2018 às 22:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:39
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Pesquisadores de Ribeirão Preto e do Maranhão levantaram evidências de que a doença era endêmica no país

Um estudo da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do
Maranhão apontou evidências de que a microcefalia já era uma doença em
crescimento no Brasil antes do surto do vírus da zika em 2015.

Ao analisar bebês nascidos em Ribeirão Preto e São Luís (MA) em 2010, os
pesquisadores levantaram indícios de que a malformação craniana também está
associada a fatores como o consumo de álcool e de cigarro na gravidez e que
parte dos casos pode não ter sido notificada pelas autoridades brasileiras nos últimos
anos.

Em
nota, o Ministério da Saúde informou que, antes do surto de zika, os registros
de microcefalia já eram feitos pelo Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos
(SINASC), mas que, até 2014, referiam-se apenas a casos graves, diferente do padrão
adotado pela pesquisa. “Os autores apresentaram
dados de microcefalia em geral, incluindo casos leves e graves, com perímetro
cefálico abaixo de -2 desvios-padrão abaixo da média para idade gestacional e
sexo ao nascer. Nesse sentido, é possível supor que as estimativas anteriores
de microcefalia estivessem subestimadas, uma vez que não incluíam casos com
perímetro cefálico entre -2 e -3 desvios-padrão”, comunicou.

Entre 2000 e 2017, de acordo com dados do Sinasc enviados pelo
ministério, foram registrados no país 6.694 bebês nascidos com microcefalia,
dos quais 4.224 se concentraram entre 2015 e 2017.

Também divulgadas pela pasta,
informações do Sistema de Informações Sobre Mortalidade (Sim) dão conta de que,
nos mesmos 18 anos, 1.949 crianças morreram com a malformação, das quais 445
foram entre 2015 e 2017.

O estudo

Ao todo, os pesquisadores da USP e da UFMA avaliaram 10,3 mil crianças
nascidas em Ribeirão Preto e São Luís e evidenciaram um índice acima do
esperado de bebês com crânio reduzido.

As taxas foram respectivamente de 2,5% e 3,5%, diante de uma incidência
máxima de 2,3% utilizada como parâmetro internacional, segundo o coordenador da
pesquisa e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP),
Marco Antônio Barbieri. “O risco de nascer com microcefalia foi maior em
Ribeirão do que o esperado e maior ainda em São Luís.”

O professor estima que, em média, a cada 10 mil bebês nascidos, 290
tinham características de microcefalia e podem não ter sido diagnosticados
corretamente.

Além da zika, a malformação, segundo ele, está associada a fatores
sociais, reprodutivos, demográficos e de estilo de vida.

Entre eles estão descuidos do período pré-natal, como o consumo de
álcool e cigarro na gravidez, as condições do atendimento e da realização do
parto, além de infecções causadas por doenças como sífilis congênita e,rubéola.

“É importante que se tenha atenção a esse grupo grande de variáveis
que podem contribuir para aparecer problemas desagradáveis pro resto da vida do
ser humano”, afirma Barbieri.

Publicadas na Pediatric Official Journal,
periódico da Academia Americana de Pediatria, as conclusões sobre Ribeirão
Preto e São Luís podem ser expandidas para o âmbito nacional e reforçam a
necessidade de se atuar na prevenção da microcefalia, segundo o pesquisador. “Têm
fatores patológicos que estão interferindo e levando a uma endemia de
microcefalia e microcefalia grave nessas duas cidades e, portanto, pode ser
extrapolado para o Brasil.”


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