Um pedinte nas ruas e nas esquinas de Franca pode ganhar R$ 300,00 por dia

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 15 de novembro de 2017 às 11:57
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:26
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Mendicância deixou de ser uma necessidade e passou a ser atividade lucrativa para muitas pessoas

Quem confirmou foi o dono de um supermercado. 

O pedinte entrou, deixou com ele uma sacola de moedas para contar, e se dirigiu ao interior do estabelecimento para uma compra.

O comerciante afirmou: todos os dias ele vem. Sempre por volta de 19h, no fim do dia. 

Deixa a sacola de moedas e às vezes são mais de R$ 300,00. Nunca menos de R$ 100,00.

Satisfeito, com a compra nas mãos, o pedinte espera o troco e segue.  

Amanhã, certamente, voltará.

A rotina é diária. Amanhã cedo ele estará novamente em um dos semáforos.  Acostumou-se. Não pretende mudar de vida.

Depois da compra, com um bom saldo nos bolsos, vai se reunir com amigos no centro popular mantido com verbas da Prefeitura.

Ele é oriundo de uma pequena cidade da região.  Entre os amigos ou “colegas pedintes” estão alguns viciados em droga e quase todos alcoólatras.

Nenhum deles fala em mudar de vida. Ao contrário. Demonstram que pretendem continuar pedindo moedas.

Nas unidades da Assistência oficial do Município não há confirmação de recuperados. 

As estatísticas só registram o aumento do número de mendigos nas ruas de Franca.

O município criou o Centro de Triagem na Rodoviária de Franca e tenta estancar o problema na sua origem.

Mas isso é paliativo: quem quer mesmo, desce do ônibus antes da Rodoviária e sabe para onde ir. 

Existe uma escala dos lugares rentáveis, onde se pode permanecer à espera das moedas ou de uma ou outra nota robusta.

“As coisas que eu sei de mim são pivetes da cidade: pedem, insistem e eu me sinto pouco à vontade”. 

Assim cantaram João Bosco e Aldir Blanc em “Transversal do Tempo”, há quase 40 anos. 

Motoristas e pedestres, com medo de assaltos e agressões, costumam abrir a carteira com mais generosidade quando são abordados por um mendigo.

Há alguns anos, a revista Enfoque Franca fez uma reportagem sobre a mendicância na cidade. 

Naquela época, mostrou que os pedintes tinham “pontos” fixos e que nenhum outro podia invadir. Havia um “código de ética”, que era respeitado entre eles.

Já naquela época foi comprovado que alguns mendigos ganhavam mais nas ruas do que se tivessem emprego. 

E ninguém se interessava em mudar de vida. Tinha gente que ia do bairro para o centro de ônibus e voltava de ônibus. Com dinheiro no bolso.

Naquela época, pedintes usavam crianças para sensibilizar a população. 

Hoje, isso não existe mais porque as autoridades estão atentas. 

Mas as próprias autoridades argumentam que não podem tirar coercitivamente os pedintes da rua: há o direito constitucional deles.

Há 30 anos ou mais se trabalha em Franca para conscientizar a população a não dar esmolas. 

É a única maneira de acabar com a mendicância na cidade. 

Quem estudou o assunto diz que os necessitados procuram ajuda, os “pedintes profissionais” procuram rentabilidade. 

Nem que para isso precisem ficar sem banho e se mostrarem mais necessitados do que realmente são.


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