Tratamento brasileiro contra a Aids se consolida como referência mundial

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de dezembro de 2018 às 21:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:14
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Prática adotada pelo Sistema Único de Saúde é reconhecida pela Organização das Nações Unidas

Cerca de
585 mil pessoas que vivem com o vírus HIV no país realizam a terapia
antirretroviral em unidades da rede pública de saúde (SUS).

Esses pacientes
encontram nesses locais uma realidade bem diferente daquela enfrentada na
década de 1980, quando começaram a surgir os casos da doença no Brasil.

Embora a primeira manifestação da
Aids em um brasileiro tenha sido confirmada em 1982, apenas em 1987 o
medicamento AZT começou a ser utilizado pelos pacientes porque ajudava a evitar
o enfraquecimento do sistema imunológico.

O remédio, que inicialmente havia
sido criado para combater células cancerígenas, se tornou o principal aliado
dos soropositivos. No entanto, as altas doses recomendadas causavam muitos
efeitos colaterais. “De 1987 até 1995, a gente fazia o tratamento baseado em
uma única droga (o AZT). Isso não foi suficiente para reduzir a mortalidade por
Aids. O medicamento prolongava a vida dos pacientes, mas infelizmente não
conseguia controlar o vírus”, explica Roberta Schiavon, membro do Comitê de
HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Foi só em 1996, com o Sistema Único
de Saúde (SUS) já consolidado, que o Brasil estabeleceu de vez o chamado
coquetel, que reúne três tipos de medicamentos. No mesmo ano, a Lei 9.313
determinou a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores de HIV

Na década seguinte, o foco passou a
ser a produção interna das medicações para reduzir os custos. Em 2002, a
Fundação Oswaldo Cruz começou a produzir sete antirretrovirais que são
utilizados até hoje.

Com agem os antiretrovirais?

Os medicamentos antirretrovirais para
o HIV atuam no mecanismo de multiplicação do vírus, evitando que ele infecte as
células de defesa do organismo. Desta forma, impede-se o enfraquecimento do
sistema imunológico da pessoa e o seu adoecimento. É por esse motivo que o uso
regular dos medicamentos é imprescindível para aumentar o tempo e a qualidade
de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e
infecções por doenças oportunistas.

As pessoas que usam os medicamentos
de forma correta e adequada reduzem o número de vírus circulante a níveis
indetectáveis no organismo. Nesse estado, evidências científicas demonstram que
além da melhora significativa na qualidade de vida e do não adoecimento, a
condição de se estar indetectável impede a transmissão do HIV por via sexual.

Tratamento para todos

Atualmente, o tratamento para o HIV
envolve a combinação de três categorias diferentes de medicamentos e cada uma
dessas categorias envolve um número de medicamentos. 

São mais de 36 combinações
diferentes aplicadas hoje em dia. A variedade de opções se dá pela necessidade
de adequar o tratamento ao estilo de vida do paciente. “Para um piloto de
avião, por exemplo, não é recomendado dar medicação baseada no Efavirenz, pois
ele pode ter um surto psicótico durante o trabalho. Um técnico de enfermagem que
trabalha à noite pode ficar com sono e ter o desempenho comprometido. Grávidas
também têm restrições e precisam de atenção especial”, diz Schiavon.

Desde 2013, todas as pessoas com o
HIV, independentemente da carga viral têm acesso ao tratamento pelo SUS. “A garantia
de tratamento para todos já reduziu em 16% os casos de Aids nos últimos quatro
anos, fazendo cair a taxa de detecção de 22 casos para cada 100 mil habitantes,
em 2011, para 18,3 em 2017”, explica a diretora do Departamento de Vigilância,
Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis,
do HIV/Aids e das Hepatites Virais, Adele Benzaken.

Inovação

A novidade mais recente no tratamento
oferecido pelo SUS em relação ao HIV ocorreu em 2017. No ano passado, a rede
pública passou a ofertar um dos melhores antirretrovirais do mundo: o
Dolutegravir. Ele já é usado por 87% das pessoas que iniciam o
tratamento no Brasil. Esse antirretroviral aumenta em 42% a chance de
indetecção viral (carga viral indetectável). 

Após três meses de uso do Dolutegravir,
87% das pessoas com HIV/Aids já apresentavam carga viral inferior a 50
cópias/mL. Ele é usado em combinação com os antirretrovirais Tenofovir e
Lamivudini no esquema chamado “2 em”. Ou seja, apesar de serem três
compostos, estão presentes em dois comprimidos, sendo um de Dolutegravir e
outro formado por Lamivudina + Tenofovir.


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