Transplantes de células-tronco é mais eficaz para esclerose múltipla

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de outubro de 2018 às 22:23
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:04
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Recurso tem se mostrado mais eficaz que remédios: 94% dos pacientes não apresentam mais sintomas

Há dez anos, a dona de casa
Marta Cunha começou a perder a força dos braços e sentir dificuldade para
andar. Em poucos meses, já sem conseguir se locomover, aos 51 anos de idade,
ela recebeu o diagnóstico que mais temia: estava com esclerose múltipla.

No início, os medicamentos ajudaram a barrar os efeitos da
doença autoimune, que afeta o sistema nervoso central e pouco a pouco paralisa
os movimentos do corpo. Mas, depois de algum tempo, os remédios também não
faziam mais efeito.

Foi então que Marta decidiu
ser voluntária de uma pesquisa desenvolvida pelo Hospital das Clínicas da USP
em Ribeirão Preto (SP).

Junto de cientistas da Suécia,
Inglaterra e Estados Unidos, os médicos brasileiros passaram a tratar a
esclerose múltipla com células-tronco. “Eu tropeçava muito, fui perdendo força,
porque perde a mobilidade, até que chegou ao ponto e eu parar de andar”,
relembra. “Hoje, tenho uma vida normal. Tenho a sequela que ficou, um pouquinho
só, mas levo minha vida normal”, comemora a dona de casa.

O
tratamento funciona da seguinte forma: células-tronco são extraídas do corpo do
paciente e passam por uma espécie de filtragem. Em seguida, o doente é
submetido a alta intensidade de quimioterapia, para praticamente “zerar” o
sistema imunológico.

Por fim, as células-tronco
congeladas são reintroduzidas no organismo e fazem uma espécie de
“reconfiguração” do sistema imunológico. Essa técnica já é usada também para o
tratamento de diabetes tipo 1 e esclerose sistêmica, no Hospital das Clínicas em
Ribeirão.

Assim como Marta, outros 54 pacientes de quatro países
foram submetidos ao tratamento e 94% deles não voltaram a sofrer com os
sintomas da esclerose múltipla. Entre os tratados com a medicação convencional,
60% apresentam reincidência da doença. “O objetivo era ver se o transplante era
melhor ou pior do que o tratamento convencional. Nós observamos, ao longo do
tempo, que o transplante foi melhor em termos de controlar a doença”, explica a
pesquisadora Maria Carolina de Oliveira.

Os médicos destacam que esse
tipo de transplante deve ser aplicado apenas se doença estiver em estágio
inicial, quando o paciente apresenta dificuldade para andar e mexer os ombros,
por exemplo. O doente não pode estar em cadeira de rodas ou acamado. “No grupo
transplantado, houve melhora neurológica. Então, esses pacientes tiveram
capacidade neurológica melhor: andar, força, todas essas funções. É uma
alternativa quando a esclerose múltipla é mais inflamatória e que não responde
bem ao tratamento inicial”, diz.

Os voluntários serão
acompanhados durante cinco anos. Além disso, Maria Carolina destaca que, por
enquanto, o Sistema Único de Saúde (SUS) só oferece tratamento com medicação,
porque o transplante de células-tronco está em fase experimental. “Ainda
é considerado pesquisa, então esse tratamento é feito em centros de pesquisa ao
redor do mundo. Mas, nós esperamos que logo venha a ser um tratamento padrão”,
afirma.


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