Técnica reduz de 40 para 5 sessões de radioterapia em câncer de próstata

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de julho de 2018 às 23:00
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:53
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No ultra hipofracionamento são utilizadas altas doses de radiação sobre o tumor para menos sessões

Uma nova técnica tem permitido reduzir o número de sessões de
radioterapia contra o câncer de próstata. Para a doença, geralmente são
previstas 40 sessões. Com o tratamento chamado de hipofracionamento moderado,
chegou-se a 20. Agora, surgem no País as primeiras iniciativas de radioterapia
ultra hipofracionada contra esse tipo de tumor, que reduz o número de sessões
para cinco. 

Nesse formato, são aplicadas altas doses de
radiação sobre o tumor, o que permite menos aplicações. A abordagem, também
conhecida como hipofracionamento extremo ou SBRT, já é adotada contra alguns
tipos de câncer, como o de pulmão. Mas é nova quando se trata do de próstata –
segundo mais prevalente entre os homens. Estima-se que, neste ano, serão 68.220
novos casos da doença.

A opção começou a ser oferecida nos últimos meses
no Hospital Sírio-Libanês e no Mãe de Deus, em Porto Alegre. Já no A. C.
Camargo Cancer Center, os dois primeiros casos de SBRT foram feitos este mês.
“Os benefícios são menor tempo de tratamento, menos transtorno (do
paciente) com deslocamento e, muito provavelmente, melhora do índice de
controle bioquímico da doença”, afirma Antônio Cássio Pelizzon, líder da
equipe de radioterapia do A. C. Camargo. 

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, também
se prepara para aderir ao hipofracionamento extremo para o câncer de próstata,
após a instalação de um equipamento inédito no País, o acelerador linear
Halcyon. Além de permitir menos sessões, torna cada sessão mais rápida – cai de
25 minutos para oito. “Em vez de tratar quatro pacientes por hora, posso
tratar seis. Isso amplia o acesso, agrega valor e reduz o custo da
inovação”, diz Rodrigo Hanriot, coordenador de radioterapia do
hospital. 

Por enquanto, o hipofracionamento extremo é
indicado para tumores restritos à próstata, de risco baixo ou intermediário.
Pacientes com problemas crônicos no trato urinário não são bons candidatos –
estudos mostram que, especialmente nesse grupo, pode haver efeitos colaterais
(como ardor e aumento da frequência urinária), diz Andrea Barleze da Costa,
gestora de Radioterapia do Mãe de Deus. 

O hipofracionamento moderado ganhou força após dez
estudos clínicos de fase 3 (alto nível de evidência), conduzidos em grandes
centros de pesquisa, demonstrarem que a técnica é tão eficaz quanto a
convencional. Para Arthur Accioly Rosa, da Sociedade Brasileira de
Radioterapia, o modelo é uma mudança de paradigma. 

Eficiente, a técnica se tornou tendência em vários
países. Mas, como diz Elton Leite, do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp),
a popularização no País envolve questões ligadas a equipamentos e modelos de
remuneração. Para aplicar altas doses de radiação com segurança, é preciso
tecnologia que permita monitorar a localização precisa do tumor. 

Uma opção é o IGRT (radioterapia guiada por
imagem), pouco disponível no Brasil e sem ressarcimento pelo SUS e pelas
operadoras. Outra é o Calypso, recém-instalado pelo Sírio, que trabalha com
emissão de sinais – dispositivos implantados na próstata avisam (25 vezes por
segundo) se está no alvo e, diante de um desvio, a radiação é interrompida.

De modo geral, a radioterapia no País é paga
conforme o total de sessões – se há menos, o valor cai. “É um verdadeiro
paradoxo”, diz João Luís Fernandes da Silva, do Departamento de
Radioterapia do Sírio. Por isso, hospitais têm negociado pacotes com operadoras
para todo o tratamento.


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