Sinais de riqueza nas redes sociais podem influenciar o valor da pensão alimentícia

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  • Publicado em 17 de julho de 2019 às 18:25
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:11
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Redes sociais têm sido usadas como provas em processos judiciais de forma cada vez mais frequente

Imagine
a situação: na hora do julgamento, uma das partes afirma não ter condições
econômicas de aumentar, ou mesmo pagar, a pensão alimentícia. Já nas redes
sociais, essa mesma pessoa posta fotos que contradizem o que disse em frente ao
juiz: passeios em locais caros, viagens para o exterior, celular de última
geração…

Se
você não passou por isso, pode ser que conheça alguém que já tenha vivido esta
situação. Pois saiba que é possível utilizar o estilo de vida
“ostentação” do ex-parceiro, ou da ex-parceira, como evidência também
na Justiça, especialmente nos casos de pensão.

Segundo
a lei, o valor da pensão alimentícia deve ser é estabelecido de acordo com a
necessidade de quem recebe e com as possibilidades de quem paga. Mas, em casos
em que há dúvida sobre as reais condições de quem deve pagar ou se quem
pleiteia realmente faz jus ao pensionamento realmente, os posts das redes
sociais dos envolvidos podem ser um importante elemento de convicção do juiz.

“As
redes sociais se tornaram uma importante ferramenta, pois as pessoas as
utilizam em seu dia a dia naturalmente, já é parte da rotina. E aqueles que
ostentam naturalmente colocam suas imagens por lá, como aconteceu comigo”,
afirma G, de 32 anos, que, como afirma, sofreu na pele a situação.

Até
2018, seu ex-marido se recusava a aumentar a pensão alimentícia da filha,
alegando que não teria condições financeiras por ser freelancer. “Porém,
nas redes sociais ele costumava colocar fotos em frequentes viagens para o
exterior, além de trocar de carro todos os anos, para modelos sempre mais
caros”, afirma G.

“Era
uma situação em que eu já arcava com a maior parte das despesas da minha filha,
pois ela morava comigo, então, as contas, o dia a dia, a rotina, tudo caia no
meu colo. Ele, obviamente, estava pagando menos do que poderia, então,
acionamos a justiça. Como ele não tinha emprego fixo, provar que ele recebia
mais do que dizia era um problema, mas conseguimos. Juntamos fotos, diálogos,
não só os posts nas redes, embora acho que a ostentação dele tenha sido
fundamental”, conta.

Agora,
também graças a uma quebra no sigilo financeiro, o pai paga quase o triplo do
valor anterior. Situações como de G são muito frequentes: o principal motivo
que leva ex-casais à Justiça é a questão da pensão alimentícia. Em casos como
da carioca, em que o pai não possui emprego fixo, delimitar o valor desse
recurso é um desafio. Em geral, juízes tem como modus operandi fixar entre
10% e 30% dos ganhos, mas em casos de não ter emprego fixo, determinar um
número se torna um desafio. Que, em muitos casos, pode falhar.

Segundo
a advogada Eleonora Mattos, do escritório Silvia Felipe e Eleonora Mattos
Advogadas, as redes sociais têm sido usadas como provas em processos judiciais
de forma cada vez mais frequente. “Normalmente a finalidade é evidenciar a
contradição entre a alegação de dificuldades financeiras feitas por uma parte
e, de outro, o padrão de vida ostentado pela própria pessoa em suas redes sociais.

De
acordo com a especialista, é possível a utilização das publicações para colocar
em cheque qualquer alegação em juízo que não seja verdadeira. “Já o
fizemos em diversas situações como em uma oportunidade em que a ex-esposa
pleiteou o aumento da pensão do filho supostamente por não estar trabalhando
por razões médicas, mas publicou fotos de diversas reuniões de trabalho no
mesmo período e quando uma parte solicitou justiça gratuita, apesar de ter
recentemente publicado fotos dirigindo seu carro importado e passeando em seu
barco – ambos registrados em nome de terceiros”, finaliza.