Semana de controle à leishmaniose traz alerta sobre esta grave doença

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 5 de agosto de 2020 às 13:12
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:04
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Países como Índia, Sudão e Brasil concentram a maioria de casos dessa enfermidade no mundo.

O presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNSPV/CFMV), Nélio Batista de Morais, chamou a atenção para a importância da Semana Nacional do Controle e Prevenção à Leishmaniose, iniciada na terça-feira (4), para alertar a população sobre os cuidados para evitar a doença que afeta animais e seres humanos. 

“É uma doença grave, caso não tenhamos tratamento em tempo oportuno. As chances de ir a óbito são superiores a 90%”, observou Morais, sobre a doença em humanos. 

A leishmaniose visceral, conhecida popularmente como calazar, era uma endemia rural até a década de 1970, que acontecia no semi-árido do Nordeste. Com as mudanças ambientais e a urbanização do país, ocorreu uma mudança do perfil epidemiológico radical do calazar. 

A doença migrou então, inicialmente, para grandes cidades nordestinas, como as capitais do Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, passando, mais adiante, para o estado do Pará, na região Norte. No Centro-Sul do país, foram identificados também surtos de calazar em Belo Horizonte, cidade de perfil distinto do nordestino.

A expansão territorial da enfermidade prosseguiu para cidades do Mato Grosso do Sul, como Campo Grande, e do oeste de São Paulo, entre as quais Presidente Prudente e Araçatuba. Por último, chegou à Região Sul do Brasil, expandindo-se até a Argentina, revelou Nélio Batista de Morais. 

“Foi uma mudança de perfil extremamente radical pela adaptabilidade do seu vetor”. O vetor da leishmaniose visceral é o mosquito-palha (‘Lutzomyia longipalpis’) infectado pelo protozoário ‘Leishmania chagasi’.

Esse mosquito, muito menor do que uma muriçoca, faz o seu ciclo de reprodução na matéria orgânica em decomposição no solo, como frutas, folhas e fezes de pessoas e animais. São mosquitos que não dão voos, mas saltos, e a fêmea faz repasto sanguíneo. 

Para saciar essa necessidade de sangue, ela busca uma fonte animal ou humana. Normalmente, no meio urbano, a fonte animal é o cão, que é extremamente sensível e vulnerável à ocorrência leishmanionse visceral. A doença é muito letal na população canina.

O presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do CFMV explicou que o tratamento é extremamente complexo porque o tutor do animal deverá dedicar-se a à recuperação do cão enquanto o bichinho viver. 

Alguns animais respondem de forma satisfatória ao tratamento, outros não. 

“Vai depender muito da característica individual do animal em responder a esse tratamento”. Depois que o animal é diagnosticado e se submete a tratamento, ele vai precisar ser controlado e medicado durante toda a vida. Tem que ficar protegido, para que os mosquitos não venham a fazer rapastos sanguíneos nele, e deve ser submetido a exames periódicos para monitoramento.

Nélio Batista de Morais esclareceu que as drogas para animais não podem ser usadas em humanos e vice-versa. São medicamentos específicos. 

Para evitar que o cão adoeça, o importante é fazer a prevenção e a profilaxia, recomendou o especialista. Para isso, existem coleiras impregnadas com remédios que vão ser letais para o mosquito transmissor. 

Essas coleiras foram avaliadas pelo Ministério da Saúde e tiveram sua eficácia comprovada por estudo multicêntrico realizado em várias cidades brasileiras. “Onde essa coleira foi utilizada ela reduziu em torno de 50% os casos de leishmaniose visceral humana”, revelou. 

Outro mecanismo com efetividade comprovada são vacinas contra a leishmaniose visceral canina, que garantem a proteção individual do cão. Morais observou, porém, que não está garantido ainda que o cão vacinado representa proteção para o homem. 

Deverão ser feitos estudos mais robustos sobre a aplicabilidade da vacina para ver sua repercussão na proteção do ser humano, indicou. 

Lembrou que essas duas ferramentas (coleiras e vacinas) não existiam no país há 15 anos. “São duas ferramentas importantíssimas para nós controlarmos a Leishmaniose visceral, o calazar”.

Países como Índia, Sudão e, no continente americano, o Brasil, concentram a maioria de casos dessa enfermidade no mundo. Os casos exigem internação e tendem a ser muito graves, sobretudo em crianças e idosos. 

De cada 100 pessoas que adoecem no Brasil, sete vêm a óbito, informou o médico-veterinário do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). “É uma letalidade bem acentuada”.

O número de casos no Brasil está estabilizado há mais de 15 anos. A variação apresentada alcança entre 3 mil e 4 mil pessoas infectadas por calazar a cada ano. 

Todas as regiões brasileiras têm casos da enfermidade, sendo que 22 estados apresentam casos humanos e caninos. Por isso, é muito importante proteger o animal e, consequentemente, toda a família.


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