Saiba porquê a produção de alimentos depende tanto de agrotóxicos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de outubro de 2019 às 11:45
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:53
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Agrônomos dizem que modelo atual de grandes culturas criou dependência do uso de agrotóxicos

O jeito de se produzir alimentos em larga escala e quase o ano todo fez com que agricultores ficassem dependentes do uso de agrotóxicos, dizem agrônomos.

Por outro lado, quando mais se aplica o veneno, mais a praga cria resistência. E ele vai perdendo sua eficiência. “Apesar de toda a parafernália química, a indústria de agrotóxicos jamais conseguiu eliminar uma espécie daninha e diminuir as perdas causadas por elas, perdas essas que continuam as mesmas de 40 anos atrás”, afirma o pesquisador brasileiro e PhD em agronomia Adilson Paschoal, criador do termo “agrotóxico”.

Cada vez mais o ingrediente-base do agrotóxico (princípio ativo) acaba tendo que ser misturado a outros para funcionar melhor. Hoje, 329 são registrados no Brasil. Na União Europeia, são 466 e, nos Estados Unidos, aproximadamente 500.

Agrônomos que explicam, tecnicamente, como se dá essa dependência dos agrotóxicos, para que servem e que soluções podem existir para reduzir o uso.

O que é um agrotóxico?

A palavra agrotóxico é usada particularmente no Brasil  — no exterior, o termo mais comum é pesticida.

São produtos químicos usados na produção agrícola, manutenção de pastagens e proteção de florestas plantadas. Pela legislação brasileira, produtos biológicos e orgânicos com o mesmo fim também são considerados agrotóxicos.

A base é chamada de princípio ativo: ele sozinho ou misturado a outros vai dar origem aos produtos que serão vendidos para os agricultores. Eles podem ser líquidos ou sólidos (em pó ou granulados).

Para que serve?

Essas substâncias mudam a composição da flora e da fauna, para acabar com as ervas que “competem” com a plantação principal, além de fungos e insetos que podem danificar essa lavoura.

Por que ele é polêmico?

Justamente pela característica de alterar a flora e fauna. Para ambientalistas, o produto químico muda a naturalidade do ecossistema de onde ele é aplicado, o que cria uma nova população de insetos, bactérias e ervas daninhas que não são necessariamente próprias da região.

Se mal aplicado, o agrotóxico também pode atingir lavouras vizinhas, criando problemas para produções orgânicas ou, até mesmo, matar plantações e florestas sensíveis ao produto químico. Isso sem contar os riscos que os trabalhadores rurais correm se o produto não for usado da maneira correta.

Além disso, o veneno mal utilizado pode ser responsável pela morte de abelhas, insetos importantíssimos para garantir a polinização das plantas, um processo fundamental no ciclo da agricultura.

Outro ponto é que o agrotóxico pode deixar resíduos nos alimentos e no lençol freático, atingindo água de rios.

No caso da comida, em alguns casos, o pesticida fica apenas na casca do produto, podendo ser eliminado em uma lavagem. Em outras situações, ele age dentro do organismo da planta e de seus frutos, e não é possível eliminar 100% desse residual.

No Brasil, existe uma legislação que define limites seguros para a ingestão desses resíduos. Mas quem é contra o uso dos pesticidas afirma que não existe nenhuma prova científica que garanta que consumir resíduos de agrotóxicos em níveis considerados seguros pela lei vai evitar efeitos colaterais.

Como age o agrotóxico?

Para cada “alvo”, existe um tipo:

  • Herbicida: age contra ervas daninhas;
  • Fungicida: contra fungos que causam doenças;
  • Inseticida: contra insetos

Inseticidas e fungicidas costumam ser usados antes do plantio, no tratamento das sementes, assim como os herbicidas, mas também podem atuar depois da colheita, para evitar a proliferação de doenças durante o armazenamento dos produtos. Veja como cada tipo age:

Herbicida

Impede a fotossíntese das ervas daninhas para que elas morram e não roubem luz do sol e nutrientes da plantação principal.

O tipo mais usado entra no organismo da erva e a mata por completo (das folhas à raiz). Existem herbicidas que agem apenas nas folhas; com isso, as raízes ficam sem utilidade e morrem.

Fungicidas

Fazem as células dos fungos ou ácaros entrarem em colapso, inibindo a entrada de ar e energia que esses organismos precisam para se multiplicar.

Inseticidas

Matam insetos nocivos às lavouras, que são aqueles que sugam a seiva (o “sangue” da planta), introduzem doenças e se alimentam de partes fundamentais para o desenvolvimento da plantação.

Todos os inseticidas agem no sistema nervoso dos insetos. Uns causam excitação, convulsão, paralisia até a morte. Outros podem inibir o apetite desses seres, fazendo com que eles morram por desnutrição ou desidratação.

Por que se usa tanto agrotóxico?

Os agrônomos listam 5 motivos para isso:

  1. o tamanho da área plantada;
  2. modelo de produção em larga escala;
  3. o clima favorável às pragas o ano todo (caso de países como o Brasil);
  4. o aumento da resistência delas aos pesticidas;
  5. a dificuldade de encontrar novas substâncias que tenham o mesmo efeito.


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