Ribeirão vai ter ‘laboratório portátil’ com diagnóstico imediato de febre amarela

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 27 de março de 2018 às 15:22
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:38
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Tecnologia ‘lab on a chip’ será desenvolvida e vai reconhecer doença enquanto o paciente for atendido

Em dois anos, pesquisadores da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esperam levar ao Sistema Único de Saúde (SUS)
uma tecnologia portátil para realizar diagnósticos imediatos de dengue, febre
amarela, chikungunya e zika vírus em um aparelho do tamanho de uma caixa de sapatos.

Projetado para ser desenvolvido e produzido no campus da
USP, em Ribeirão Preto, o sistema ‘lab-on-a-chip
(laboratório em um chip) permitirá que um paciente saiba com qual dos quatro
arbovírus está enquanto é atendido na unidade de saúde.

A Fiocruz já conta hoje com outros testes simultâneos
das doenças, mas, segundo os pesquisadores, nenhum deles é tão rápido ou
utiliza princípios de microfluídica, engenharia que modifica o comportamento
dos fluídos em análise quando dispostos em espaços reduzidos.

Com sintomas parecidos como
dor de cabeça e febre, as doenças impõem desafios às autoridades brasileiras.
Desde julho do ano passado até fevereiro deste ano, o país contabilizou 154
mortes de febre amarela e 545 casos confirmados.

Com 316 mortes em 2016, dengue, chikungunya e zika
tiveram redução nos números, mas o Levantamento Rápido de Índices de Infestação
pelo Aedes aegypti (LIRAa)
apontou 1,1 mil municípios brasileiros ainda em estado de alerta. 

Laboratório portátil

O equipamento portátil contará com um microchip que realiza
as principais etapas desenvolvidas por aparelhos maiores de um laboratório
convencional, como a preparação da amostra e a identificação da substância, mas
em uma escala até 20 vezes menor.

O material
genético do paciente – que pode ser urina, sangue e saliva, por exemplo – é
preparado, processado e lido em menos de uma hora. Centros urbanos sem
estrutura para os testes e ambulatórios são locais em potencial para sua
implementação.

O desenvolvimento e a validação do sistema serão concluídos dentro de um
laboratório no Supera Parque, centro de inovação tecnológica instalado na USP,
onde também deverá ser construída uma planta industrial para a fabricação das
peças.

O projeto tem investimento inicial estimado em R$ 30 milhões, com verbas
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e Governo de São Paulo.

Em um primeiro momento, o know how da Fiocruz será direcionado aos
exames de dengue, zika, chikungunya e febre amarela, mas tende a ser expandido
para outras patologias.

Uma das mais importantes, segundo o vice-presidente de inovação da
fundação, é a possibilidade de diagnosticar sepses, infecções generalizadas com
uma incidência de 30% nos pacientes de unidades de terapia intensiva (UTIs) e
índice de mortes de até 60%, estima Krieger. Atualmente, os diagnósticos
demoram até 24 horas. “Se a gente
consegue identificar nas primeiras duas horas qual é o agente causador da
infecção e entrar com tratamento específico, a gente pode salvar 80% das vidas.
Realmente não é só o luxo querer ter um teste no ponto de atendimento. Em
algumas situações clínicas faz uma diferença muito grande você ter o
diagnóstico. No caso da sepse, se estima que a cada hora que não tem o
tratamento específico, você diminui em 10% a chance de salvar aquele
paciente.”

A
iniciativa é um dos braços da parceria entre a Fiocruz e a USP de Ribeirão
Preto, que também consiste no desenvolvimento de pesquisas em conjunto com o
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FMRP).


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