Redes sociais: luto compartilhado se torna algo cada vez mais comum

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  • Publicado em 30 de novembro de 2017 às 14:42
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:27
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Morte deixou de ser tabu e cada vez mais pessoas dividem suas perdas na internet até com desconhecidos

As redes sociais não trouxeram apenas maior interatividade entre aqueles que estão distantes fisicamente. Perfis no Facebook, Twitter e afins estão tão íntimos do dia a dia que se tornaram refúgios para o luto trazido pela distância da morte. E, com eles, as formas de lidar com essa dor também se transformaram.

Sociólogas da Universidade de Washington estudaram a maneira como os usuários interagem nas redes sociais com os perfis de pessoas que já morreram. Elas concluíram que essas plataformas ampliaram os círculos em que o luto transcorre, criando um espaço antes inexistente, no qual ocorre um debate entre pessoas que nem conhecem o falecido.

Para a psicóloga Kenia Granado Oliveira, esse fenômeno pode ser considerado normal, uma vez que, permanentemente conectadas partilhando sentimentos, momentos e fotografias, é natural que as pessoas compartilhem a perda, seja de um ente querido ou um animal de estimação. “Expressar a dor nesta plataforma digital permite ao usuário receber mensagens de apoio em um momento tão delicado. No entanto, essa nova representação do luto não torna as condolências menos sinceras, porém distancia o calor transmitido quando ditas pessoalmente”, diz.

Lidando com a morte

Segundo ela, a morte de um ente querido provoca sentimentos distintos como raiva, tristeza, isolamento, dentre outras emoções que são vivenciadas de maneira singular por cada pessoa. “A sociedade cobra uma vivência do sentimento de perda cada vez mais rápida, dificultando a elaboração do luto, que certamente passa por fases como a negação, raiva, barganha, depressão e por último, a aceitação. Essas fases demandam um tempo de elaboração até a fase de aceitação”, pondera Kenia, que completa: “neste processo é cada vez mais comum observarmos a utilização da internet. Por isso o ambiente virtual vem sendo estudado para tentar compreender os desejos e sentimentos das pessoas”.

Kenia diz que o enlutado encontra nas redes sociais o reconhecimento de seu luto e consegue passar pelo processo de forma mais rápida

Isso ocorre porque, na busca de reunir forças para superar o sofrimento da sua perda, o enlutado utiliza-se da internet e encontra o reconhecimento do seu luto nas interações online. Isso não significa que a dor é menor ou que a internet faz bem a todos os enlutados, mas pode atenuar a dor e ajudar na elaboração do sofrimento causado pela perda. Depende do uso e do significado que o usuário dá ao mundo virtual. “Hoje vemos que as redes sociais são usadas como ferramenta para compartilhar o luto através de grupos ou comunidades que passam por um mesmo momento, dividindo assim a dor, na tentativa de suporte e conforto uns aos outros e muitas vezes recebendo comentários, elogios, palavras de solidariedade”, comenta.

Kenia é enfática ao afirmar que, quando a fase do luto se prolonga e existe a dificuldade em lidar com a realidade, é importante buscar ajuda psicológica para superar e lidar com a dor, como também estar perto das pessoas queridas pode ser uma maneira de passar por esse processo de forma mais saudável, superando a perda e seguindo em frente.

NO FOCO

Kenia Granado Oliveira

Psicóloga especialista em clínica de criança, adolescente e adulto

CRP: 06/116640

Telefone (16) 9.9117-2364