Recrutadores usam inteligência artificial para encontrar candidatos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 15 de abril de 2018 às 17:11
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:40
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Vagas são sugeridas através do uso de tecnologia semelhante à usada pelo Netflix para sugerir vídeos

Sabe quando você está ouvindo
uma música da Marília Mendonça e automaticamente o YouTube recomenda outras
canções de sertanejo? Ou quando está vendo La Casa de Papel e o Netflix
recomenda séries de crimes porque você estava assistindo uma parecida? O histórico
dos usuários nas plataformas serve como guia nessas recomendações através de
inteligência artificial. A novidade é que a ferramenta começa a ser aplicada
nos processos seletivos de empresas.

Empresas recrutadoras estão
confrontando os dados enviados pelos usuários com o perfil de funcionário que
seus clientes, grandes empresas, estão buscando. O objetivo é ser mais
assertivo no “match” entre candidato/vaga. Além disso, a ideia é recomendar
oportunidades condizentes com o perfil do candidato, com base no que ele
informa ao sistema. “Na prática é traçar melhor as informações que já tínhamos
acesso. Tê-las de forma tratada para uma inteligência analisar é a grande
mudança”, percebe Ricardo Basaglia, diretor-executivo da Page Personnel,
consultoria global de recrutamento.

A 99 Jobs já usa inteligência
artificial para sugerir vagas para candidatos que tenham o perfil procurado e
aderência cultural com a empresa que vai contratar. “O ponto aqui não é atrair
quantidade de candidatos, mas sim qualidade”, afirma Guto Sato, especialista na
área de crescimento da empresa. A 99 Jobs registrou mais de 2 milhões de
usuários no primeiro trimestre de 2018.

A empresa está fazendo testes
para incrementar essa tecnologia em sua plataforma desde julho de 2017. A
equipe percebeu que a ferramenta estava funcionando bem, quando os usuários se
inscreviam para as vagas sugeridas. “Se por algum motivo ele começar a
sugerir oportunidades que você não se engaje, ele vai se ajustando até achar
àquilo que faça mais sentido para o usuário. Essa é a beleza da inteligência
artificial”, afirma Sato.

Como funciona na prática

Quem procurar uma vaga agora precisa entender que todo seu comportamento
vai ser analisado dentro da plataforma de recrutamento. Se originalmente o
interesse do candidato é em marketing, mas ele busca também vagas em engenharia
por curiosidade ou até para outras pessoas, o algoritmo entende que essa também
é sua área de interesse. Assim, ele passará a enviar outras sugestões, que
podem ser consideradas fora do seu perfil.

Para Luiz Braz, especialista
em Ciência de Dados do Vagas.com, a tecnologia deverá aumentar a assertividade
da seleção. Hoje 70% das candidaturas já vem das recomendações automáticas na
empresa, que atende três mil clientes.

Se todos parassem para pensar
em quantos amigos ou familiares estão satisfeitos em seus empregos, as agendas
dos psicólogos ficariam lotadas. Basiglia enxerga que “pessoas erradas em
trabalhos errados” é a causa de parte da infelicidade no trabalho. Ele acredita
que o mapeamento adequado faz com que os profissionais contratados tenham
motivações e capacidades atendidas e assim, não só ficarão mais felizes, como
entregarão um resultado melhor. 

Vantagens

Na visão de Sato, a tecnologia
beneficia o candidato e facilita as contratações. “Antes o candidato tinha
que ser proativo e procurar as vagas que o interessava sempre. Não havia uma
inteligência por trás disso”, aponta.

Com isso, muitos processos
seletivos enfrentavam dificuldades para conseguir candidatos suficientes. “Hoje
você consegue atrair com menos esforço uma quantidade maior de usuários com
aderência à empresa”.

Para o setor de recursos
humanos, a tecnologia deverá mudar o perfil do profissional. “A mudança é que o
setor de recursos de humanos vai ter um papel mais estratégico e menos
operacional”, afirma Braz, do Vagas.com.

A Embraer vai aplicar a
inteligência artificial pela primeira vez no processo seletivo de estagiários,
que receberá inscrições até o dia 09 de maio. Ela vai usar a tecnologia para
identificar características de profissionais bem-sucedidos que já trabalham na
empresa e buscar esses requisitos nos jovens que tentam estágio.

A ferramenta que fará a mágica
foi desenvolvida pela Gupy, startup de software de recrutamento inteligente,
parceira da Embraer.

Questionada se esse modelo não
é viciado e recrutará pessoas com os mesmos perfis e comprometerá a diversidade
na empresa, a Embraer responde que não. “Estamos buscando profissionais de uma
geração mais nova com essa pegada mais aberta, mais flexível que é o
profissional que buscamos no futuro”, afirma Carlos Alberto Griner,
vice-presidente de Pessoas e Sustentabilidade da empresa.

‘O que publico nas redes
sociais vai ser analisado?’

A dúvida pode atormentar os
candidatos, mas a resposta inicial é não. Há dúvidas sobre a relevância das
informações desse conteúdo, já que o usuário faz seu cadastro e preenche as
informações acadêmicas, profissionais e dados básicos nos sites das
recrutadoras.

A Embraer não vai utilizar no
processo de estagiários, mas a possibilidade não está descartada no futuro. O
cuidado e a responsabilidade com o uso dos dados é um ponto sensível e o debate
está quente diante dos vazamentos de dados do Facebook. 

A máquina sabe escolher?

Todas as empresas de
recrutamento parecem estar bem entusiasmadas com a aplicação da ferramenta em
seu dia-a-dia e os riscos são tidos como mínimos. Para elas, a vantagem de ter
inteligência artificial é tirar qualquer viés ou pré-impressão que um
recrutador poderia ter com um candidato. Só que a tecnologia também corre esse
risco, admitem.

Se o sistema for programado
com algum viés, todas as consequentes análises terão resultado comprometido.
“Nesses casos, você perde justamente o poder da ferramenta”, afirma Basiglia.

Para
Henrique Calandra, fundador da WallJobs, startup que usa inteligência
artificial para encontrar vagas para universitários e recém-formados, a
eficácia do uso da tecnologia será vista apenas a longo prazo. “Esta tecnologia
não tem dez anos no mercado para conseguimos dizer qual o ‘turnover’ das
empresas. A curto prazo está funcionando muito bem, mas a gente sempre está
indo atrás de melhorar a tecnologia”, afirma.

O método é usar o cruzamento
de dados para chegar ao candidato ideal para as empresas. Já são mais de dez
mil pessoas empregadas, a partir das 45 mil vagas selecionadas por meio da
empresa, que tem dois milhões de usuários.

Para não receber vagas
erradas, os usuários da WallJobs são orientados a preencher todas as
informações pedidas pela plataforma, inclusive a área em que o candidato quer
trabalhar de fato. “Se você preencher de forma generalista, vai acabar sendo
chamado para vagas que não quer”, explica Calandra.


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