Praticar exercícios físicos não freia avanço da demência, diz pesquisa

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de maio de 2018 às 02:59
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:44
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Estudo mostra que capacidade cognitiva de quem sofre com o mal não melhorou com exercícios

Exercícios para pessoas com sintomas de demência leve ou
moderada não funcionam, de acordo com estudo publicado na revista acadêmica
British Medical Journal.

Os cientistas queriam testar sugestões, feitas por estudos
anteriores, de que exercícios poderiam prevenir o declínio de habilidades
cognitivas, como no caso de pacientes com Alzheimer.

Os pesquisadores disseram que não identificaram melhora nas
habilidades de raciocínio ou no comportamento da doença ao analisar os casos de
mais de 300 pessoas na casa dos 70 anos que fizeram exercícios aeróbicos e de
força durante quatro meses.

O lado positivo foi que o condicionamento físico dos que
participaram da pesquisa melhorou. Mas foi constatado que, 12 meses depois, as
habilidades cognitivas das pessoas que fizeram exercícios tiveram um declínio
levemente maior do que pessoas que não fizeram.

Novos testes devem ser feitos para explorar outras formas de
exercícios, dizem os pesquisadores, da Universidade de Oxford.

Mas, atualmente, a ideia de criar programas de atividades
físicas para pacientes com demência, estudada pelo NHS, o sistema de saúde
pública britânico, não parece ser um bom investimento, na avaliação dos
pesquisadores.

Bicicleta e levantamento de peso

No estudo, 329 pacientes com demência fizeram exercícios em uma
academia por 60 a 90 minutos duas vezes por semana, num período de quatro
meses.

Eles fizeram pelo menos 20 minutos de bicicleta e também
ergueram pesos leves enquanto se erguiam de uma cadeira.

Os pacientes que participaram do estudo também foram orientados
a fazer exercício em casa por uma hora toda semana.

Esse grupo que fez exercício foi avaliado e comparado com um
grupo de 165 pessoas – também com demência – que receberam cuidados
convencionais.

Sallie Lamb, que comandou a pesquisa, disse que os resultados
revelaram que apesar da nítida melhora na condição física, esses benefícios
“não se traduzem em melhoras nas habilidades cognitivas, nas atividades da
vida diária, comportamento ou na qualidade de vida relacionada à saúde”,
disse ela.

Após 12 meses, testes de comprometimento cognitivo mostraram
declínio nos dois grupos – mas um declínio levemente maior no grupo dos que
fizeram exercícios.

Martin Rossor, professor de neurologia clínica da University
College London, diz que os resultados do estudo não surpreendem uma vez que a
degeneração do cérebro começa muitos anos antes dos sintomas como, por exemplo,
em casos de Alzheimer. “Portanto, a mensagem é que o exercício é bom, mas
iniciar um regime de exercícios uma vez que a doença esteja bem estabelecida
pode ter valor limitado”, acrescenta.

Sara Imarisio, que comanda o centro de pesquisas Alzheimer’s
Research UK, no Reino Unido, diz que outras formas de atividades físicas
poderiam ter outros efeitos e que elas devem ser pesquisadas no futuro.

Ela afirma ainda que são muitos os benefícios dos exercícios
físicos, além de fazer bem à saúde. “Para muitas pessoas, o exercício pode
ser uma fonte de prazer e proporcionar oportunidades valiosas para interação
social”, avalia. “Isso se aplica às pessoas que vivem com demência
tanto quanto a qualquer outra pessoa”, completa Imarisio.

Por isso, apesar dos resultados do estudo, especialistas ainda
recomendam exercícios físicos, vistos como uma das melhores maneiras de reduzir
o risco de contrair demência em idosos saudáveis. E avaliam que mais pesquisas
são necessárias para elaborar um programa de exercícios que seja realmente
eficiente para melhorar as condições de saúde do cérebro em quem já tem algum
tipo de demência.


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