Pesquisa revela remédios e cocaína contaminando o mar no litoral de São Paulo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 27 de novembro de 2017 às 01:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:27
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Substância chega ao oceano em meio ao esgoto doméstico e não há tratamento que possa ser feito pela Sabesp

​Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Santa Cecília (Unisanta) apontou altas concentrações de produtos farmacêuticos e de cocaína na Baía de Santos, no litoral de São Paulo.

No laboratório, já foram comprovados os danos que as substâncias trazem ao ambiente marinho. Agora, os pesquisadores buscam aprofundar mais esse estudo sobre as concentrações de drogas ilícitas nesse ecossistema e seus reais danos.

A pesquisa foi coordenada por Camilo Seabra Pereira, ecotoxicologista e professor do curso de mestrado em Ecologia da Unisanta. O grupo é também composto pelos pesquisadores Luciane Maranho, Fernando Cortez, Fabio Pusceddu, Aldo Santos, Daniel Ribeiro, Augusto Cesar e Luciana Guimarães.

Em 2014, os pesquisadores iniciaram o monitoramento na baía de Santos e observaram a presença de cocaína e fármacos concentrados em determinadas áreas. Por conta disso, atualmente são feitas coletas da água a cerca de 4,5 km da costa brasileira, justamente na área que sofre uma influência do estuário de Santos e São Vicente, principalmente, do esgoto doméstico das cidades.

Segundo a pesquisa, tanto a cocaína como as substâncias encontradas na urina estão presente durante todo o ano na água. Eles encontraram a cocaína tanto na forma pura como também metabólica, quando a droga é transformada pelo usuário. Os principais responsáveis pelo aporte das drogas no ambiente marinho são os efluentes domésticos.

Em todas as estações foram encontrados tanto a cocaína quanto metabólicos. As maiores concentrações foram no carnaval de 2014. As quantidades de cocaína na água já estão próximas das que causam efeitos em organismo marinhos, que é na ordem de 200 a 2.000 nanogramas por litro, ou seja, para cada 1 litro de água, são 500 nanogramas de cocaína.

A partir dos primeiros estudos que comprovaram essas substâncias no mar, os pesquisadores começaram a se aprofundar no tema e a estudar quais os efeitos biológicos e o risco ambiental das drogas nos ambientes costeiros. Eles fizeram a coleta e a quantificação da cocaína em laboratório, assim como a avaliação da toxicidade aguda e crônica das drogas em mexilhões.

Mexilhões expostos à droga em experimento feito no laboratório

Foi realizado um experimento com mexilhões conhecidos como perna-perna. Feita uma exposição utilizando drogas durante uma semana. Ele apresentou problemas nas células e no DNA. Esses animais tem a capacidade de absorver a substância. Foram usados, em média, de 50 a 100 mariscos. Todos apresentaram problemas, conforme afirmou um dos pesquisadores responsáveis.

O estudo é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e o monitoramento e análise das amostras segue até 2018. Os pesquisadores partem do princípio de que a cocaína se torna um contaminante ambiental neste cenário. O local onde as amostras são coletadas fica longe da área de banhistas. A vida marinha, neste caso, é a mais afetada com esses poluentes. Por conta do consumo, os seres-humanos também podem estar em risco.

Foi encontrada contaminação ambiental da água e o estudo de sedimento encontrou essas substâncias também no fundo do mar. Nesses locais, o risco é com a vida marinha, por conta dos peixes, crustáceos, moluscos, animais comestíveis. Esse será o próximo passo do estudo, que a partir do verão começará a estudar os animais, de dezembro a fevereiro.


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