Partos cesáreos ainda são maioria em Franca, com mais de 250 registros/mês

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  • Publicado em 18 de abril de 2017 às 14:58
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:10
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Brasil aparece em 2º lugar no ranking de países com mais cesarianas em relação ao total de nascimentos

Desde fins do século XIX, quando a medicina conseguiu finalmente difundir as técnicas de anestesia e os procedimentos para evitar infecções, realizar os partos por meio de um procedimento cirúrgico é uma opção ao alcance das mulheres em grande parte do planeta. No ranking da Organização Mundial de Saúde – OMS, o Brasil aparece na segunda colocação entre os países com mais cesarianas em relação ao total de nascimentos: 52% na rede pública e 88% na rede privada.

Em Franca, a situação se repete. A Santa Casa de Misericórdia realiza a média de 350 partos por mês, sendo 150 cesarianas de alto risco, uma vez que o complexo hospitalar é referência em atendimento de casos de alta complexidade, o que justificaria a alta taxa de cesáreas. “Porém, a Santa Casa, sendo detentora do título de Hospital Amigo da Criança, incentiva a realização do parto normal, humanizado, sempre que possível e que não ofereça risco às mulheres”, reforça o assessor Henrique Novais.

Já no São Joaquim Hospital e Maternidade, de 1º de janeiro de 2015 a 29 de fevereiro deste ano, foram realizados 1.338 partos cesáreos. “O tipo de parto geralmente é decidido entre a gestante e seu obstetra no pré-natal ou no momento do procedimento, de acordo com sua condição clínica. Mas independente da escolha, o São Joaquim trabalha de forma humanizada e segura”, diz o assistente de Marketing, Vitor Souza.

O fato é que as autoridades do Ministério da Saúde passaram a ver com preocupação esse índice, que ultrapassa em muito os 15% considerados adequados pela OMS. “Realmente, o Brasil tem posição de destaque mundial em relação ao tema, mas seria simplista atribuí-la somente ao médico. A escolha de via de parto envolve a relação médico-paciente, modelos de assistência à saúde – tanto público como privado, aspectos culturais e socioeconômicos”, observa o médico ginecologista e obstetra Zainer Renato Gonzaga.

Medo do parto

Foi exatamente isso que aconteceu com Lorena Ribeiro Corte de Souza, 33 anos, na época de sua primeira gestação, aos 23 anos. “Tudo era novidade, muitas perguntas, ansiedade e insegurança, até cogitei tentar o parto normal, vivenciar a espera da ‘hora certa’, mas acredito que a imaturidade fez com que o medo prevalecesse e optei por agendar a cesárea”, conta ela, que na segunda gravidez, entrou em trabalho de parto, e até se sentia preparada emocionalmente para tal experiência, porém o bebê não estava totalmente encaixado e não tinha dilatação. Já na terceira gestação, começou a ter contrações precocemente, mas sem encaixe e dilatação necessária, precisou recorrer ao parto agendado. “Sou integralmente a favor do parto normal, desde que seja realmente ‘normal’, porque o leite desce mais rápido, não tem um corte tão profundo, e é encantador ver que tudo está fluindo para isso; sendo que não haja a necessidade da indução, com medicação e longas horas de agonia, imagino que seja um grande estresse para mãe e bebê”, afirma Lorena, que completa: “já a cesárea, existe o conforto do agendamento, a tranquilidade de se organizar, e o trabalho de parto é de curta duração, porém sei que é um processo cirúrgico e tem seus riscos, como o de hemorragias, e de ter algum tipo reação com a anestesia”, diz ela, mãe de Henrique, nove anos, Daniel, cinco anos, e Felipe, 1 ano.

O medo levou Lorena a optar pela cesárea em seu primeiro parto, mas os dois últimos foram consequências das gestações

Segundo o ginecologista Zainer Gonzaga, as campanhas realizadas em prol do parto normal se dão justamente pelo mesmo agregar menos risco materno, e em termos de saúde coletiva, esse é o ponto mais importante. “A cesariana é um procedimento cirúrgico e exige condições mínimas adequadas para ser realizada de maneira segura. Os riscos de tal procedimento são incomparáveis quando pensamos em sua realização num hospital estruturado de uma cidade desenvolvida e num estabelecimento precário na África subsaariana, por exemplo, ou mesmo em regiões carentes do nosso país”, pondera.

Mudança na escolha

Dois fatores são decisivos para que as cesarianas sejam cada vez mais a forma de nascer dos francanos. Um deles vem das próprias gestantes. Uma pesquisa da Agência Nacional de Saúde Suplementar feita nos consultórios médicos de todos os estados brasileiros mostrou que 70% das gestantes têm, inicialmente, vontade de dar à luz pelo parto normal. No último trimestre, só 30% se mantêm com o propósito de esperar as contrações e enfrentar o processo natural. “A escolha do parto deve ser feita em conjunto, sempre que possível. O médico tem o conhecimento técnico e a gestante tem o conhecimento de si própria e de suas vontades. O parto envolve um preparo que deve ser feito ao longo de toda a gestação, idealmente até antes, quando é feita a opção pela gravidez”, salienta Zainer.

O ginecologista e obstetra Zainer diz que a escolha do parto deve ser feita em conjunto entre médico e paciente

Segundo o médico, defende-se o parto normal por ser mais fisiológico, e a dor do trabalho de parto faz parte desse processo. Isso não significa que a mulher deva ficar desamparada e sentir dor acima dos limites que suporta, mas ela deve se preparar para esse momento, entender o que está acontecendo com seu corpo, saber da importância de cada passo, sentir-se segura e bem assistida para lidar com a situação, e utilizar recursos não medicamentosos que podem ser orientados para aliviar o desconforto que ocorre naquele momento.

Experiência única

“O limiar de dor individual deve ser respeitado e o médico possui recursos para amenizá-la de acordo com a necessidade, porém não existe intervenção sem riscos, e desde que a gestante os conheça e confie no médico que a está acompanhando, eles são muito úteis para ajudar na promoção de um parto seguro para mãe e bebê, auxiliando na promoção de uma experiência única e positiva na vida dessas pessoas, como deve ser”, reforça o ginecologista e obstetra.

Mãe de Davi e Lívia, a enfermeira Vanessa, vivenciou tanto o parto  normal, quanto a cesárea

Com dois filhos – Davi, 10 anos, e Lívia, dois anos, a enfermeira Vanessa Cintra Moura, 36 anos, vivenciou as duas formas de parto: o primeiro foi normal e o segundo cesárea. “Não foi uma escolha minha, nos dois casos, foram a melhor alternativa de acordo com a evolução natural da gestação e do desenvolvimento do bebê”, explica.

Em ambos os casos, ela diz não saber identificar as vantagens, já que teve complicações pós-parto nos dois. “Acredito que em cada ocasião foi feito o que era necessário e a recuperação foi lenta de acordo com o que meu organismo necessitava para se reestruturar”, pondera Vanessa, que no parto normal teve complicações com inflamação dos pontos e constipação intestinal e no cesáreo, teve muita dor na incisão, além de constipação intestinal. “Nesse caso, o leite também demora mais a descer, então tive que me esforçar para amamentar de hora em hora a bebê para não ter hipoglicemia”, recorda.

Cinco partos normais

Mãe de Marina, 19 anos, Saulo, 17 anos, Milena, 16 anos, Raul, 13 anos, e Miguel, oito anos, a chanfradeira Jovanete Garrido Garcia Souza, 49 anos, comemora o fato de ter tido os cinco filhos de parto normal. “Não foi uma escolha, esperamos o tempo previsto e o meu organismo foi respondendo de forma natural de que seria parto normal. Acredito ser também algo da genética, pois a minha família é dotada de mulheres férteis e todas tiveram seus filhos de parto normal”, revela ela, que admite ter desejado realizar cesárea no 5º quinto, pelo fato de na época estar com 40 anos. “Estava insegura, porém, por aconselhamento médico, tive normal e foi bem tranquilo”.

Jovanete é mãe de Marina, Saulo, Milena, Raul e Miguel, e comemora ter tido parto normal em suas cinco gestações

Para ela, não existem desvantagens no parto normal, pelo contrário, Jovanete cita que além da recuperação rápida, tem a questão da saúde do bebê – que são mais calmos e saudáveis. “Já o cesáreo é uma intervenção cirúrgica que acaba de alguma forma agredindo o bebê, e tem sido feito muitas vezes sem necessidade, apenas para facilitar a vida do médico e da mãe que tem medo de sofrer”, conclui.


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