Parcerias batem recorde entre as músicas mais ouvidas em todo o país

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 27 de agosto de 2018 às 12:46
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:58
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Número de reproduções de faixas com participações vem crescendo desde 2016, segundo Playax

Não é só impressão: você está
mesmo ouvindo mais músicas com duas vozes. Ou três, ou quatro. O tal feat
(abreviação de featuring, termo usado para indicar uma parceria musical) virou
regra no mercado.

Levantamento feito com base em listas de músicas mais
populares nas rádios brasileiras desde 2000 mostra que 2018 tem, até agora,
número recorde de gravações do tipo entre as 100 mais tocadas.

Entre janeiro e julho, 32 feats apareceram no top 100
das rádios, segundo o monitoramento da Crowley.

Antes de 2018 e 2017 (com 28
parcerias), o pico de feats entre as mais ouvidas das rádios havia sido em 2013
– ano em que a extinta banda Pollo emplacou em terceiro lugar sua “Vagalumes”,
com participação de Ivo Mozart.

No Spotify, que divulga dados semanais, o número sobe
para 41 parcerias entre as 100 músicas mais ouvidas entre 17 e 23 de agosto,
período mais recente registrado pela plataforma.

Dados da Playax, empresa que analisa a audiência de
música, mostram que, desde 2016, cresceu na internet o número de reproduções de
faixas com participações. O pico foi em dezembro do ano passado, quando plays
de feats representaram 35,6% do total.

Três fatores ajudam a explicar o fenômeno, avalia a gerente de artístico
e repertório da gravadora Som Livre, Tatiana Cantinho:

– A flexibilidade no calendário de lançamentos, gerada pelo
enfraquecimento do CD;

– A necessidade de ampliar a visibilidade de um artista para além de seu
gênero;

– A diluição das “tribos” musicais, que antes ditavam a indústria.

Por trás de tudo isso, a popularização de serviços de música on-line foi
decisiva. Cantinho explica: Lançar faixas com foco no maior número de playlists
possível foi uma dessas adaptações. As listas on-line de músicas ou clipes,
muitas vezes divididas por gênero, viraram filão lucrativo da indústria.
Músicos chegam a pagar para incluir seus vídeos em algumas das mais populares.

Um feat aumenta as chances de uma música entrar em mais playlists. A
mistura de funk e sertanejo, por exemplo, pode entrar em listas dedicadas aos
dois estilos. 

Como nasce um feat?

Funcionou mais ou menos assim com “Fica tudo bem”,
dueto deste ano entre Silva, promessa da MPB eletrônica, e Anitta. “Ela,
com toda sua força midiática, popularizou a MPB de nicho do Silva”,
exemplifica a gerente da Som Livre.

Anitta
não aceita qualquer parceria. “Você tem que saber o motivo de estar
fazendo aquele featuring. Acho errado fazer feat só para ter grandes números”,
disse, em junho.

“Fica tudo bem” partiu de uma vontade de Silva, mas foi negociada
entre a Som Livre, gravadora do cantor, e a Warner, de Anitta, segundo
Cantinho. A próxima aposta da empresa é uma parceria prevista para setembro com
Luan Santana e Jorge e Mateus, todos artistas de seu casting.

Um dos
produtores mais requisitados do sertanejo, Eduardo Pepato diz que, embora não
haja ampla vantagem, a maior parte dos feats surgem hoje por interesse
comercial, mediados por gravadoras ou empresários. Em alguns casos, envolvem
cantores que nem mesmo se conhecem. “Normalmente, esse tipo de parceria
não dá certo”, explica. Para ele, o aumento da frequência de negociações
como essas gera desgaste sobre os cantores.

Por que o sertanejo é líder?

Nas rádios, a maioria esmagadora dos feats no top 100 tem
sertanejos com cantores do mesmo gênero – são 22, entre as 32 músicas na lista.
“O sertanejo criou a força que tem hoje por causa das parcerias”,
afirma Pepato. “Desde o início, o gênero sempre teve a cultura da roda de
viola. A mistura de vozes está na sua essência.”

O ritmo soube trabalhar o formato melhor do que qualquer outro.
“Dentro do mercado sertanejo, artistas de um mesmo escritório acabam se
unindo. E, muitas vezes, os artistas mais novos recebem ajuda dos maiores na
divulgação”, diz Cantinho.

Outros gêneros reconhecem isso. Yuri Martins, produtor de funk que já
trabalhou em parcerias com o sertanejo Lucas Lucco, acredita que “o funk
tem que aprender com o sertanejo sobre como se organizar”. 

O que vem pela frente?

Com a intransponível barreira das parcerias entre sertanejos
e todas as possibilidades de mistura com funk já exploradas, o que pode surgir
de novo em termos de feat?

O pagode pode ser um novo queridinho. “Está se fortalecendo muito o
consumo do gênero nas plataformas de streaming”, afirma Cantinho. Pepato
já produziu parcerias de Marília Mendonça com Péricles e Ferrugem e de Henrique
e Juliano com Sorriso Maroto.

E há a onda dos solitários. Zé Neto e Cristiano, hoje artistas mais
ouvidos no YouTube no Brasil, curiosamente quase não se misturam. Cristiano é
direto: “Nada contra, mas não é o que queremos.”


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