OS DIAS CORRIAM DEVAGAR, SOSSEGADOS…

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 4 de abril de 2016 às 13:44
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:42
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Os dias corriam devagar, sossegados. Sem burburinho. Às vezes era a pipa, todo mundo só pensava em fazer e empinar pipa. As varetas coladas em cruz no papel colorido com grude, uma massa feita no fogão com polvilho.

Quando passava a vez da pipa, chegava a das bolinhas de gude. Verdinhas, leitosas, redondinhas, só se pensava em bolinhas de gude por um bom tempo. O triângulo cortado com o canivete no chão duro de terra e a brincadeira corria solta, despreocupada.

A temporada de futebol na rua chegava e a meninada só pensava nisso: uma bola de meia ou uma bola de cobertão, que era o nome das bolas de couro naquela época. Vamos fazer um campinho? Todo mundo trabalhando duro para fazer as linhas e os gols.

Tinha também o jogo de bola e béti, uma espécie de beisebol tupiniquim com uma casinha de gravetos de cada lado, quatro jogadores, pau de vassoura como bastão. Os dias corriam devagar, sossegados. Sem medo, brincar na rua era normal, pular o muro prá roubar laranjas, chupar jabuticabas no pé, cadeira de salvar. Guerra de estilingue com mamonas, ir a pé prá escola atalhando pelos muitos terrenos baldios, esperando o trem da Mogiana passar apitando na Estação.

“O seu rei mandou dizer que é prá todos se esconder do papão, da meia Lua, da vontade de crescer”. Porque os dias corriam devagar, sossegados…

*Esta coluna é semanal e atualizada às segundas-feiras.


+ zero