O que fazer quando o casal discorda sobre a forma de educação dos filhos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de maio de 2018 às 03:27
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:44
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Discordar é inevitável, mas é preciso estabelecer regras e nunca discutir na frente dos filhos

Quando um casal se
forma, unem-se duas histórias diferentes. As duas pessoas podem até ser do
mesmo bairro e classe social, vir de uma mesma turma desde a infância, mas a
forma como foram educadas dentro de casa é única.

No dia a dia do
namoro e do casamento, as coisas se encaixam e a vida costuma seguir sem
maiores contratempos. É quando chegam os filhos que essas bagagens vêm mais à
tona e, eventualmente, causam divergências.

Em um mundo ideal, o casal teria conversado sobre
todos os aspectos da criação de sua futura prole, do dia do nascimento à
adolescência, antes de os filhos nascerem. Mas, na vida real, sabemos que não é
assim e que as questões são debatidas na medida da necessidade do dia a dia
mesmo.

De acordo com as
especialistas, não é proibido que o casal discorde – isso pode e vai acontecer,
já que cada um vai querer usar o modelo de criação de recebeu. “O que não pode
é divergir na frente da criança, um desautorizar quando o outro a está
orientando”, afirma a psicóloga Tatiana Oliveira Serra, que presta consultoria
e treinamento familiar. “A criança precisa construir uma referência de
autoridade em relação aos dois”.

A psicóloga e facilitadora de constelação familiar
sistêmica Thais Silva, da Clínica Soulleve, acrescenta que é necessário as duas
partes entenderem que os valores que trouxeram de suas famílias de origem não
serão mais dominantes. “A partir do nascimento dos filhos, haverá uma nova
forma de agir na família que se formou. O casal chegará a um ponto em comum,
que pode até ser algo inédito”.

Só entre o casal

Não divergir na frente das crianças não significa
empurrar o assunto para debaixo do tapete e fingir que não existe um problema.
Apenas guardá-lo para um momento oportuno. “Quem não concorda, seja a mãe ou o
pai, vai se segurar e deixar rolar da forma como a outra parte está conduzindo.
Depois, quando estiver só o casal, os dois falam sobre o que ocorreu e qual
seria o meio-termo que deixaria ambos satisfeitos. Na cama, antes de dormir ou
logo ao acordar, é uma boa oportunidade para resolver o problema”, orienta
Thais.

Ela explica que a
principal consequência negativa de não manter uma coerência diante da criança
se reflete no comportamento infantil: “A criança passa a desobedecer os dois
porque não sabe reagir às diferenças dos pais”. Se estiver rolando uma
desobediência generalizada na sua casa, pense se não pode esse ser o motivo.

E se o casal não conseguir chegar a um acordo na
maioria das vezes? “Em casos extremos assim, o ideal é procurar a ajuda de um
treinamento parental. As diferenças serão acertadas com a mediação de um
profissional”, recomenda Tatiana.

Quando ceder

Vamos supor que você discorde demais da forma como
seu parceiro ou sua parceira vê um passeio de seu filho ou sua filha com a
escola; pode ser que você considere a criança muito pequena para ir, enquanto o
outro lado do casal ache que tudo bem. Como saber se você deve ceder ou bater o
pé para que seja feito da sua maneira?

A psicóloga Tatiana responde: “O bem estar da
criança é o limite. Se houver indícios de que uma situação será prejudicial
para ela, não pode ceder. A saúde e a segurança da criança vêm sempre em
primeiro lugar”.

No exemplo do passeio com a escola, portanto, o
ideal é analisar o todo. Haverá monitores suficientes para todas as crianças? O
local é fechado? Há infraestrutura para crianças do tamanho de seu filho ou sua
filha? A segurança é adequada? É um local que costuma receber crianças com esse
perfil sem problemas? Se todas as respostas forem “sim” e você estiver só com
aquela insegurança normal de mãe ou pai, respire fundo e ceda. Se alguma
resposta for “não”, a outra parte é que deverá ceder.

Tanto Tatiana quanto Thais ressaltam que não existe
algo como “cada um cede uma vez” ou “eu cedi na última vez, agora é você quem
cede”. O que existe é o bem-estar pleno da criança e a orientação coerente. Se
a negociação estiver difícil, fica novamente a dica: procurem o auxílio de
terapia de casais ou terapia familiar para aparar as arestas mais resistentes.

Por fim, enquanto não houver uma decisão do casal, é
melhor não passar nada para a criança. Ficaram de decidir sobre a compra de um
game ou uma boneca, por exemplo, mas ainda estão debatendo entre vocês como
resolverão? Nada de responder “A mamãe quer, mas o papai não está deixando”
quando houver uma cobrança do pequeno sobre a questão. A resposta ideal é na
linha de “A mamãe e o papai estão conversando e, quando decidirmos, falaremos
pra você”.

Esse tipo de
atitude, inclusive, auxiliará seu filho ou sua filha a participar do processo
de tomadas de decisão com responsabilidade no presente e no futuro. “Quando os
pais focam a criação do filho ou da filha no que é melhor para seu
desenvolvimento, deixando de lado até as projeções que fizeram sobre
determinadas situações, a adaptação ao mundo é mais simples. É evitada a rebeldia
na adolescência. São criados cidadãos com autonomia e senso crítico”, resume
Thais.


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