Número de trabalhadores no setor calçadista no RS cai 4,4% em um ano

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 27 de setembro de 2018 às 15:59
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:02
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Mercado mais enxuto e reação em nível aquém do esperado levam empresas a reduzir operações

O fechamento de fábricas em sequência encolheu o número de trabalhadores do setor calçadista no Rio Grande do Sul. Em agosto deste ano, o segmento empregava 93,3 mil pessoas no Estado, marca 4,4% inferior à de igual mês de 2017, quando havia 97,6 mil. A estatística foi elaborada pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

No país, a queda, em termos percentuais, foi um pouco menor. Em agosto passado, o setor reunia 287,9 mil funcionários, número 3,3% abaixo do que em igual mês de 2017, aponta a Abicalçados, que tem sede em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.

Para analistas, a sequência de cortes nas empresas pode ser interpretada como um dos rescaldos da recessão, que derrubou o consumo em diversas áreas. Com o enxugamento do mercado e a retomada da economia em nível aquém do esperado em 2018, as companhias tiveram de diminuir as operações, dizem especialistas.

— As dificuldades internas causaram perda de renda da população. Isso reduziu a demanda por calçados — diz Heitor Klein, presidente-executivo da Abicalçados. 

Professor da Unisinos, o economista Marcos Tadeu Caputi Lélis acrescenta que, além das dificuldades internas, turbulências no cenário internacional vêm atingindo as fábricas, mesmo com a recente disparada do dólar, que, em tese, poderia beneficiar segmentos exportadores. Segundo a Abicalçados, o Estado respondeu, em agosto, por quase 47% das vendas internacionais registradas pelo setor calçadista no país.

— O dólar mais alto poderá ter efeitos positivos, mas só a partir da próxima temporada, cujos embarques serão registrados a partir de dezembro — completa Klein.

No acumulado dos oito primeiros meses de 2018, as exportações do Rio Grande do Sul somaram 18 milhões de pares, somando US$ 293,5 milhões. 

Os resultados equivalem a recuo de 1%, em volume, e de 2,3%, em receita, em relação a igual período de 2017. No Brasil, as exportações também ficaram no vermelho, com baixa de 10,3% na quantidade de pares e de 10,2% nas vendas no acumulado do ano.

A apreensão do setor com o ambiente internacional cresceu nos últimos meses com a crise na Argentina. O temor é sentido porque o país vizinho é o principal destino, em volume, das exportações de calçados do Rio Grande do Sul e do Brasil, conforme a Abicalçados.

— A Argentina tem registrado desvalorização da moeda local. Isso torna o calçado brasileiro mais caro e deve afetar as exportações nos próximos meses — menciona Lélis.

Presidente do Sindicato dos Sapateiros de Parobé, João Nadir Pires também considera que os recentes cortes nas fábricas do Estado resultam de dificuldades de consumo em todo o país. 

— Preços de itens como gás e luz, por exemplo, vêm subindo muito. É natural que haja queda no consumo entre os trabalhadores. As pessoas não estão comprando tanto — avalia Pires, que também atua como presidente interino da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Calçado e do Vestuário do Estado.

Expectativa de mais ajustes

Considerado um dos motores da geração de empregos na indústria gaúcha, o setor calçadista vê incertezas para o restante do segundo semestre, tanto no horizonte interno quanto no ambiente externo. Para analistas, a situação pode resultar em novos cortes de vagas nas fábricas nos próximos meses.

— O segundo semestre ainda terá ajustes. O setor não está fora do padrão do restante da economia brasileira, que está andando de lado e não consegue deslanchar — diz Marcos Tadeu Caputi Lélis, economista e professor da Unisinos.

No Exterior, uma nova lei nos EUA prevê a redução de tarifas de importação para diversos produtos, inclusive calçados. A medida pode se estender até o fim de 2020. Hoje, o mercado americano é o segundo principal destino das exportações de calçados brasileiros. 

— É um estímulo geral, não só para o Brasil. Não dá para esperar tanto retorno — pondera Lélis.

Apesar das dificuldades, o presidente do Sindicato dos Sapateiros de Parobé, João Nadir Pires, espera que datas como o Natal causem efeitos positivos nas vendas e, consequentemente, possibilitem novas contratações.

(Com GaúchaZH)


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