Novo medicamento no país tornará controle do diabetes mais eficiente

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 6 de setembro de 2018 às 21:33
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:59
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Pesquisadores brasileiros criaram droga que combina amilina humana com insulina

Imagine as duas faces de uma
moeda. É como funcionam a insulina e a amilina no organismo. Ambas são
produzidas pelas células beta no pâncreas e trabalham numa espécie de parceria
no que diz respeito ao metabolismo dos carboidratos.

A insulina permite que o
açúcar que está presente no sangue penetre nas células para ser utilizado como
fonte de energia. Se esse hormônio falta ou não funciona corretamente, haverá
aumento de glicose no sangue, que é o diabetes.

A amilina, por sua vez, é o
“hormônio parceiro” que envia sinais de saciedade ao cérebro, para que ninguém
coma sem parar, assim como retarda o esvaziamento gástrico do estômago, para
evitar a ingestão excessiva de calorias – do contrário, não haveria insulina
que desse conta de tanto açúcar!

No entanto, apesar dessa
complementaridade, o tratamento para o controle do diabetes se vale apenas da
reposição de insulina, deixando de lado a reposição da amilina. E por quê? 

Quem
explica é o médico e pesquisador Paulo Lacativa, mestre e doutor em
endocrinologia pela UFRJ. “A grande dificuldade sempre foi desenvolver um
medicamento à base de amilina humana, que é bastante insolúvel. Em poucos
segundos, ela começa a se aglomerar e vira algo parecido com uma bolota. Por
isso, já houve uma tentativa de pôr um produto análogo no mercado, conhecido
como pramlintide, nos EUA e na Europa. Entretanto, seu uso não era o que se
poderia chamar de amigável para o paciente. A amilina tinha que ser
administrada separadamente da insulina, o que significava até sete picadas por
dia. Sem contar que usar as drogas de forma independente resultava num
desbalanceamento difícil de equilibrar”, diz.

Ele afirma que o grande
desafio é o que os médicos chamam de repor a fisiologia do paciente: “é o
equivalente a restaurar um estado de saúde. Um exemplo simples é o indivíduo
com hipotireoidismo, que deixa de produzir o hormônio necessário. No entanto,
basta que seja feita a reposição com a dose correta para ele se comportar como
alguém saudável. O mesmo não acontece com o paciente diabético, porque ele se
desestabiliza facilmente. O simples uso de insulina não permite que se comporte
como as pessoas sem a doença, e sua reposição intensiva causa aumento do peso e
risco de hipoglicemia. Portanto, tratar os pacientes com insulina e amilina
seria o caminho para uma maior estabilidade fisiológica”.

A ótima notícia é que essa
situação está em vias de mudar, graças ao trabalho da equipe do pesquisador. Os
estudos começaram no laboratório da UFRJ, sob o comando do professor Luís
Maurício Lima, e se tornaram tão promissores que foi criada uma startup que
conta com o financiamento de um fundo de investimentos para ciência de ponta,
do qual participam BNDES e Finep, entre outros. “Foram duas grandes
descobertas”, afirma o doutor Lacativa. “A primeira é poder usar a amilina humana.
A segunda é conseguir colocar a amilina e a insulina juntas, de forma que a
aplicação seja única. Existem vários tipos de insulina sintética, que imitam a
ação do hormônio natural do corpo, e não haverá incompatibilidade com nenhuma
delas”, completa.

O futuro medicamento foi batizado como BZ043 e será mais
uma boa nova na XXXIII Reunião Anual da FeSBE (Federação de Sociedades de
Biologia Experimental), que se encerra hoje em Campos de Jordão. A próxima fase
será a de realização de estudos com função regulatória. Segundo o doutor
Lacativa, os testes com humanos serão feitos em cerca de seis meses e a
expectativa é de a medicação estar disponível no mercado em três ou quatro
anos. De acordo com o portal da Fiocruz, os dados da Organização Mundial de
Saúde (OMS) apontam que 16 milhões de brasileiros sofrem de diabetes, e a taxa
de incidência da doença cresceu 61,8% nos últimos dez anos. O Rio de Janeiro
aparece como a capital brasileira com maior prevalência de diagnóstico médico
da doença, com 10.4 casos a cada 100 mil habitantes. O diabetes é uma epidemia
global e o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking dos países com o maior número de
casos, atrás de China, Índia e Estados Unidos.


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