Novo currículo do ensino médio exigirá mudança na formação do professor

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de abril de 2018 às 22:08
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:40
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Formação de professores deverá ser integrada, de acordo com especialistas na área de Educação

O sucesso da
implementação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio
passará por mudanças na formação de professores e adaptações nas escolas,
apontam especialistas.

O documento, que vai
orientar os currículos dessa etapa e estabelecer as habilidades e competências
que devem ser desenvolvidas pelos alunos ao longo do ensino médio em cada uma
das áreas, foi entregue na última terça-feira, 03 de abril, pelo Ministério da
Educação (MEC) ao Conselho Nacional de Educação (CNE).

A BNCC do ensino médio é organizada por áreas do conhecimento:
linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. Apenas as
disciplinas de língua portuguesa e matemática aparecem como componentes
curriculares, ou seja, disciplinas obrigatórias para os três anos do ensino
médio. Os alunos deverão cobrir toda a BNCC em, no máximo, 1,8 mil horas. O
tempo restante deve ser dedicado ao aprofundamento no itinerário formativo de
escolha do estudante.

Para o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos,
essas mudanças vão exigir muito investimento na formação de professores e um
“repensar da formação de professores no Brasil” para que haja uma integração
entre as disciplinas. “Quando você faz um trabalho por área de conhecimento que
reforça o caráter da interdisciplinariedade, você tem que investir muito na
formação de professores. Hoje, como o professor de química é formado sem ter um
diálogo direto com o professor de física ou biologia, que fazem parte da mesma
área de conhecimento, por exemplo, agora para dar conta desse novo ensino
médio, eles terão que se integrar já dentro da universidade”, diz.

Segundo ele, a
mudança vai ter impacto nos currículos das licenciaturas. “As coordenações
dessas áreas vão ter que sentar e repensar. Não é que não vai mais ter
professor de química, física e biologia, mas vai ter que haver um esforço para
integrar esses conhecimentos”, diz.

A formação dos professores deve ser priorizada também na visão
da pedagoga Anna Helena Altenfelder. “Não só os professores, mas toda a
estrutura da escola que hoje é pensada por disciplina e não por área de
conhecimento. Então, temos um desafio grande”, diz a presidente do Conselho de
Administração do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária (Cenpec).

Ela também aponta um possível acirramento das desigualdades na
educação como um dos riscos da nova base para o ensino médio. “Sabemos que os
estados têm condições diferentes tanto técnicas como financeiras para construir
seus próprios currículos. Então, a questão dos itinerários deve ser melhor
definida em um apoio maior para os estados”, diz. O MEC se comprometeu a
elaborar um guia de orientações para ajudar os estados na elaboração dos
itinerários formativos.

Aperfeiçoamentos

A BNCC do ensino médio deverá ser analisada e aprovada pelo CNE
e homologada pelo MEC antes de o documento começar a valer. O conselho irá
fazer uma consulta pública em plataforma digital e audiências para colher
sugestões da sociedade antes de submeter o texto à avaliação dos conselheiros.

A presidente executiva do movimento Todos pela Educação,
Priscilla Cruz, considera que o CNE deve especificar melhor a forma como as
redes vão se organizar, além de estabelecer o que é obrigatório ou não e deixar
mais clara e objetiva a redação das habilidades previstas para serem alcançadas
pelos alunos. “Há uma impressão que o ensino médio está ‘menor’ pela falta de
objetividade nas habilidades, é muito dependente da implementação pelos
estados, não há um plano de implementação progressiva que ajude as redes a se
ajustarem”, diz.

No entanto, ela
considera positivo fato de o texto prever a formação mais integrada,
“direcionando para mais profundidade, recomendando outros espaços de
aprendizagem e formatos de aula, dando características juvenis ao ensino
médio”.

O conselheiro do CNE
Cesar Callegari, presidente da comissão que vai analisar a BNCC, também
considera que o colegiado terá que complementar o texto entregue pelo MEC. “A
base está incompleta, está um documento bastante genérico e, no meu modo de
entender, não atende às expectativas e necessidades do ensino médio no Brasil”,
diz.

O Ministério da Educação já instituiu o Programa de Apoio à
Implementação da Base Nacional Comum Curricular para apoiar os estados no
processo de revisão ou elaboração e implementação de seus currículos alinhados
à BNCC. Segundo o MEC, no primeiro ano de execução, serão repassados às
secretarias estaduais cerca de R$ 100 milhões para a implementação da base.


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