No interior de Minas Gerais, crianças estão sem aulas desde março

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 17 de julho de 2018 às 06:55
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:52
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Crianças mineiras pagam conta da crise fiscal do Estado, algumas sem aulas desde março

As crianças mineiras estão pagando a conta da crise fiscal do Estado. Há aquelas que estão sem aulas desde março e outras que, uma vez por mês, sempre que o salário de seus professores atrasa, também precisam ficar em casa por causa da greve dos docentes.

O Estado vive um caos financeiro, admite o próprio secretário da Fazenda de Minas, José Afonso Bicalho. Uma combinação de crise econômica, que freou a arrecadação, com explosão da folha de pagamentos levou Minas à crise fiscal atual, que já se assemelha à do Rio à do Rio Grande do Sul.

Na região mineira próxima a Franca estão prejudicados os atendimentos em cidades como Cássia, Passos, Ibiraci, Delfinópolis, Delta, Conquista, Sacramento, Claraval, São Tomás de Aquino, Paraíso, São João Batista do Glória, Capetinga, Pratápolis, Itaú, São José da Barra, Monte Santo e Itamogi, entre outras.

Na área da educação, o caso mais grave é na região do Vale do Mucuri, no nordeste de Minas. Lá, o transporte escolar, pago pelo Estado e operado pelos municípios, foi cancelado. Na cidade de Ladainha, onde a zona rural corresponde a 75% do município, o combustível para os ônibus escolares acabou em março e as crianças não conseguem chegar até as escolas, que atendem cerca de 3 mil alunos.

A agricultora Rosa Alves, de 42 anos, não sabe se os quatro filhos vão conseguir voltar às aulas até dezembro. “A gente sempre trabalhou na roça e sabe que a vida é muito difícil para quem não tem instrução. Queria que as minhas crianças tivessem uma vida mais fácil do que a minha, mas isso parece cada dia mais difícil. Todo dia, me perguntam quando vão voltar para a escola.”

“Este ano letivo já está praticamente perdido para as crianças”, diz o prefeito, Walid Nedir (PSDB). “Recebemos a verba do ano passado atrasada em fevereiro e conseguimos comprar combustível até março. Depois disso, ficamos sem condições. Como a maioria mora longe da escola, não vale a pena manter as aulas.”

O presidente da Associação Mineira de Municípios, Julvan Lacerda, prefeito de Moema pelo PMDB, afirma que R$ 6,7 bilhões em repasse às cidades do Estado estão atrasados. “Cerca de 70% dos municípios têm menos de 12 mil habitantes e dependem da verba repassada pelo governo estadual.”

Paralisação

Desde o último dia 6, os professores do Estado estão em greve. Em junho, eles também já haviam parado por 15 dias. “Já houve seis paralisações neste ano”, conta a professora Maria Luiza Mota, de 59 anos. Na última sexta-feira, ela recebeu R$ 1,5 mil, pouco menos da metade de seu salário. Até junho, o governo fazia, no início do mês, um pagamento de R$ 3 mil a todos os servidores – aqueles com salários maiores recebiam outras parcelas depois. Neste mês, a situação se agravou e o valor foi reduzido pela metade. “A gente paga nossas contas com juros, não tem outra solução”, diz Maria Luiza.

A professora tem ainda um consignado cujas parcelas são de R$ 235. Apesar de o governo estar descontando o valor do salário de Maria Luiza, tem atrasado o repasse para o banco. “Todo dia, recebo ligação de cobrança.”

A situação dos professores aposentados é ainda mais delicada. No começo de junho, quando deveriam ter recebido a primeira parcela do benefício, caíram só R$ 500 em suas contas bancárias. Segundo o governo, a greve dos caminhoneiros fez com que a arrecadação nos dez primeiros dias daquele mês diminuísse em R$ 340 milhões, prejudicando os pagamentos dos servidores inativos.

“Chorei quando vi só R$ 500 depositados. A dignidade vai lá embaixo. Enquanto isso, nos outros poderes, todo mundo ganha aumento”, diz a aposentada Rita de Cássia Gieseke, de 68 anos.


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