Morre Clovis Ludovice: Franca perde o educador e um construtor de sonhos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 4 de outubro de 2019 às 16:29
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:53
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Internado com pneumonia, Clovis Eduardo Ludovice teve complicações pulmonares e não resistiu

​O professor e empresário Clovis Eduardo Ludovice, de 79 anos, faleceu na noite desta sexta-feira, 04 de outubro, às 21h30, no Hospital São Joaquim.

Ele foi internado na semana passada para tratar uma pneumonia. Seu quadro se agravou e ele foi para a UTI.

Nos exames clínicos apareceu também uma fibrose pulmonar, o que já dificultava a recuperação.

A própria pneumonia já era grave, mas ela desencadeou outras complicações, principalmente respiratórias.

A gravidade do quadro se ampliou com a paralisia gradual dos órgãos vitais do organismo, até provocar o óbito.

Clovis Eduardo Pinto Ludovice foi um construtor de sonhos.

Com sangue de origem portuguesa e definição brasileira, tudo na vida de Clovis Ludovice, dos sonhos às realizações, foi superlativo.

Ele criou um dos maiores sistemas educacional do estado de São Paulo e do Brasil, colocando Franca no alto cenário do ensino médio e superior.

Pelos 42 cursos superiores de graduação, 50 cursos de especialização “lato senso”, quatro cursos de mestrado, um doutorado “stricto senso” na área de saúde e pelos 93 polos de Ensino à Distância que criou passaram mais de 70 mil alunos.

São famílias francanas e brasileiras que têm profissão e opções de crescimento alicerçadas na formação possibilitada pela visão de um homem que, desde cedo, teve a premissa de que qualquer transformação humana se daria pelo conhecimento adquirido na educação.

Filho de Olavo Gouvêa Ludovice e Anna Teixeira Pinto, Clovis nasceu em São Carlos, mas se transformou em cidadão francano por lei de 1987 e em cidadão rifainense por lei de 1995.

Se formou em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto e em Pedagogia – Administração Escolar pela Universidade de Franca.

Fez pós-graduação em Relações Internacionais e Psicopatologia Forense pela Universidade de São Paulo.

Pai de Fernanda Ludovice Garcia, Frederico Ludovice, Fabrissa Ludovice de Souza e Felipe Ludovice, foi casado, desde 31 de janeiro de 2004, com Maria Teresa Segantin Ludovice, diretora geral da Escola Toulouse Lautrec.

Vinda para Franca

A mãe Anna e os irmãos Anna Lúcia e Niuro Luiz, em foto de 1953

A chegada e o estabelecimento de vida em Franca têm origens familiares e indicação e desejo de muitos amigos.

Seu avô paterno se casou na Igreja Nossa Senhora da Conceição e seu pai estudou o curso ginasial no Colégio Champagnat, na década de 20 do século XX.

Com laços familiares fortes na cidade, por conta de seus primos, como Sérgio Du Val, Clovis Ludovice tinha intensa convivência com os doutores Alfredo Palermo, Baldijão Seixas, William Wanderley Jorge e Ricardo Pinho, que eram professor da UNAERP, onde ele era Assessor Administrativo.

Também tinha excelente relacionamento com Zézinho Luz e Braguinha, ambos do Cartório de Registro Civil e de Imóveis.

Corria o ano de 1969 quando Clovis Ludovice chegou a Franca, com 29 anos de idade e muita energia para transformar em realidade o sonho de contribuir para uma sociedade melhor e mais justa.

Nesse mesmo ano iniciou a criação da Associação Cultural e Educacional de Franca, mantenedora da UNIFRAN.

Como trazia em si o exemplo de seu pai e sua mãe, que eram professores, e como tinha passado sua infância dentro de escolas, vendo-os ministrarem aulas, começou cedo sua carreira no ensino.

Dava aulas de História em escolas de ensino médio e em cursinhos para Medicina, Direito, Engenharia.

Ao mesmo tempo, dava aulas de OSPB e de EPB em cursos superiores.

Nada melhor sem mim

Clovis Ludovice foi uma pessoa determinada e disciplinada no caminho que estabeleceu para si e para os que lhe são próximos.

Seu lema de sempre foi: “Não faria nada melhor sem mim”.

Por isso, disse que não mudaria uma vírgula de sua trajetória, pois atingiu o máximo do que se estabeleceu.

 Clovis com os filhos Fredy, Fabrissia, Fernanda e Felipe

Mas ainda continuou sonhando e esperando crescer dentro da evolução de Franca.

Quando chegou aqui, em 1969, a cidade tinha 90 mil habitantes, e ele começou suas atividades com 100 alunos.

Logo atingiu 2.800 alunos, que era o número ideal. “Mas o progresso obrigou-se a crescer e a crescer, mesmo porque a cidade tem mais de 350 habitantes”, disse ele recentemente, reforçando o lema que teve bem guardado no seu íntimo.

Ao lado de sua atuação como empresário no setor educacional, Clovis Ludovice teve a grandeza da ação social, que tentou esconder como se fosse um segredo.

O máximo que se permitiu foi divulgar as ações culturais que desenvolveu como diretor e chanceler da UNIFRAN, como a criação da Casa da Cultura de Franca, que assumiu e catalogou toda a obra do pintor italiano radicado em Franca, Bonaventura Cariolato.

Também foi ideia e ação sua, junto com o professor Everton de Paula, a criação da Academia Francana de Letras, que reuniu os expoentes da nossa literatura para manutenção de suas obras e incentivo de suas produções.

Criou a emissora de rádio FM, que servia de piloto para os alunos do curso de Comunicação, assim como criou e instalou a escola “Descobrindo o Mundo”, destinada a crianças com necessidades de atenção especial.

Mas um levantamento básico dá um indicativo de sua ação. Seus estabelecimentos chegaram a ter 1.100 professores e funcionários registrados e todos eles tinham bolsas de estudo integrais para a família.

Também concedeu bolsas de estudo para os atletas da Prefeitura de Franca.

Com muitas Prefeituras da região, incluindo as paulistas e mineiras, ele firmou convênios, concedendo grandes descontos por aluno.

A primeira cidade a entrar nesse programa foi Rifaina, através do vereador Antonio Carlos Marcelino, o Carlinhos da Saúde.

Portanto, juntando com as bolsas concedidas para famílias carentes, a previsão é de que a UNIFRAN tenha atendido mais de 10 mil alunos com suas bolsas, número maior do que a população de muitas cidades da região.

Novos horizontes

Depois de 47 anos de trabalho em favor da educação, Clovis Ludovice esteve no centro de discussões que envolveram a transferência da UNIFRAN para novos controladores.

Ele era, há 31 anos, Diretor Financeiro do Sindicato de Ensino Superior do Estado de São Paulo, quando foi procurado por uma grande organização universitária que, junto com dois grandes fundos de Previdência, um inglês e outro chinês, se ofereceram para gerir a UNIFRAN.

Como o coração estava enraizado na sua grande edificação, Clovis Ludovice permaneceu com suas ações englobadas nessa direção.

Após o prazo estabelecido em contrato, ele optou por continuar apenas com a alta função de Chanceler Fundador da UNIFRAN, sem remuneração.

Manteve a propriedade de todo o Campus Universitário e suas dependências originais de trabalho, que ocupou até o dia de sua enfermidade.

Isso foi tão sério para ele, que fez questão de constar no contrato firmado na transação com a Cruzeiro do Sul e composição com os fundos de Previdência.

O trabalho realizado por Clovis Ludovice não tem paralelo na história francana.

De uma ideia genuína e, certo de que a construção de um futuro melhor para as pessoas passa pela educação, Clovis trabalhou muitas vezes sozinho, dia, noite e madrugada para concretizar esse ideal.

Os amigos que o conheciam da UNAERP e confiavam no seu trabalho lhe deram apoio suficiente para vencer os primeiros desafios. 

E a ligação desse visionário com a terra francana fez com que ele mantivesse as raízes na cidade, de onde continuar a descortinar o futuro.

A Associação Cultural e Educacional de Franca que ele criou completa 50 anos, assim como ele completou 50 anos de vida educacional,

Na sua última grande entrevista, para a revista Enfoque, Clovis Ludovice fez uma reflexão:

Disse que tinha uma gaveta no criado-mudo onde guardava seus sonhos de criança: seu pião, suas bolas de gude, seu ioiô e seu bilboquê.

“Sempre abro e vejo aqueles e percebo que ainda eu tenho outros sonhos: estar sempre ligado no estro social que me acompanha junto com minhas bolas de gude: o de fazer mais missões que Deus me deu, e vou fazendo-as no dia a dia em que aparecem estendendo a mão a mim e a minha esposa Maria Teresa”.

O velório de Clovis Ludovice está sendo realizado no anfiteatro da Unifran e foi  aberto à visitação às 06h.

O sepultamento será realizado às 15h30 no Cemitério da Saudade, no centro.