Metade dos profissionais do Mais Médicos vai deixar os postos em Minas Gerais

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de novembro de 2018 às 12:25
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:10
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No Estado, 285 cidades têm pelo menos um especialista estrangeiro

Minas vai perder metade dos profissionais que atuam no Mais Médicos. Exatos 608 cubanos, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), estão prestes a deixar o programa, após decisão tomada pelo país de origem dos contratados.

A ruptura do convênio, que afeta todo o Brasil, foi anunciada ontem pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Ainda não se sabe quando eles deixarão os postos de trabalho.

No Estado, 285 cidades têm pelo menos um especialista estrangeiro na equipe de saúde da família. Apesar de o Ministério da Saúde garantir que as vagas serão repostas, a falta de informações sobre o futuro da iniciativa deixa os gestores apreensivos.

“É preciso uma ação rápida, pois se os cubanos saírem, muitos pacientes ficarão prejudicados. Hoje, quem paga o salário deles é o governo federal, nós não temos como arcar com esse custo”, afirmou o presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Julvan Lacerda.

Prefeito de Moema, na região Centro-Oeste, ele afirma que os dois estrangeiros que atendem usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) na localidade estão ansiosos. “Querem ficar, já estão entrosados com as pessoas”.

Embora considere ideal a colocação de médicos brasileiros nos postos de saúde, Julvan acredita ser necessária a criação de iniciativas que contemplem a formação de mais profissionais. É, inclusive, o que defende o professor da UFMG Cornelis Van Stralen, especialista em gestão pública de saúde. 

“A quantidade de cubanos em Minas é considerável, e eles estão em locais onde dificilmente os brasileiros iriam, o acesso à saúde foi ampliado. A retirada pode gerar um grande problema, uma parcela de municípios pode ficar sem atenção médica”, avaliou Stralen.

A presidência do Conselho Regional de Medicina (CRM) de Minas foi procurada, mas não foi localizada.

1.289 profissionais atuam no programa mais médicos em Minas, beneficiando cerca de 4,5 milhões pessoas, conforme dados do Ministério da Saúde

Decisão polêmica

Ao anunciar que deixará de fazer parte do Mais Médicos, o governo de Cuba alegou que as exigências feitas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, são “inaceitáveis” e “violam” acordos.

Segundo o novo chefe do Executivo nacional, a permanência dos estrangeiros está condicionada à realização do Revalida, exame aplicado aos médicos que se formam no exterior e querem atuar no Brasil.

À tarde, Bolsonaro voltou a se manifestar pelas redes sociais afirmando que não irá suspender o programa. “Estamos formando, tenho certeza, em torno de 20 mil médicos por ano, e a tendência é aumentar esse número. Nós podemos suprir esse problema com esses médicos. O programa não está suspenso, (médicos) de outros países podem vir para cá. A partir de janeiro, pretendemos, logicamente, dar uma satisfação a essas populações que serão desassistidas”.

Edital

Após o anúncio do fim da parceria entre os governos brasileiro e cubano, o Ministério da Saúde informou que irá lançar, nos próximos dias, edital para médicos brasileiros que queiram assumir as vagas que serão abertas. De acordo com a pasta, será priorizada a convocação dos candidatos formados no território nacional. Em seguida, de quem foi diplomado no exterior.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que já vinha trabalhando, desde 2016, na redução de profissionais estrangeiros no programa. Há dois anos, 11.400 cubanos estavam vinculados à iniciativa. Atualmente, 8.332 das 18.240 vagas do Mais Médicos são ocupadas por eles.

Professor da UFMG, Cornelis Van Stralen diz ser necessário criar estratégias para atrair recém-formados em medicina para atuar em cidades distantes e mais carentes. Segundomuitos profissionais que estudam nos grandes centros preferem ficar nesses locais. “Havendo atratividade, os novos poderão ir para outros municípios. Eles poderão se especializar e suprir a necessidade de atendimento à saúde”, frisou.

Por sua vez, o Ministério da Saúde informou que estuda a negociação com alunos formados por meio do Programa de Financiamento Estudantil (Fies). “Essas ações poderão ser adotadas conforme necessidade e entendimentos com a equipe de transição do novo governo”.

( * Com Agência Brasil)


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