Materiais apreendidos pela Receita Federal viram objeto de vários estudos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 1 de julho de 2018 às 14:07
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:50
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Impressoras, smartphones, tablets e até cabelos naturais são doados e contribuem em pesquisas

O laboratório do professor Fábio Siviero se tornou uma espécie de oficina. As formigas, que são seu principal objeto de estudo, dividem o espaço com sprays, cola, tintas, espátulas e filamentos. Esses materiais são usados para a produção de modelos de embriões, células e tecidos por impressão 3D.

A ideia surgiu porque o acervo do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, ao qual o professor é vinculado, tem várias peças danificadas, impedindo que os alunos possam manipulá-las e entender as estruturas. Além de produzir essas peças com materiais mais resistentes e com custo bem menor do que as peças antigas, Siviero também criou novos modelos.

Por exemplo, o de uma célula de Purkinje, que integra nosso cérebro e é caracterizada por diversas ramificações. Os modelos produzidos pelo professor Siviero estão disponíveis para download sob licença da Creative Commons. Para criar as peças, Siviero utiliza dois modelos de impressora 3D. Uma delas foi adquirida por meio de um edital da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São Paulo (USP) e a outra, doada pela Receita Federal.

“Identifiquei por algumas etiquetas desse acervo que ele foi confeccionado por artesãos dos anos 30. Peças foram rachando, quebrando, craquelando. A ideia então seria escanear, ou modelar novamente, esses modelos de embriões e fazer por impressão”, explica.

A parceria da USP com a Receita é liderada pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, que formou uma comissão de professores para gerenciar as doações e sua distribuição às diversas unidades da Universidade. Há um site disponível via intranet com a lista dos materiais disponíveis para doação.

“Essa parceria foi feita através de uma comissão de professores, que ajudam no recebimento e na distribuição desse material que é apreendido e nos é doado. Temos muito material de informática, monitores, tablets, smartphones e até cabelo humano, que também é utilizado em pesquisas científicas”, diz Claudimara Lotfi, coordenadora da comissão ICB da Receita Federal.

Até 2017, mais de R$ 13 milhões já haviam sido doados em forma de equipamentos para estudos e pesquisas. O diretor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, professor Luís Carlos de Souza Ferreira, explica que vários laboratórios já foram beneficiados, inclusive no norte do país.

“O ICB tem uma unidade na Amazônia, em Monte Negro, onde presta assistência social, e toda uma área de tratamento oftalmológico foi beneficiada com equipamentos recebidos da Receita”. Ele cita ainda o Museu de Anatomia Humana, que recebeu tablets doados. Os equipamentos ajudam os visitantes a identificar e entender os itens em exposição.

Segundo o chefe do Serviço de Gestão de Mercadorias Apreendidas da Receita Federal em São Paulo, Sérgio Policastro, “a USP é um parceiro estratégico, por abranger muitas áreas do conhecimento e ter, por isso, um potencial muito grande de aproveitar o material”.


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