Mariana se recupera da tragédia com a ajuda de voluntários de todo Brasil

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  • Publicado em 7 de dezembro de 2015 às 17:27
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:32
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Um relato abrangente de uma francana que está trabalhando como voluntária na região

​Janaina Leão, de Barra Longa

Estou em Barra Longa, Minas Gerais, distrito que fica a 30 quilômetros de Mariana, trabalhando como voluntária. A situação aqui ainda é caótica, mas o pior já passou, que foi tirar a lama das casas. As pessoas que entram em contato com esta lama adquirem dermatites, entre outros problemas de saúde. Por isso, a maioria das pessoas têm usado botas de plástico. Muitos animais morrendo atolados na lama ou intoxicados por ela.

Os donativos que chegam de todas as partes do país estão sendo distribuídos, mas existem locais, como na zona rural, em que os caminhões baú não chegam. Então, este transporte está sendo feito em doses homeopáticas pelas caminhonetes disponibilizadas pela Samarco. Estou junto do pessoal do Servas – Serviço Social de Assistência Voluntária. Estou hospedada numa única pensão da cidade, junto da responsável do Servas aqui,  Gabriela Gomes Cardoso, que mora em Belo Horizonte. A cidade necessita de muitos voluntários, porém não tem onde hospedá-los. Muitos vêm de Belo Horizonte pela manhã e voltam no mesmo dia à tarde ou à noite.

Muitas doações estão sendo perdidas por conta de validade. Mas o lamentável é que outras sendo desviadas por quem tem acesso ao galpão, onde a maior parte está armazenada. A prioridade da Samarco é reestabelecer o centro comercial do lugar. Por isso, caminhões e tratores circulam o dia todo retirando e transportando lama que, além de tóxica, está por todo lado.

Esta foto mostra o que era uma escolinha. Tudo foi perdido. Na marca da parede vocês podem ver até que altura o rio subiu. Muitos animais estão mortos, muita disputa política e religiosa na distribuição dos donativos e muito cansaço dos moradores. Os três únicos psicólogos que a Samarco contratou, para uma população de mais de 250 pessoas atingidas, ficam de plantão no hotel ao invés de ir atrás dessas famílias para dar o apoio necessário. Os voluntários do Servas são os que se mostram mais comprometidos e organizados. A cidade precisa de mão de obra voluntária, porém não tem onde hospedá-la: todas as pousadas e hotéis da cidade estão abarrotados de desabrigados. Estou no meu segundo dia aqui.

Tudo ao redor vai virar deserto. Aí na beirada do rio tem muita capivara morta atolada. Não cheguei mais perto, pois não é seguro. A lama afunda para mais de dois metros. Não há segurança no caminhar.

Dizem que a água que abastece Barra Longa vem de outro rio, pela Copasa. Mas já vi mais de 30 pessoas com dermatite e que não entraram em contato com a lama. Especula-se que a água também está contaminada, mas só saberemos daqui a alguns meses. Existe uma dificuldade enorme de se comprovar certas coisas, pois o prefeito não ajuda. Ontem mesmo, ele dispensou veterinários e remédios para animais que vinham de Mariana. Segundo ele, o lugar não precisava.

Enviarei mais informações assim que puder.


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