Lotérica, patente, fim do desemprego: pedidos que incomodam Bolsonaro

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 31 de julho de 2020 às 12:05
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:02
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Presidente diz que não pode ouvir todos e já ameaçou parar de falar com os apoiadores

Presidente Jair Bolsonaro ouve apoiadores: alguns pedidos irritam o presidente

Do fim do desemprego à cura para o coronavírus, passando pelo desrespeito a uma patente e pela briga de sócios em uma lotérica, o presidente Jair Bolsonaro tem ouvido uma série de pedidos, sugestões e reclamações em suas interações diárias no Palácio da Alvorada. 

Alguns dos pedidos incomodam Bolsonaro, que diz que não pode ouvir todos e já ameaçou parar de falar com os apoiadores. Até agora, contudo, o presidente segue cumprimentando os eleitores e tirando fotos, mesmo que às vezes em tom protocolar, informam os repórteres Daniel Gullino e Gustavo Maia, do jornal “Extra”.

Na última segunda-feira, por exemplo, primeiro dia após o fim do isolamento forçado pelo coronavírus, Bolsonaro ouviu um dos visitantes dizer que tinha uma receita misteriosa para acabar com o desemprego — algo que ele já havia dito a Bolsonaro em outras oportunidades. Irritado, o presidente afirmou que se fosse atender todos os apoiadores teria que “montar um escritório” ali.

“Todo dia falando aqui que acabar com desemprego. Não dá para conversar. Se todo mundo que vier aqui quiser falar comigo, vou montar um escritório, botar uma escrivaninha aqui e atender todo mundo”, disse Bolsonaro.

Mesmo durante o isolamento, Bolsonaro seguiu conversando com apoiadores, mas à distância, enquanto acompanha o arriamento diário da bandeira. Na semana passada, ouviu uma mulher pedir ajudar para reabrir sua lotérica que, segundo ela, está fechada por uma desavença com seu sócio — que também é seu ex-marido. 

Ela pediu para que o assunto fosse tratado com o presidente da Caixa, mas ouviu uma negativa: “Minha senhora, é uma briga particular. Não posso encaminhar um caso particular. Se fosse interesse de vários lotéricos, encaminharia.”

No dia 15 de junho, Bolsonaro se irritou ao ouvir uma sequência de pedidos, incluindo uma crítica ao fechamento da Esplanada dos Ministérios, ajuda para Boa Vista, o combate ao desrespeito de uma patente (pedido feito pelo irmão do suposto inventor), o apoio a um projeto social e uma novidade no diagnóstico do coronavírus.

“Vou acabar não parando mais aqui, me desculpem. São 50 pedidos por dia — ameaçou no final, provocando pedidos de desculpas dos apoiadores”, afirmou.

Dias depois, quando um apoiador reclamou da utilização de containers em universidades, Bolsonaro respondeu: “Chefe, se eu pegar só os problemas daqui, eu tenho mais de uma semana de trabalho.”

No início de junho, Bolsonaro já havia se incomodado com uma série de reclamações sobre governadores — naquele dia, foram citados os governantes do Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará e Bahia, por pessoas diferentes — e disse que não pode “resolver tudo”. “Tem governador, tem prefeito. Vocês votaram nesses caras também”, disse.

Em alguns momentos, Bolsonaro é mais solícito aos pedidos. Certa vez um homem se apresentou como “diretor estratégico” da agência de notícias italiana Ansa e pediu uma audiência para que pudesse “ajudar” o presidente. 

Bolsonaro orientou um ajudante de ordens a pegar o cartão dele e disse que tinha a “missão” de entregar ao secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fabio Wajngarten. Em outro ocasião, uma mulher disse ter a “cura” do coronavírus: comer um dente de alho cru por dia. O presidente disse que iria “arranjar” uma agenda para ela no Ministério da Saúde.


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