Jurado do Carnaval paulista, garçon, cozinheiro, cuidador. Tudo por mais uma viagem

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de março de 2016 às 07:02
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:40
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​Conheça a história do cristalense Márcio Dib que trabalha com um único objetivo: viajar

Márcio Dib: tudo por mais uma viagem (Arquivo Pessoal)

Já pensou acordar todos os dias, abrir os olhos e o primeiro pensamento que lhe vem a cabeça ser um sonoro “é hora de partir”? Não se aquietar e só pensar em como fazer a próxima viagem? 

Chegar a vender o pouco que se tem em bazares da pechincha, fazer faxina, massagens, fotografar, escrever textos, corrigir textos, serviços de garçom e mais uma boa lista de atividades, enfim: prestar vários trabalhos visando ganhar dinheiro para viajar…

Assim faz o Jornalista Márcio Dib há vários anos (desde que veio morar definitivamente em Cristais Paulista) para rodar o Brasil, já tendo viajado por 18 Estados do País passando por suas capitais e diversos locais.

Falta-lhe apenas Parte do Norte Amazônico e parte do Nordeste para terminar de conhecer o Brasil inteiro, empreitada que se iniciará agora em maio quando passará 42 dias na região norte amazônica.

Márcio Dib já fez de tudo para viajar: cozinha, trabalha de garçon… Tudo o que ganha consome em viagens que são bem planejadas, mas sempre feitas de modo simples: à base da “mochila”.

Em conversas com Dib ele conta um pouco de suas aventuras pelo Brasil afora, se classifica como Nomadista, já que nasceu viajando com o pai caixeiro viajante, com quem cortou boa parte do País até seus 28 anos quando resolveu fixar-se em Cristais Paulista, local de origem de sua família de imigrantes sírios – libaneses.

Anúncio de trabalhos: dinheiro é para mais uma viagem (Reprodução)

Após vir residir no pequeno Vilarejo, explica ele que conseguiu se conter por não mais que dois anos e foi tomado por um sentimento de “falta de estrada” em sua vida.

Lutou contra esse sentimento já que o que o fez deixar de viajar com seu pai foi exatamente o desejo de se ter uma vida normal, com raízes em algum lugar, casa, amigos, aconchego familiar e tudo mais que teria direito uma pessoa que nasce e cresce em um determinado lugar.

 “Falhei em quase tudo”, conclui ele entre risadas. “Me tornar efetivo em um único lugar não me fez feliz como imaginei. Fiz muitos amigos, estreitei meus laços com minha família cristalense, mas sentia uma imensa falta de algo novo. Sentia falta de exercitar meu lado nômade, nas formas em que cresci. E surgiu aí essa vontade de ir embora”, justifica Dib. No terceiro ano em Cristais Paulista começou a fazer viagens pelo Brasil, sem traçar planos ou saber para onde ir, juntava poucas roupas em uma mochila e partia.

Retornava a pequena cidade para se refazer e partir de novo em momento oportuno. E, assim faz até hoje, apesar de que agora – aos 50 anos – planejar e aproveitar melhor cada uma de suas viagens tem sido uma constante forma.

Dib é jurado do carnaval de São Paulo há 4 anos (Arquivo JF)

Em seu blog de viagens, onde disponibiliza algumas das muitas fotografias que tira por onde passa Márcio Dib vem escrevendo a sua autobiografia intitulada de “O Nomadista” onde em detalhes expressa sua necessidade de viajar.

Em trechos subtraídos do próprio blog pode-se perceber que como ele mesmo relata “a vida cercou minha existência de nomadismo até pelo sobrenome. Dib –  em árabe traduzido para o português – significa Lobo. Nas regiões desérticas da Síria, da qual minha família tem sua origem, as espécies predominantes de Lobos são conhecidas como Lobos Brancos do Deserto.

Essa é uma segunda tradução ampliada para a palavra Dib, já que os nomes ou sobrenomes de famílias nessas regiões são predominantemente retiradas de coisas, objetos, animais, dentre outras. As raízes dos meus ancestrais, surgiram nos desertos Sírios tratando-se de povos nômades dos desertos. Meus avós paternos viveram nômades na Síria. No Brasil meu avô tornou-se caixeiro rural e meu pai, que aqui nasceu, tornou-se caixeiro viajante aos 19 anos tendo deixado de viajar somente quando já havia vivido seus 70 anos. Do ano em que nasci, 1965, até 1992 (27 anos) eu o acompanhei trocando de lugar quase que diariamente de cidade em cidade por vários Estados do Brasil. Tudo isso me dá uma plena certeza: meu instinto nômade foi fortemente despertado pela própria condição de vida e trajetória a qual vivenciou minha família por séculos” escreveu ele, que ao ser entrevistado complementa: “vem daí minha necessidade constante de viajar”, esclarece.

Ainda em suas lembranças Márcio Dib escreve em seu blog de viagens várias passagens desse período nômade com o pai, dois irmãos e mais dois tios crianças também.

“Não nos era necessário nada mais do que uma pensão, ou um posto de combustível onde pudéssemos estacionar o carro para dormir, e mercadorias para vender. Nossos caminhos eram traçados simplesmente pela próxima cidade, seja ela qual fosse, na direção que fosse. Durante o dia parávamos para comercializar, durante a noite nos hospedávamos, ou simplesmente estacionávamos o carro para dormir dentro dele. Quase sempre nos locomovíamos de carro. As pessoas achavam engraçado e diferente nossas vidas: um homem, cortando o Brasil com cinco crianças, dentro de um carro e vivendo da sorte do comércio ambulante. As vezes vendíamos roupas, outras ferramentas, tecidos, utensílios domésticos. Enfim, comercializava-se o que se tinha oportunidade mais próxima de ser comprado por meu pai no atacado e revendido no varejo nas ruas. Porém, às vezes, acontecia de não ter nada por perto para se comprar em quantidade. Nesses momentos, meu pai tinha grande habilidade para inventar coisas para vender antes que o dinheiro disponível acabasse e nos levasse a privações”, escreveu em seu blog. 

Acredita ele que tudo o que viveu o levou a ser adepto do Nomadismo e, ainda que tendo residência fixa não lhe pode faltar viagens, muitas viagens.

Em conversas para a realização desta matéria, ele nos conta que “vai a esquina de casa como se fosse sair para uma grande viagem. Tudo é uma imensa oportunidade de descoberta de algo novo. Levo comigo minha máquina fotográfica e até formigas são alvo de cliques. Quero trazer para casa tudo que vejo nas ruas, esteja eu onde estiver e a que distância for”, salienta. E, haja fotografias! Seu acervo pessoal atualmente concentra aproximadamente 61 mil fotos entre vida pessoal, registros de Cristais Paulista e… Viagens pelo Brasil!

Viajando sempre sozinho, de mochilas nas costas e com os meios mais baratos possíveis, até mesmo a pé, suas próximas viagens previstas para 2016 o fará circular pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espirito Santo e Sergipe – viagens estas divididas em pequenos roteiros.

Porém, em suas viagens entre os meses de maio e junho está prevista uma de aproximadamente 12 mil quilômetros pelo norte amazônico – a terceira que fará para a floresta tropical. Serão 42 dias entre Rondônia, Acre e Amazonas (veja roteiro abaixo).

E ao que parece nada se encerra por estes roteiros. Dib explica que ao finalizar todos os Estados do Brasil, fará uma longa viagem que durará meses entre vários lugares do Brasil – que não pode ter ido, mas gostaria – e também a América do Sul.

Perguntado quando acabaria essas andanças ele diz não saber. Mas, se remete ao que anunciou em seu blog de viagens e diz que se pergunta cotidianamente “se essa minha sede de buscar pela vida afora as essências das coisas que possam me conduzir a um “final feliz” seria a minha loucura. Antes de envelhecer e chegar ao meu suspiro final, quero ser livre e correr chão. Pois, é assim que quero viver e é assim que quero morrer – desagregado das coisas desse mundo, andarilho de estradas, campos e cidades. Posso ficar sem bens materiais, mas não posso permanecer em meu caminho se não consigo ver e sentir outros espaços, outras pessoas e com eles me relacionar intensamente. Ver e sentir o que me é novo, o que faz verdadeiramente a minha vida me fornecer as respostas que preciso. Confesso: tenho medo da sina de ser assim. Porém, a cada dia da minha breve existência essa necessidade de partir não diminui, só reforça o desejo de conhecer mais e mais o Nômade que tenho presente em mim”, finaliza ele.  

Veja fotos de algumas viagens de Dib:


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