Infecções por vírus estão associadas à doença de Alzheimer, diz estudo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 22 de junho de 2018 às 00:59
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:49
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Pesquisa identificou fragmentos de vírus da herpes em áreas do cérebro de pessoas que tiveram o problema

A doença de Alzheimer pode ser
uma consequência de infecções por vírus que aconteceram ao longo da vida,
principalmente o vírus da herpes, diz estudo publicado na última quinta-feira,
21 de junho, na revista “Neuron”. A pesquisa analisou três diferentes
bancos de dados de cérebros e mostrou, segundo os autores, o maior conjunto de
evidências registrado até agora sobre essa relação.

No total, cientistas analisaram 622 cérebros de pessoas
que tiveram Alzheimer e 322 órgãos de pessoas sem a doença.

O estudo teve a participação de pesquisadores da
Universidade do Estado do Arizona e da Icahn Escola de Medicina Monte Sinai,
ambas nos Estados Unidos. Cientistas contaram com financiamento do NIH
(Instituto Nacional de Saúde dos EUA). “Trata-se de um estudo publicado em
uma revista importante sobre uma discussão grande na ciência: a relação entre
micro-organismos e o cérebro”, diz Almir Ribeiro Tavares Júnior, professor
da Faculdade de Medina da Universidade Federal de Minas Gerais que já
acompanhou estudos com Alzheimer no NIH.

O pesquisador explica que
cientistas desconfiam há décadas da relação entre demências e infecções.
Acredita-se que a proteína associada à doença de Alzheimer, a beta amiloide,
pode ser produzida como uma reação do sistema imunológico a infecções por
micro-organismos. “A beta amiloide se associa com morte neuronal e pior
transmissão de impulsos entre neurônios. Antes, pensava-se que ela fosse a
causa da doença de Alzheimer. Hoje, ela também é estudada como
consequência”, diz o pesquisador.

Almir Tavares alerta, no
entanto, que as pessoas estudadas não necessariamente tiveram herpes. “O
estudo mostra que essas pessoas tiveram contato com o vírus ao longo da
vida”, diz.

Vírus da herpes e dificuldades do
estudo

Ao
comparar cérebros de pessoas acometidas pela demência com cérebros normais, o
estudo identificou altos níveis de herpesvírus humano (HHV) 6A e 7 em amostras
de cérebro de pessoas que haviam tido a doença. Os cientistas encontraram
fragmentos do vírus em quatro regiões diferentes do cérebro.

Pesquisadores salientam, no
entanto, que o estudo não permite estabelecer uma relação de causalidade entre
Alzheimer e infecções, mas aponta para uma relação possível. “Seria muito
difícil cravar essa relação, porque seria necessário um estudo prospectivo, com
uma intervenção”, diz o pesquisador da UFMG. “Um dos problemas é
acompanhar essas pessoas por muitas décadas”, conclui Tavares.

Além da presença do vírus,
cientistas sequenciaram o DNA e o RNA de todos os 944 cérebros analisados e
encontraram diversos mecanismos associados ao Alzheimer que podem ter sido
deflagrados pelas infecções. “Eles estavam procurando por sinais indiretos
que podem ter sido deixado pelos vírus”, completa Tavares.


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