Idade paterna avançada tem efeitos negativos na saúde do bebê, diz estudo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 31 de março de 2019 às 14:17
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:28
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Ainda não se sabe como interferência ocorre, mas relação é um alerta para quem adia desejo de ter filhos

Estudos já demonstraram que a idade materna
avançada pode comprometer a gestação ou mesmo a saúde do bebê. Isso ocorre
devido ao envelhecimento dos óvulos, com os quais a mulher já nasce. Agora,
cientistas fizeram uma associação entre paternidade tardia e ocorrências
negativas para a prole e também para a mãe.

Ainda não é possível falar em causa e
efeito, nem se sabe como essa interferência acontece, mas a relação é um alerta
para homens e mulheres que decidem, cada vez mais, adiar o desejo de ter filhos.

No estudo publicado no periódico British Medical Journal,
pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford analisaram
dados de mais de 40,5 milhões de nascidos vivos nos Estados Unidos entre 2007 e
2016.

Com base nos documentos do Sistema Nacional de Estatísticas Vitais, os
pesquisadores analisaram os seguintes fatores em bebês: idade gestacional, peso
ao nascer, índice de Apgar, internação em unidade de terapia intensiva neonatal
e convulsões. Nas mães dessas crianças, foram consideradas diabete gestacional
e pré-eclâmpsia.

Os resultados indicaram que, no geral, a paternidade tardia foi associada a um
risco maior de parto prematuro, baixo peso ao nascer e baixo índice de Apgar.
Este último é uma escala que avalia cinco sinais do recém-nascido: frequência
cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor.

Ao equilibrar a idade das mães,
observou-se que pais com 45 anos ou mais estavam relacionados a chances 14%
maiores de parto prematuro e 18% maiores de convulsões em comparação com bebês
de pais entre 25 e 34 anos. “O que se entende é que, apesar de
produzir espermatozoides a vida toda, o que daria ao homem sempre ter células
novas, existe uma reprodução celular muito intensa e, quanto mais o tempo
passa, mais essas células começam a se dividir de forma errada”, explica
Maria Cecília Erthal, especialista em reprodução humana.


Além da multiplicação intensa, ela afirma que, com o avanço da idade, os
tecidos dos testículos, onde os espermatozoides ficam armazenados, ficam
envelhecidos e a vascularização diminui. Com isso, o fornecimento de nutrientes
e oxigênio para os gametas ficam comprometidos – o que leva à danificação do
processo de divisão celular.

A especialista reforça que ainda não
está bem esclarecido como essa relação ocorre, uma vez que o bebê tem carga
genética da mãe e do pai. Mas uma das hipóteses seria essa multiplicação
celular intensa que pode causar erros genéticos.


Além do risco à saúde da prole, o estudo apontou também que a chance de diabete
gestacional foi 34% maior nas mães com os parceiros mais velhos. Maria Cecília
diz que o ambiente onde a gestação ocorre proporciona uma troca entre mulher e
feto. Assim, algum defeito genético na célula fetal pode passar para o
organismo materno e desencadear algum problema.


O estudo da Universidade de Stanford cita que as pesquisas sobre o impacto dos
pais mais velhos na saúde da prole têm se limitado, principalmente, ao risco de
doenças congênitas.

A especialista do centro de
fertilidade exemplifica com síndrome de Down e doenças psiquiátricas, como
esquizofrenia e autismo. Neste último caso, ela afirma que a relação ainda não
está totalmente elucidada, mas há estudos avançados.

Quanto à relação com a saúde do bebê,
a especialista diz que médicos começam a observar isso clinicamente. A partir
disso, partem para a pesquisa científica a fim de comprovar ou não a
associação. “Começou-se a vincular esses fatos, mas não se esclareceu
totalmente”.


Diferente do homem que produz espermatozoides constantemente, a mulher já nasce
com uma reserva ovariana, que vai diminuindo com o passar dos anos. Por isso,
conforme ela passa dos 30 ou 35 anos, há, eventualmente, mais dificuldade para
engravidar ou algum risco na gestação. “Mulher com mais idade tem
mais chance de ter doenças pelo envelhecimento, como na tireoide, problemas
cardíacos, doenças que podem complicar a gravidez e levar à comorbidade do bebê
ou prematuridade”, afirma Maria Cecília.


Há ainda influência na saúde do bebê caso haja alguma alteração cromossômica
devido ao envelhecimento do óvulo. Aqui, as divisões cromossômicas também podem
ocorrer de forma errada.


A especialista faz um alerta para homens e mulheres que estão postergando a
maternidade ou paternidade: “Eles precisam ter consciência de que isso
aumenta as chances de algum problema, seja dificuldade para engravidar, aborto
ou bebês nascendo com alguma doença. É preciso conversar com médicos e fazer
planejamento familiar”, diz. Uma opção é preservar a fertilidade por meio
do congelamento de óvulos e espermatozoides.


+ Ciência