Hospitais de SP perdem 7,6% dos leitos do SUS em cinco anos, diz Seade

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de junho de 2018 às 08:24
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:49
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Nos hospitais particulares, a queda no número de vagas para internação é de 6,7% entre 2013 e 2017

Depois de uma semana vendo o irmão amarrado a uma maca em uma unidade de saúde em Ribeirão Preto  a cuidadora Renata Macário desistiu de aguardar por uma vaga de internação em um hospital público e decidiu levá-lo para casa, onde deve continuar o tratamento contra o transtorno bipolar.

“A gente não pode fazer nada, você não tem direito nem de reclamar, porque acham que estão fazendo um favor para a gente. É desumano, é totalmente desumano o que acontece. Você chega, fica quatro, cinco dias, não tem previsão, não falam nada”, reclama.

O drama vivido por Renata é compartilhado por outras famílias de pacientes que precisam de internação em hospitais públicos paulistas. Segundo a Fundação Seade, o número de leitos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) caiu 7,6% em cinco anos, passando de 60,1 mil, em 2013, para 55,5 mil, no ano passado.

Leitos de internação em hospital público em Ribeirão Preto (Foto: Carlos Trinca/EPTV/Arquivo)

Nos hospitais particulares, a redução de leitos foi de 6,7%, passando de 47 mil para 43 mil no mesmo período, de acordo com a Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas de São Paulo (FEHOESP).

Delegado do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), o médico Osvaldo Takayanagui diz que a redução no número de leitos é motivo de preocupação para a entidade e para o Conselho Federal de Medicina (CFM).

“Com a crise econômica, tem havido subfinanciamento do SUS pelos diversos governos, tanto municipal, estaduais e, particularmente, federal”, explica. É uma situação extremamente grave porque o SUS é uma conquista da sociedade brasileira e nós precisamos defendê-lo”, diz.

A cuidadora Renata Macário reclama de falta de leito para internar o irmão em Ribeirão Preto (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

Especialista em saúde pública, o médico José Sebastião dos Santos explica que a diminuição dos leitos é uma tendência, uma vez que o avanço tecnológico e científico tem aperfeiçoado procedimentos e tratamentos, permitindo ao paciente ficar o menor tempo possível dentro do hospital.

“Nós temos experiências, inclusive, na França, que está em uma fase muito adiantada, em que a pessoa opera, logo começa andar, tomar dieta e vai embora para casa o mais rápido possível, com a participação de outras tecnologias e profissionais de apoio na reabilitação”, afirma.

Ainda segundo o médico, em um futuro não muito distante, os hospitais se transformarão em grandes centros de terapia intensiva para atender somente casos graves. Mas, para isso, é preciso aperfeiçoar o serviço de atenção básica à saúde que existe atualmente.

“Nós temos ambulatórios diferenciados, que fazem investigação e procedimentos, temos as unidades de pronto atendimento, as unidades básicas de saúde, serviço de atenção domiciliar, de internação domiciliar, os leitos de retaguarda. Todo esse conjunto de serviços vai dando outra conformação, outro conceito e outra forma de assistir o doente”, afirma.

Leitos de internação na Santa Casa de Ribeirão Preto (Foto: Carlos Trinca/EPTV/Arquivo)

Em nota, a Secretaria da Saúde de São Paulo informou que mantém, atualmente, cerca de 17 mil leitos próprios e que essa média se mantém desde 2012. Além disso, o Estado alega ter investido R$ 1 bilhão em 16 novos hospitais e serviços, nos últimos oito anos.

“O Governo do Estado ainda auxilia financeiramente as Santas Casas municipais e hospitais filantrópicos com recursos próprios, para ajudar a cobrir o subfinanciamento federal na área da saúde. Desde 2014, já foram repassados mais de R$ 8,5 bilhões a entidades paulistas conveniadas”, diz o comunicado.

A Secretaria explicou ainda que a rede SUS foi impactada nos últimos anos pela redução de 1 mil leitos para tratamento de saúde mental, conforme determina a Política Nacional de Diminuição de Leitos Psiquiátricos.

Também em nota, a Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto informou que está apurando o que ocorreu com o paciente Rodolfo Macário, irmão da cuidadora citada na reportagem, e somente depois vai se manifestar sobre o caso.

Pacientes aguardam por vagas nos corredores da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (Foto: Paulo Souza/EPTV/Arquivo)Pacientes aguardam por vagas nos corredores da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (Foto: Paulo Souza/EPTV/Arquivo)

(Com informações do G1)​


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