Historiador da Unesp pesquisa imprensa Oitocentista no Brasil

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 12:11
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:29
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Doutor pela Unesp de Franca faz pesquisa de pós-doutorado sobre História, Memórias e Linguagem

D​outor em História pela Unesp de Franca, Estevão Luz atualmente desenvolve pesquisa de Pós-Doutorado em História na Universidade Federal de Minas Gerais (PPGH | UFMG) com supervisão do Prof. Dr. Luiz Carlos Villalta.

O projeto é intitulado “Entre lamentos e gargalhadas: histórias, memória e linguagem nas páginas da Imprensa Oitocentista”. 

Nele, procura mapear detalhadamente algumas curiosidades divulgadas pela imprensa daquele período e, a partir desse levantamento, analisar as narrativas de fatos e passagens curiosas. 

Trata-se de um fértil patrimônio documental, ainda pouco explorado, composto por histórias extraordinárias, notícias mirabolantes e narrativas cômicas. 

“É um instigante universo de memórias preservadas por meio de narrativas que oferecem indícios importantes sobre o período e de relatos que permitem investigar aspectos culturais importantes daquela sociedade”, afirma. 

Durante o doutorado, quando trabalhou com a trajetória de um padre mineiro que foi importante periodista durante o Império (Incendiárias folhas, Editora Prismas, 2017), encontrou muitas histórias curiosas nas páginas dos jornais e percebeu a singularidade daquele material.

Foi tomando nota daquelas passagens e hoje se debruça sobre elas em projeto de pesquisa específico. 

São narrativas que vão desde histórias muito engraçadas, passando por fatos sobrenaturais e ficcionais, até passagens tristes e chocantes.

Por exemplo, em 1839, chegou um circo à cidade de Ouro Preto, capital da província de Minas Gerais, e com ele um elefante chamado Pizarro. 

Provavelmente, foi o primeiro animal da espécie a posar o solo brasileiro. Fez uma viagem muito longa da Ásia até a América e depois ao Brasil, e causou grande alvoroço por onde passou. 

É um fato quase que desconhecido de todos, mesmo de outros historiadores. “Este é um exemplo curioso, mas temos exemplos chocantes, como o caso da mulher que matou o marido, desmembrou seu corpo e cozinhou o seu coração para servir em um jantar macabro ao amante”, conta Luz.

Os anúncios nos jornais da época trazem muitas destas curiosidades, assim com a seção de Variedades destes periódicos. 

Histórias como a ocorrências de uma chuva de sangue, descrição de pessoas “monstruosas” (como se dizia) portadoras de deficiências graves, sobre a comprovação científica da existência de habitantes na Lua, com a descrição detalhada daqueles seres, sobre o bêbado enterrado vivo, o uso da batata para lavar roupas, a cadela que pariu gatos, sobre as qualidades da mulher perfeita, sobre a fuga de escravos, sobre crimes e mortes trágicas, etc.

O que se pretende com a pesquisa é analisar o que estas passagens curiosas nos permitem conhecer sobre a imprensa do período e qual era o papel delas naquele contexto histórico. 

A princípio estas histórias vinham publicadas timidamente na última página dos jornais, mas foram conquistando espaço e nova roupagem com o passar do século. 

“Estas curiosidades nos falam sobre o período e sobre o próprio desenvolvimento da imprensa, que passou a se especializar ao longo da segunda metade do século XIX”, conclui Estevão Luz,

Sobre o pesquisador
Estevão de Melo Marcondes Luz. Doutor em História pela UNESP-Franca, pesquisador do grupo Historiar: narrativas identitárias, conceitos, linguagens (CNPq) e residente Pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em História da UFMG.


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