Hemocentro de RP estuda tratamento para leucemia sem transplante de medula

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de dezembro de 2018 às 01:50
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:15
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Terapia usa células do próprio paciente – expectativa é que testes comecem em 2019 e estará disponível no SUS

Os pesquisadores do Hemocentro
da USP de Ribeirão Preto desenvolveram um tratamento inovador que pode curar a
leucemia mieloide aguda, um dos tipos mais agressivos de câncer no sangue, sem
precisar de transplante de medula óssea.

Pela primeira vez, cientistas usarão linfócitos T, uma
das principais células do sistema de defesa do corpo humano, para combater as
células doentes pelo câncer. Os linfócitos, que podem ser retirados de doadores
ou do próprio paciente, serão modificados em laboratório para adquirirem a
capacidade de reconhecer as células cancerígenas.

Depois de modificados, esses
linfócitos são injetados na corrente sanguínea do paciente e vão atacar
continuamente as células malignas. Segundo os pesquisadores, na maioria dos
testes, foi necessária apenas uma única dose.

A chefe da unidade de transplantes do Hospital das
Clínicas de Ribeirão Preto, Belinda Pinto Simões, explica que o linfócito T é
treinado para reconhecer as células doentes. “Eu dou uma especificidade para
esse receptor T e ele vai mirar agora contra aquilo que eu quero. Eu defino
para ele que a mira vai ser a leucemia, ele vai atacar a célula da leucemia e
não mais os outros órgãos do corpo. O linfócito vai ter a memória imunológica”,
explica Belinda.

Para o médico pesquisador do
Centro de Terapia Celular da USP, Renato Cunha, o método também é uma esperança
para pacientes refratários, ou seja, casos em que não há resposta positiva ao
tratamento ou transplante, mas também para pacientes que estão doentes e não
encontraram doadores compatíveis. “Com certeza, essa é outra opção para aqueles pacientes
em situações onde não há mais tratamentos disponíveis e para os pacientes que
não encontraram doadores. Esses também serão beneficiados com a terapia”, diz.

Pesquisas

Nos EUA, onde o pesquisador Renato Cunha, trabalhou por três anos, já
existem métodos de tratamento com linfócitos T para outros tipos de câncer.

Segundo Cunha, as terapias são realizadas com sucesso. “Dos pacientes que receberam a célula T com o novo
receptor, a cada dez tratados com leucemia de células B, até nove pacientes
responderam. É importante frisar que são pacientes que já foram submetidos a
vários tratamentos convencionais como, por exemplo, o transplante de medula
óssea”, conta o pesquisador.

Ainda de acordo com o médico,
esses métodos aplicados nos EUA são encontrados no mercado, mas custam muito
caro.

No Brasil, a expectativa dos
pesquisadores é que sejam terapias mais acessíveis e que o tratamento seja
disponibilizado na rede pública. “Nos EUA, o custo de cada tratamento gira em
torno de U$ 400 a U$ 500 mil. Isso apenas o produto da célula, mas você ainda
tem todo o custo adicional da internação. Trazendo essa tecnologia para o
Brasil, a expectativa é que a gente gaste um décimo desse valor com nossos
pacientes e incorporar a tecnologia aos pacientes do SUS”, conta Renato.

O médico ganhou um prêmio da
Sociedade Americana de Hematologia para montar o laboratório em Ribeirão Preto.

A pesquisa está na terceira
etapa de testes, ou seja, na fase de validação e a expectativa é disponibilizar
o tratamento a partir do ano que vem. “O ano chave é 2019. A primeira etapa,
que é a fase de testes em laboratórios, já foi feita. A segunda fase, onde
testamos em animais e validamos todo o processo, também foi finalizada. Agora
estamos na última etapa, que precede o tratamento de pacientes humanos”, estima
o médico.


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