HC de Ribeirão pode ter 130 leitos fechados por falta de funcionários

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de fevereiro de 2020 às 01:20
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:23
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Por causa da redução do quadro de funcionários, nove centros cirúrgicos ficam parados durante a semana

O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HC-RP) pode perder 130 dos 920 leitos, por falta de funcionários, como enfermeiros e médicos anestesistas. 

O possível fechamento foi discutido na  últimasexta-feira (14), durante uma reunião do corpo clínico.

De acordo com dados informados no site do hospital, 5.918 servidores atuam na instituição. Mas o sindicato da categoria aponta que faltam 440 profissionais na unidade.

Por causa da redução do quadro de funcionários, nove centros cirúrgicos ficam parados durante a semana, e o centro hospitalar não consegue realizar 25% das cirurgias agendadas, segundo o médico especialista em saúde pública José Sebastião dos Santos, que atua no HC.

“Não podemos fazer as operações, porque eu não tenho enfermagem para cuidar dos doentes no pré e no pós-operatório. Também não temos anestesiologistas para fazer a anestesia. Estamos produzindo pouco, porque é uma destruição da nossa cadeia de produção assistencial e também de formação de recursos humanos”, diz.

Em nota, o HC informou que, atualmente, há uma redução de pessoal em função de demissões voluntárias e aposentadorias. 

Entretanto, está em tratativas com o governo do estado para a reposição das vagas.

A Secretaria de Estado da Saúde comunicou que está em diálogo com o HC para auxiliar na garantia de assistência aos pacientes.

Drama de pacientes

Segundo apuração, os servidores que saíram do quadro de funcionários não estão sendo repostos por outros profissionais. 

Até 2015, cada colaborador aposentado ou desligado da unidade era substituído por outro, automaticamente. Depois disso, não houve mais contratações.

A situação tem causado transtornos aos pacientes que necessitam do Sistema Único de Saúde (SUS). 

É o caso da cuidadora Sidneia Cristina Martins, que aguarda há cinco anos por uma vaga para realizar uma cirurgia nas costas. Ela deixou de ser bombeira civil por causa das dores constantes.

“Há cinco anos machuquei a coluna e estou aguardando por uma vaga. Ficar em pé prejudica muito, sinto muita dor. Essa redução que eles estão fazendo, os prejudicados somos nós, que não temos condições financeiras para poder conseguir uma cirurgia (particular)”, diz.

A realidade da cuidadora é a mesma da pequena Marina Silva, de 4 anos, que está na fila de espera há dois anos para fazer uma operação. 

A mãe da menina, Isabel Cristina Reis de Oliveira Silva, diz que a filha tem problemas de refluxo, que causam infecções. Sem a cirurgia, a criança faz uso de antibióticos diariamente.

“A gente tem que arcar com antibiótico, pois ela precisa tomar todos os dias. Caso não venha esse atendimento do HC, temos que fazer o procedimento particular nela, porque ela não pode ficar sem fazer a cirurgia. Mas não temos esse valor de R$ 60 mil. A gente depende da saúde pública, no caso, a gente depende do HC”, diz Isabel.

Prejuízo à saúde pública

Segundo o médico José Sebastião dos Santos, a ala para cirurgias digestivas do HC vai ficar sem operação até quinta-feira (20), devido à falta de anestesistas e enfermeiros para dar suporte aos médicos cirurgiões.

“Temos uma redução significativa de leitos operacionais. Nós temos o serviço de urgência, com grande aglomeração de pacientes, e a tendência é se agravar. Trabalhamos com necessidades que chegam à porta de urgência e nos ambulatórios. O que nós fazemos é sempre trabalhar com as urgências e emergências”. 

“Agora, quem não se agrava, fica esperando na fila. Daqui a pouco, ele também vai se agravar”, afirma.

De acordo com Santos, o prejuízo com o fechamento dos 130 leitos e a falta de cirurgias é de toda a comunidade atendida pelo Hospital das Clínicas.

“Tudo vai ficando custoso para o doente e para o sistema. A sociedade que paga essa conta de má gestão pública, do sistema de saúde, que, em tese, é de competência do governo do estado.”

Fonte: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2020/02/17/com-funcionarios-em-falta-130-leitos-podem-ser-fechados-no-hc-em-ribeirao-preto-sp.ghtml


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