Geral: Inflação fica abaixo da meta em janeiro, mas alimentos registram alta

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  • Publicado em 10 de fevereiro de 2019 às 22:39
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:22
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IPCA de janeiro fica em 0,32%, acumulando alta de 3,78% e consumidores se queixam dos preços

Caminhando abaixo das expectativas de mercado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro teve variação de 0,32%. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de dezembro havia sido de 0,15%. No acumulado de 12 meses, a inflação passou de 3,75% para 3,78%, ficando ainda bem abaixo da meta estabelecida para o ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,25% para este ano. Apesar disso, os preços dos alimentos subiram mais do que a média do indicador, provocando reclamações de consumidores nos supermercados.

É o caso da servidora pública Márcia Regina Maia, 42 anos. Ela tem feito a substituição de alimentos para reduzir as despesas mensais. “A carne bovina está um pouco cara; então, nesses dias, estamos comendo frango lá em casa”, revelou”. “Aumentaram também os preços do melão, dos ovos, da maçã e do feijão.”

O grupo de alimentos e bebidas teve taxa de 0,91% em janeiro, registrando o maior impacto no IPCA do mês. Segundo os cálculos do IBGE, houve grande encarecimento do feijão-carioca (19,76%); da cebola (10,21%); das frutas (5,45%); e das carnes (0,78%). O leite longa vida, após cinco meses consecutivos de queda, subiu 2,10%. Por outro lado, os preços do tomate recuaram 19,46%.

Alvacir Machado, 61 anos, farmacêutico militar, sentiu os aumentos pesarem no bolso. “Subiu tudo, principalmente chuchu, tomate, feijão e cebola”, disse. O farmacêutico gasta de R$ 300 a R$ 400 reais por mês com supermercado e, para manter as compras dentro do orçamento doméstico, teve que substituir alguns alimentos, como a carne. “Até o jiló, que eu levava muito, tive que diminuir, porque encareceu.” Por outro lado, para Alvacir, houve queda discreta no preço do limão. “Foi a única coisa que baixou, mas ainda não está muito bom”, destacou.

O grupo de despesas pessoais também teve participação importante no IPCA, variando 0,61% em janeiro. Excursões (6,77%), hotéis (1,06%), e alguns serviços, como manicure (0,85%) e cabeleireiro (0,69%), foram os principais vilões.

Economistas entrevistados pelo Banco Central (BC) para o relatório Focus, divulgado semanalmente, preveem que o IPCA terminará o ano com alta de 3,90%. Carlos Thadeu, pesquisador da Fundação Getulio Vargas, ressaltou que a inflação está caminhando abaixo das expectativas, possibilitando a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em patamar baixo, mesmo sem a aprovação da reforma da Previdência.

Juros

“Podemos voltar a falar em corte dos juros. Se a inflação ficar muito baixa sem a reforma da Previdência aprovada, o que fazer? A inflação dos serviços pode perder fôlego, dando espaço para diminuir os juros”, ressaltou Thadeu. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 6,5% ao ano na última reunião, que ocorreu nesta semana.

O economista sênior Flávio Serrano avalia que é preciso ter mais cautela. Apesar de o IPCA ter surpreendido, o “núcleo de inflação”, que é a variação dos preços medida sem os efeitos de choques temporários está de acordo com as estimativas. Ele ressaltou, por exemplo, que os combustíveis foram um fator importante para o índice fraco de janeiro. O preço da gasolina tombou 2,41% no mês passado.

“A inflação deve terminar o ano no intervalo de 3,6% a 4%. É um pouco abaixo da meta, mas talvez não seja a hora de discutir queda de juros. Já esperávamos esse comportamento”, ressaltou Serrano. “Há também risco de alta no mercado externo. Se a guerra comercial entre Estados Unidos e China se alastrar, o prêmio de risco aumentará, e também a inflação. A assimetria em relação à aprovação da Reforma, teria um impacto significativo também. O BC poderia ter cortado mais a Selic antes. Mas, já que ficou parado, é melhor deixá-la onde está agora”, completou.

*Por Hamilton Ferrari


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