Game ensina jogadores a evitar o consumo de doces e a comer com saúde

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de maio de 2019 às 22:00
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:33
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Testes mostram que voluntários perdem até 3,1% do peso após dois meses de treinamento cerebral

Um jogo de computador poderá ser usado para reduzir a ingestão de
açúcar. O sistema desenvolvido por cientistas americanos é baseado em um tipo
de treinamento cerebral que visa atingir uma parte do cérebro que inibe os
impulsos alimentares.

Partidas regulares, portanto, resultam em benefícios fisiológicos
aos jogadores. “Eliminar o açúcar da dieta de uma pessoa resulta em perda de
peso e redução do risco à saúde”, resume Evan Forman, diretor do Center for
Weight, Eating and Lifestyle Science (WELL Center), da Drexel University, e
principal autor do estudo, divulgado na revista Journal of Behavioral Medicine. 

Para o cientista, ensinar exercícios físicos e sugerir os alimentos não
são cuidados suficientes para ajudar na redução das medidas.

O professor de psicologia explica que o cérebro humano é programado para
desejar doces e, por isso, muitas pessoas sentem dificuldade em tirar esses
alimentos da dieta. Foi por esse motivo que ele iniciou a pesquisa em 2016.
Desde então, vem realizando experimentos para aperfeiçoar o projeto. A pesquisa
é a primeira a examinar o impacto desse tipo de controle inibitório altamente
personalizado usando treinamentos repetidos para a perda de peso em casa.

Forman e a equipe resolveram personalizar um jogo baseado em treinamento
cognitivo já existente, o Diet Dash. Na versão ajustada, aparece na tela do
computador um carrinho de supermercado, com prateleiras ao lado.

O jogador tem que escolher os alimentos saudáveis à disposição na
mercearia. Compras erradas resultam em perdas de ponto. A dificuldade vai
aumentando de acordo com a resistência do jogador.

Cento e nove pessoas, com idade entre 18 e 65 anos, participaram de
testes com o jogo. Os voluntários também estavam acima do peso e eram viciados
em doces.

Antes de iniciar os testes, eles assistiram a um workshop para ajudá-los
a entender por que o açúcar é prejudicial à saúde e para aprender quais
alimentos devem ser evitados e quais métodos podem ser usados em prol do
emagrecimento. “Orientações como essas dão estratégias para os participantes
seguirem uma dieta sem açúcar. No entanto, levantamos a hipótese de que eles
precisariam de uma ferramenta extra para ajudar a administrar os desejos de
doces. Por isso, pensamos em criar o jogo”, explica Forman. O trabalho contou
com a ajuda de Michael Wagner, professor e chefe do Departamento de Mídia
Digital do Westphal College of Media Arts & Design, e de um grupo de
estudantes de Mídia Digital da Drexel University.

Com distração

Os participantes do experimento jogaram por alguns minutos,
diariamente, durante seis semanas. Depois, as partidas passaram a ser semanais,
durante 15 dias.

Enquanto faziam compras na mercearia, eram distraídos com imagens
de fundo, sons distintivos e música. “Nós construímos um jogo de computador em
que as pessoas tinham que praticar a mudança de pensamento e parar de se
movimentar em direção aos alimentos doces. Essa capacidade cerebral é chamada
controle inibitório”, explica Forman.

Mais da metade dos participantes relatou que o jogo os ajudou a
perder até 3,1% do peso corporal em oito semanas. Eles também confessaram que o
treinamento diário foi satisfatório e passou a fazer parte da rotina. “Os
resultados do estudo oferecem suporte qualificado para o uso de um treinamento
cognitivo computadorizado para facilitar a perda de peso”, acredita o
pesquisador.

Aprendizagem

De acordo com os cientistas, os treinamentos diários preparam o
cérebro para não reagir aos impulsos de ingerir doce. De acordo Mariana Morais,
professora de psicologia da Faculdade Estácio de Macapá, a base de um treino
cognitivo está na aprendizagem, isto é, acontece a partir da mudança gradual de
algum padrão de comportamento. “Na prática, o indivíduo torna-se capaz de estabelecer
novas relações entre informações que anteriormente podiam não ter relevância ou
não eram conhecidas”, explica.

Emílio Takase, professor-associado de psicologia da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), ressalta que a prática é fundamental para a mudança
de pensamento. “A pessoa vai tomando consciência da alimentação para buscar a
mudança comportamental. Mas, para afirmar que o estudo funciona, é preciso
provar cientificamente após o término das sessões.”

O estudo também constatou que poucos homens reduziram o consumo de
açúcar e perderam peso em comparação com as mulheres. Agora, a equipe de Forman
realiza testes só com homens, em busca de identificar as razões dessa
diferenciação. Além disso, desenvolve uma adaptação do jogo para realidade
virtual e pretende lançar a solução no mercado em um ano.


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