Fraudes em alimentos podem atrapalhar as ceias de Natal e Ano Novo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de dezembro de 2017 às 00:41
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:28
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Mais afetados são as aves da ceia, mas azeite, bacalhau, peixes e até salsichas podem apresentar erros

Especialistas ouvidos por pesquisas em todo o Brasil contaram algumas possíveis “fraudes” que vendedores ou produtores de alimentos podem utilizar para enganar os consumidores na hora da ceia. Peru, chester, peixes, azeite, carnes embutidas e até enfeites natalinos entram nessa lista.

As tradicionais aves de ceias de Natal, como peru e chester, são justamente os exemplos mais citados como passíveis de fraude.

Isso porque, depois de abater e limpar os animais, os produtores precisam resfriar as carnes rapidamente para impedir a entrada de bactérias. Elas são mergulhadas em água gelada para iniciar o resfriamento – saem de uma temperatura de 30º C para praticamente zero, em poucos segundos. Parte dessa água é absorvida pelo corpo da ave, aumentando seu peso.

A água e o gelo fazem parte do processo de produção de proteína animal, mas há um limite determinado por normas técnicas que deve ser obedecido, explica Alexander Dornelles, especialista em inspeção animal e membro do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa).

Esse limite, segundo norma do Ministério da Agricultura, deve ser de apenas 6% quando produto chega à gôndola onde consumidor pode comprá-lo. Ou seja, caso o peru ou chester tenham mais de 6% de água, o consumidor pode se considerar enganado.

Mas como descobrir se há algo de errado antes da compra? O consumidor não tem como saber até preparar o produto, explica Ederli Pereira Cardoso, gestora do centro de produtos pré-medidos do Ipem-SP (Instituto de Pesos e Medidas de São Paulo). Na hora de assar, nesses casos, a ave pode diminuir de peso substancialmente.

Cardoso aconselha o consumidor a procurar o Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) caso desconfie de alguma fraude por parte de um produtor ou vendedor.

O volume exato de água, no entanto, só pode ser calculado em laboratórios especializados.

Salsichas e peixes também enganam

Os peixes também entram na lista de possíveis fraudes de fim de ano. Uma norma do Ministério da Agricultura limita a 12% a aplicação de água sobre a superfície dos pescados.

Há também outro caso: quando o vendedor coloca um tipo de pescado mais barato dentro de uma embalagem de um produto mais caro. Assim, ele vende um peixe de valor menor por um preço elevado.

Segundo os especialistas, isso pode ocorrer com o bacalhau – mais usado em ceias de Ano Novo. O consumidor pode ser enganado porque normalmente não sabe diferenciar os tipos de peixe. Então, o vendedor coloca outro pescado mais barato e diz que é bacalhau, para vender mais caro.

Carnes embutidas, como salsichas, também podem ser fraudadas de maneira parecida, segundo a pesquisa. Por norma, esse tipo de carne pode ter apenas 2% de amido – uma substância usada para dar a aparência e “liga” à massa de proteína. Em casos de fraude, o amido é adicionado em maior quantidade para substituir a carne.

Com isso, o vendedor reduz o custo e economiza dinheiro colocando amido, que é mais barato que a carne.

Nestes casos, a melhor maneira de fugir de possíveis erros é escolher estabelecimentos que sejam registrados por órgãos de fiscalização, como agências sanitárias, ou comprar produtos de marcas que tenham o Selo de Inspeção Federal (SIF).

Embalagens e enfeites

Todos os finais de ano, o Ipem de São Paulo realiza operações para detectar esquemas de fraude em estabelecimentos do Estado de São Paulo. Segundo Cardoso, gestora do instituto de pesos e medidas, um dos esquemas mais encontrados pelo órgão é a cobrança pela embalagem – o que é ilegal.

Por lei, o vendedor não pode adicionar ao preço final do produto o peso da embalagem. Por exemplo, o recipiente plástico onde o peru é embalado deve ser descontado do valor da ave.

O consumidor tem que pagar pelo peso líquido do produto, apenas o que ele vai consumir. Não pode pagar pela embalagem do chester, que em alguns casos chega a ter 70 gramas, como explicam os especialistas ouvidos pela pesquisa.

Essa discrepância pode ocorrer também em casos de panetones, principalmente aqueles produzidos de forma artesanal – o produtor pode querer cobrar pela embalagem.

Existe uma maneira simples de o consumidor descobrir se está sendo enganado nesse ponto. Basta olhar no rótulo e ver se o peso da embalagem está sendo descontado. Em caso negativo, é possível denunciar o estabelecimento ao Procon.

Erros ou má-fé em medidas afetam até os enfeites de natal. Às vezes, o consumidor compra um enfeite por metro e, quando abre a embalagem, descobre que o produto media menos do que o anunciado na venda.

Azeite puro ou ‘batizado’

O azeite de oliva virgem e extra-virgem, que tem como matéria-prima a azeitona, também pode ser alvo de adulterações, segundo Fátima Parizzi, coordenadora de qualidade vegetal do Ministério da Agricultura.

Algumas marcas adicionam óleo vegetal, o que descaracteriza o azeite. O azeite virgem não pode ter edição de nada, deve ser um produto extraído apenas da azeitona. Algumas marcas colocam que vendem azeite virgem ou extra-virgem, mas estão vendendo óleo vegetal misturado.

Além de checar se há óleo vegetal na composição, os fiscais dão outra dica para fugir do azeite “batizado”: unidades que custam menos de R$ 10 não são puros.

A imensa maioria do azeite que compramos no Brasil é importado. Vem da França, Espanha, Portugal, Grécia. Um azeite com um preço muito baixo não é viável para o produtor. Ou seja, ele não conseguiria produzir algo puro e vender por menos de R$ 10, pois teria prejuízo.


+ Serviços