Exportações e ajustes são metas da hora para os empresários do sapato

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 17 de novembro de 2015 às 07:28
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:31
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Vendas realizadas nas feiras de agosto só começam a ser entregues em dezembro

2015 foi o ano mais duro para atrair as indústrias às feiras tradicionais como Zero Grau e Francal (Foto Reprodução)

​O momento não é dos melhores para o setor calçadista. Acompanhando o varejo, as indústrias enfrentam a queda na demanda por seus produtos, o que as obriga a buscar alternativas para se manterem no mercado.

Além de ajuste de custos e da criação de novas linhas, porém, é a retomada da exportação em grande escala, na esteira da desvalorização cambial, que parece alimentar as esperanças do setor. O objetivo é compensar o cenário de queda nas vendas internas, cenário que, afirmam, não deve mudar antes do quarto trimestre de 2016.

“Até lá, esperamos que o quadro se torne mais previsível, acabando com a instabilidade do cenário político”, argumenta o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein.

O executivo ainda afirma esperar que, com isso, o dólar também atinja uma estabilidade, o que traria segurança às empresas para negociarem contratos com outros países. “Até agora, o que houve foram vendas esporádicas, não acordos de longo prazo por conta dessa volatilidade cambial”, comenta Klein, que projeta o dólar a R$ 3,60 para manter o calçado brasileiro competitivo.

Mesmo com o dólar em um patamar bom para o setor, porém, até aqui o quadro é negativo para as exportações brasileiras no ano. No acumulado até outubro, as vendas de calçados ao exterior tiveram uma queda de 12,4% em relação a 2014.

Para Klein, a situação se justifica pela antecedência com que os contratos são acertados. “As vendas realizadas nas feiras de agosto e setembro, quando já se podia prever o câmbio, só começam a ser entregues em dezembro. A ideia é que as exportações decolem a partir daí”, prevê o executivo.

O sentimento é percebido na Zero Grau, feira de negócios entre indústrias e lojistas que teve início ontem, em Gramado. “Nunca foi tão fácil trazer o pessoal de fora para cá”, brinca o presidente da Merkator, realizadora do evento, Frederico Pletsch, que trouxe 150 importadores à feira. Pletsch admite que, em 40 anos no meio, 2015 foi o ano mais duro para atrair as indústrias, mas aposta nas vendas para dar o que classificou como “uma partida muito boa para o ano que vem, com a reabertura do mercado externo como opção viável”.

Diretor administrativo do Grupo Ramarim, de Nova Hartz, Jakson Wirth, por exemplo, afirma que a empresa já registrou aumento de 25% nas exportações, percentual que pretende repetir em 2016 com ações e produtos específicos.

“Com isso, devemos chegar ao fim do ano que vem com 15% do faturamento em vendas externas”, planeja. Até aqui, porém, comenta Wirth, o ano foi marcado pela reestruturação na companhia, substituindo insumos, processos e criando novas linhas de produtos com valor mais baixo para se ajustar ao novo perfil de consumo dos clientes.

Em meio à crise no consumo, porém, as soluções são variadas. Outras estratégias apontadas, por exemplo, vão no sentido inverso, reduzindo a produção mas apostando em um valor agregado maior que compense a queda no volume.

“É um diferencial quando todo mundo está em busca apenas do preço baixo, e acaba dando um giro até maior do que tínhamos antes”, argumenta o superintendente da Crysalis, de Três Coroas, Rafael Odone Wilbert, que reduziu a produção em 30%, para 10 mil pares por dia.

Já o diretor-presidente da Bebecê, também de Três Coroas, Analdo Moraes, conta ter optado por absorver o aumento nos custos das matérias-primas.

“Estamos atuando com rentabilidade quase nula, mas tentando sempre nos mantermos na vitrine, na espera de uma retomada do mercado interno”, argumenta Moraes, que acredita que a situação comece a mudar no segundo semestre do ano que vem.

Klein complementa que, até lá, deve-se continuar a ver redução de atividade fabril no setor, mas comemora o fato de que, ao contrário de crises passadas, não ser percebido um forte movimento de fechamento de empresas. “O setor agora está sólido”, afirma o presidente executivo da Abicalçados.


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