Excessos em festas de fim de ano elevam em até 20% o mau colesterol

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 19:30
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:17
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A boa notícia é que, ao voltar à rotina alimentar, os níveis de gordura no plasma também normalizam

Das comemorações de dezembro, ficam os
presentes, as recordações e as fotos engraçadas. Mas, na virada, boa parte da
população também traz para o novo ano alguns quilos a mais na balança.
Acrescidos, segundo um estudo da Universidade de Copenhague, de taxas elevadas
de colesterol. 

A pesquisa, publicada na revista Atherosclerosis, é a primeira a
demonstrar, em um grupo grande de pessoas, que as festas de fim do ano são
seguidas de um aumento na quantidade de lipídios circulando no sangue. 

A boa
notícia é que, ao voltar à rotina alimentar e ao peso de antes dos excessos, os
níveis de gordura no plasma também normalizam. É importante, portanto, não se
acomodar após as celebrações e correr atrás da silhueta perdida.

Os pesquisadores se basearam no Estudo
Populacional Geral de Copenhague e usaram informações de 25.764 indivíduos com
idade entre 20 e 100 anos. Eles constataram que, comparadas às pessoas que
fazem exame de sangue entre maio e junho, aquelas examinadas de dezembro a
janeiro apresentam taxa de colesterol 15% mais elevada. 

Considerando apenas o
LDL — o chamado “mau” colesterol —, o valor é 20% maior no segundo grupo.
Quanto mais próximo das festividades, maior o aumento dos lipídios no plasma.
Entre os pacientes que entraram no estudo durante a primeira semana de janeiro,
logo após as “orgias gastronômicas”, 77% tinham valores de LDL acima de 116mg/dl,
condição que caracteriza a hipercolesterolemia, e 89% apesentavam colesterol
total acima de 193mg/dl.

Embora estatisticamente o estudo
dinamarquês seja o maior a demonstrar a elevação sazonal do colesterol
associada a um período festivo, os autores destacam que pesquisas realizadas
anteriormente encontraram resultados semelhantes. 

No Reino Unido, uma pesquisa
com 35 pessoas constatou que, imediatamente depois do Natal, houve ganho de
peso e um pequeno aumento nos níveis de colesterol. Já nos Estados Unidos,
cientistas descobriram, em uma amostra de 1.446 homens com diagnóstico prévio
de hipercolesterolemia, que, após as festas, as taxas ficavam 7mg/dl maiores
que no meio do ano, uma elevação de 3%.

De acordo com os autores do artigo e
com especialistas, a pesquisa traz duas mensagens
importantes. A primeira é a de que uma alimentação desregrada associada ao alto
consumo de bebida alcoólica não só engrossa a silhueta, como provoca, muito
rapidamente, um aumento do colesterol. Portanto, quem adota o excesso como
regra, e não apenas no fim do ano, corre risco de hipercolesterolemia, uma
condição que afeta a saúde cardiovascular, com consequências como acidentes
vasculares e infartos. “É grande o número de pessoas que ganha até 6kg depois das
festas e não consegue recuperar depois. Isso vem ocorrendo inclusive entre
crianças”, destaca Claudio Tinoco, diretor científico da Sociedade de
Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj).

Já aqueles que se esforçam para voltar
ao peso e aos hábitos de antes das festas não têm com o que se preocupar. “Para
fazer mal, o colesterol alto tem de estar presente por períodos muito longos.
Um aumento transitório não é suficiente para trazer consequências, desde que a
pessoa consiga retornar ao peso normal”, esclarece Rodrigo Moreira, presidente
da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

A outra lição do artigo é que o
checape anual deve ser adiado para pelo menos fevereiro, pois há risco de se
detectar a hipercolesterolemia e iniciar um tratamento desnecessário de
controle do colesterol. “Nos surpreendeu um aumento de colesterol tão alto depois
das festas. No nosso estudo, nove em 10 pessoas tinham níveis elevados após o
Natal. Seria interessante fazer outro teste mais tarde”, diz Signe Vedel-Krogh,
coautora do estudo dinamarquês. “Sejam aqueles que já têm hipercolesterolemia,
sejam os que costumam ter taxas normais, há um risco aumentado de detecção de
colesterol elevado se fizerem o teste logo após o Natal. É importante que tanto
médicos quanto pacientes estejam atentos quanto a isso”, afirma.

Açúcar

Comidas gordurosas e álcool em excesso
podem ser consideradas as principais responsáveis pelo aumento de peso e de
colesterol após as festas de fim de ano. E o consumo de um ingrediente
encontrado tanto nas iguarias quanto nas bebidas na época de comemorações
aumenta muito nessa época, devendo ser regulado por quem está correndo atrás do
prejuízo: o açúcar.

“No Natal, o consumo de açúcar dispara
devido às bebidas e às comidas tradicionais. Um pedaço de torta vai fazê-lo
ingerir toda sua dose recomendada diária do ingrediente, que é 30g. Uma taça de
quentão contém pouco menos da metade dessa dose, e um pedacinho de empadão,
mais de 22g de açúcar”, exemplifica Franco Cappuccio, da Faculdade de Medicina
Warwick, nos Estados Unidos. “Além de ter um efeito prejudicial para a sua
cintura, o consumo de açúcar acima das taxas recomendadas pode afetar a saúde
de outras maneiras. Ingerir muito açúcar e calorias e aumentar muito o peso
elevam o risco de problemas como doenças coronarianas, alguns tipos de câncer e
diabetes tipo 2”, alerta.


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