Estudo mostra que excesso de peso altera estrutura do coração

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de agosto de 2018 às 18:08
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:55
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Segundo os cientistas, a espessura das paredes dos vasos é considerada o primeiro sinal de aterosclerose

De acordo com estudo publicado esta semana na
revista Circulation, o excesso de peso
durante a juventude pode alterar a arquitetura cardiovascular, aumentando os
riscos de desenvolver problemas cardíacos, como hipertensão e aumento da massa
ventricular.

Os pesquisadores descobriram que o sobrepeso em um
jovem adulto é capaz de ‘engrossar’ o músculo cardíaco, dificultando a passagem
do sangue e forçando o coração a trabalhar mais. Esse espessamento
das paredes dos vasos é considerado o primeiro sinal de aterosclerose, problema
no qual placas de gordura se acumulam nas artérias.

A pesquisa, realizada pela faculdade de medicina
da Universidade de Bristol, no Reino Unido, avaliou milhares de
participantes com idades entre 17 e 21 anos que tinha peso elevado na década de
1990. Esse foi o primeiro estudo a investigar as consequências do alto índice
de massa corporal (IMC) no sistema cardiovascular de
pessoas jovens.

Como acontece o espessamento

Segundo especialistas, o percentual de gordura de
um indivíduo deve ficar abaixo dos 30%; nas mulheres é aceitável entre 18% e
28% e nos homens entre 10% e 20%. Quando a composição corporal sofre alteração
e o índice de gordura é superior a estes valores, ocorre alteração do setpoint metabólico, o que afeta
o tecido adiposo, responsável pela produção de enzinas e hormônios, alguns
capazes de provocar a obesidade.

A produção de algumas destas substâncias, como o
PAI-1 e a resistina, são estimuladas pela gordura corporal e
podem alterar a arquitetura do coração e dos vasos sanguíneos. Quando essas
duas proteínas são liberadas é possível notar uma piora na função cardíaca,
como alargamento da parede ventricular e diminuição da câmara cardíaca.

Diante disso, pode ocorrer uma alteração na pressão
arterial e, em alguns casos, provocar morte súbita. Indivíduos mais jovens
que tem o IMC acima de 30 estão mais expostos a essas substâncias nocivas ao
organismo.

Consequências

Quando uma pessoa está obesa, as câmaras cardíacas,
responsáveis pelo transporte sanguíneo, podem sofrer um aumento do volume
muscular – causado pela pressão arterial. Quando isso acontece, as paredes dos
vasos ficam mais largas e, portanto, o centro da câmara diminui, provocando a
redução do volume sistólico (de sangue). “Isso é especialmente ruim porque
estamos falando de uma alteração cardiovascular em indivíduos jovens (e obesos) com
20-21 anos que não fazem acompanhamento médico apropriado e provavelmente só
vão descobrir o problema duas décadas depois quando o dano for muito maior”,
alerta Guilherme Renke, endocrinologista e membro titular da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Diante do espessamento, a principal preocupação dos
médicos é a insuficiência cardíaca. Segundo Renke, este quadro surge com a
diminuição dos níveis de sangue entrando e/ou saindo do coração, ou seja, ele
não bombeia o sangue como deveria, comprometendo a circulação de oxigênio pelo
organismo. Por causa disso, pessoas que tem a doença encontram dificuldades em
realizar tarefas básicas diárias como subir escadas e, em casos mais graves,
tomar banho sozinho.

Outras descobertas

A pesquisa ainda revelou que um IMC mais alto causa
maior pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD), o que pode danificar as artérias do coração;
associadas ao espessamento do músculo cardíaco, a hipertensão arterial
dificulta o transporte do sangue pelo corpo, levando à doença coronariana.
Especialistas informam ainda que PAD (número inferior) só aumenta em casos
graves. Outra descoberta foi o aumento do ventrículo esquerdo,
principal câmara de bombeamento do coração e parte da estrutura cardíaca
mais comprometido diante do espessamento.

Apesar disso, os cientistas alertam que todos os
participantes do estudo eram brancos, portanto, os resultados podem não se
aplicar à população em geral. De acordo Renke, outras doenças podem afetar
a estrutura cardiovascular de forma similar como hipertensão, tuberculose e
sarcoidose – doença que provoca o crescimento de células inflamatórias em
diferentes partes do corpo. Alguns fármacos também podem desencadear esse
efeito. 

Controle da obesidade

O aumento da obesidade está relacionado a três
fatores: má alimentação, sedentarismo e exposição à substâncias tóxicas. A
primeira deriva da alta procura por alimentos industrializados e o baixo
consumo de frutas, verduras e legumes, especialmente na infância e
adolescência. A diminuição da prática de atividades físicas também aumenta as
chances do ganho de peso – cerca de 80% da população é sedentária, afirma
Renke.

Alguns especialistas acreditam que a exposição à
substâncias tóxicas do ambiente é um fator de risco para a obesidade por serem
considerados disruptores endócrinos, ou seja, elas são capazes de interferir no
sistema endócrino e no funcionamento do organismo.

Assim, para controlar o ganho de peso é necessário
manter esses fatores de risco sobre controle para garantir um futuro
saudável. Em entrevista ao Daily
Mail, Kaitlin Wade, principal autora do estudo, comentou que os
resultados da pesquisa comprovam que o esforço para reduzir o IMC, mantendo o
peso dentro de uma faixa normal e saudável, pode prevenir doenças
cardíacas posteriores.

Reversão de danos

Segundo Renke, a reversão de danos é possível, mas
depende do estágio de avanço do espessamento. “A reversão depende do tamanho do
dano cardiovascular. Quanto mais precoce for a identificação, melhor serão as
chances de redução do problema. No entanto, quando ocorre fibrose muscular, ou
seja, um comprometimento maior, a perda de peso pode ajudar o coração a
funcionar com menos dificuldade, mas será necessário fazer tratamentos
específicos”, explica.

Ele ainda alerta que um número considerável de
pessoas obesas que convivem há muito tempo com o problema preferem não procurar
tratamento por já estarem ‘acostumadas’ a ele. No entanto, tratar a doença,
independente do estágio ou da idade, é fundamental para diminuir os riscos de
complicações futuras.


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