Estabilidade e bons salários atraem cada vez mais pessoas para concursos

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  • Publicado em 23 de agosto de 2018 às 11:24
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:57
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Apesar disso, busca pela carreira pública mostra que é preciso ter clareza e responsabilidade na escolha

Estabilidade e bons salários. São estes os dois principais fatores que levam milhares de pessoas a tentarem todos os anos ingressar em um dos muitos concursos públicos abertos no Brasil. Em Franca e na região isso não é diferente: a cada anúncio de novos concursos, chovem candidatos dispostos a tentarem uma das vagas.

Mas além de querer fugir da insegurança da iniciativa privada, ter segurança de que trabalhando corretamente é possível evoluir, é preciso pensar no que vem depois da aprovação e na prestação do serviço ao público. Isto porque para construir uma carreira pública é preciso vocação. Assim como qualquer profissão, com o tempo o concursado pode perceber que o futuro escolhido é incompatível com sua personalidade. Foi o que aconteceu com Luidgi Marques, 29 anos, que após seis anos como servidor público na área de saúde de Franca, percebeu que não estava feliz.  Ele trabalhava no automático e com o tempo, já não rendia bem no seu cargo. “Estava insatisfeito e isso refletia claramente no meu desempenho e no público”, diz.

Mesmo abrindo mão da estabilidade financeira, Luidgi decidiu ir atrás de seus sonhos, juntou algumas economias e foi estudar Gastronomia no Centro Universitário Senac – Águas de São Pedro, um dos mais conceituados centros de ensino gastronômico do país. Prestes a se formar, diz viver a realização de um sonho. “Não imaginava que poderia ser tão feliz nessa área. O que era um hobby se mostrou uma paixão e, agora, com conhecimentos e técnicas, tenho tudo para buscar meu lugar no mercado. Estou muito otimista”, diz Luidgi, que pretende galgar os degraus necessários até se tornar chef de cozinha.

Entre a cruz e a espada

Para que essa encruzilhada não aconteça, a psicóloga organizacional Emília Cerdeira Soares orienta que o profissional não idealize a profissão e conheça suas desvantagens. “Não basta querer ser servidor, mas ter consciência de quais são os seus sonhos pessoais. Não adianta ter estabilidade, mas não ser feliz”.

A escriturária Alessandra Consuelo Miranda, 54 anos, concorda com a psicóloga, e acredita que a realização no serviço público é uma questão de perfil profissional. Ela já trabalhou na iniciativa privada, e achou a estrutura muito individualista. Segundo ela, as pessoas precisam matar um leão por dia para manter os empregos. “No funcionalismo público, a gente também se esforça muito, mas com outros objetivos, sempre voltados para o coletivo”, explica. “A nossa participação pode ser pequena, mas é ótimo saber que ela existe. Em outra profissão, eu não poderia fazer o que faço”, completa.

Conhecer bem as vagas que o edital oferece ajuda o profissional a não se decepcionar depois de ser aprovado. É fundamental que quem deseja ingressar em função pública não faça isso só pela estabilidade. “Estabilidade é sinônimo de trabalhar a vida toda naquilo, então tem que escolher algo que goste muito”, afirma Darlan Barroso, diretor pedagógico do Damásio Educacional, que prepara para concursos.

Emília vai mais longe ao dizer que prestar um concurso exige responsabilidade. “O que menos precisamos é de pessoas que prestem só para garantir emprego. Tem que querer fazer algo para melhorar o país, a pessoa tem um dever com a sociedade”, enfatiza a psicóloga.