Especialista dará palestra para explicar as relações de fake news e ignorância

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de outubro de 2019 às 19:05
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:54
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Em palestra na USP, o criador do site e-Farsas, Gilmar Lopes, vai mostrar como identificar notícias falsas

As famosas fake news (notícias falsas) ganharam seu espaço no vocabulário e no cotidiano dos brasileiros no início deste século, com maior destaque nos últimos anos.

No Brasil, 62% das pessoas admitem já ter acreditado em alguma notícia falsa, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos e divulgada no fim do ano passado.

Para debater esse tema, o Instituto de Estudos Avançados (IEA) e o Instituto Questão de Ciência (IQC), ambos da USP, vão promover, nesta sexta-feira, dia 11, às 14 horas, o encontro O Que São Fake News?

O evento inclui uma palestra, a ser proferida pelo analista de sistemas Gilmar Lopes. 

Criador do e-Farsas, primeiro site especializado em fact checking do Brasil, Lopes acumula 17 anos de experiência em identificar e desmentir notícias falsas. 

Em sua palestra, ele vai mostrar como usar a própria internet para reconhecer e contestar esse material.

O encontro faz parte do ciclo de debates O Que a Ignorância Tem a Nos Ensinar?, que reúne especialistas para refletir sobre como a ignorância é produzida, aceita e institucionalizada na sociedade. 

Para isso, parte-se do ponto de que a ignorância não é como um vazio. Ela é preenchida de várias formas, e uma delas são as fake news.

“Elas são um caso em que a ignorância serve a fins políticos ou econômicos e é promovida ativamente”, diz o diretor de Comunicação do IQC Carlos Orsi, mediador do encontro.

Segundo ele, apesar do atual debate sobre notícias falsas, o conceito ainda não é muito claro para as pessoas. 

“O público em geral ainda parece um tanto alheio quanto à diferença entre fake news, conteúdo fabricado ou distorcido com intenção de enganar e os equívocos jornalísticos. Enfim, há muito a discutir.”

Orsi acredita em uma espécie de letramento midiático, que dará às pessoas o conhecimento e as ferramentas necessárias para decodificar melhor os conteúdos a que têm acesso, neutralizando parte das fake news.

 Mas faz uma ressalva: “Há o risco oposto, de elas acabarem causando uma espécie de atomização epistêmica, em que cada cidadão terá sua verdade pessoal”. 

O pensamento de Gilmar Lopes é um pouco mais pessimista “Torço para que melhore, mas pelo menos para os próximos anos isso ainda vai piorar muito, principalmente com o avanço das deep fakes”. 

O termo utilizado por Gilmar se refere a uma tecnologia que consiste em, num vídeo, colocar o rosto de uma pessoa no de outra, o que leva as fake news para outro nível, ficando ainda mais difícil de contestá-las.

Essas deep fakes ganharam notoriedade recentemente, a partir do trabalho do jornalista e estudante de Direito Bruno Sartori, que viralizou na internet com vídeos que satirizam figuras públicas, como Jair Bolsonaro e Sérgio Moro. 

Lopes alerta que as notícias falsas também começaram assim, como diversão, apenas para gerar clics e visualizações, e agora seus objetivos são mais perversos.

Para Lopes, que trabalha com o assunto há quase duas décadas, os criadores desse conteúdo falso estão se especializando cada dia mais. 

“Quando comecei, atualizava o site uma vez a cada semana, agora só uma vez por dia é pouco”, diz ele, que também enfatiza não haver lado político nas fake news – elas têm origem em grupos ligados a todas as tendências.

As redes sociais são os lugares de maior propagação desse conteúdo. Por isso, algumas delas estão tomando iniciativas para restringir o material falso. 

O bloqueio de contas no Twitter e no Facebook e a diminuição da monetização de canais que disseminam notícias falsas, feita pelo Youtube, são algumas dessas ações. 

Entretanto, Lopes considera a tentativa das redes sociais um tanto “complicada”, pois, além de serem facilmente revertidas, podem esbarrar na censura. 

Segundo Lopes, as pessoas de mais idade e que acabaram de chegar à internet acham que tudo se resume ao WhatsApp e por isso são mais suscetíveis a acreditar em tudo que circula por lá. 

“O que nós precisamos mesmo é de educação voltada para o uso da internet, para as pessoas saberem como identificar notícias reais e falsas”, completa ele. 


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