Escorpiões se proliferam e picam cada vez mais em ambientes urbanos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 1 de abril de 2018 às 13:01
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:39
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Ministério da Saúde diz que número de mortes por picadas saltou de 2000 a 2016, de 13 para 1124

Eles
são pequenos, entre 10 e 12 cm, discretos, noturnos e tímidos, preferindo se
esconder em lugares escuros e úmidos, como pilhas de entulhos, frestas em
casas, roupas e calçados. Mas quem pisar neles terá uma experiência muito
dolorosa e desagradável. Os escorpiões são aracnídeos, que compreendem cerca de
2 mil espécies no mundo e 130 no Brasil, das quais apenas quatro são
responsáveis pela maior parte dos ataques a humanos no país – que não são
poucos e vêm crescendo

Segundo o Ministério da Saúde, entre 2000 e 2016 o número de vítimas de
picadas desses animais cresceu 628,8%, passando de 12.552 para 91.485. O
aumento do número de mortes foi maior ainda, 853,8%, saltando de 13 para 124,
geralmente crianças ou idosos, no mesmo período.

A quase totalidade desses acidentes é causada pelas quatro espécies mais
conhecidas: escorpião-amarelo (Tityus serrulatus),
escorpião-amarelo-do-nordeste ou escorpião-do-nordeste (Tityus stigmurus),
escorpião-preto (Tityus bahiensis) e escorpião-grande (Tityus obscurus).
Segundo a bióloga Denise Candido, do Laboratório de Artrópodes do Instituto
Butantan, entre e 80% e 90% das picadas registradas no Brasil são das duas
primeiras dessas quatro espécies.

As causas para o aumento do número de acidades envolvendo escorpiões são
bem conhecidas. “Isso certamente está relacionado ao crescimento
populacional desse artrópode, que se adaptou muito bem ao ambiente urbano, onde
encontra abrigo, alimento, e pouco inimigos naturais”, explica o biólogo
Antonio Carlos Lofego, do Departamento de Zoologia e Botânica da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) em São José do Rio Preto.

Além
disso, o escorpião-amarelo e escorpião-amarelo-do-nordeste têm como
característica peculiar a reprodução por partenogênese, ou seja, sem machos,
sem a necessidade de que os óvulos das fêmeas sejam fecundados pelo esperma de
um indivíduo do sexo masculino. “Isso aumenta muito a capacidade de
crescimento populacional, pois cerca de 90% dos indivíduos de uma população são
fêmeas, com capacidade para produzir descendentes”, diz Denise Candido.

Veneno

De acordo com ela, os escorpiões são animais de hábitos
noturnos, que procuram esconderijos durante o dia. Nas cidades, pode ser, por
exemplo, sob um pano úmido, dentro de um calçado, embaixo ou atrás de uma
estante ou numa fresta. “A pessoa não vê o animal e acaba tocando-o com a
mão ou pisando nele”, diz. “Para se defender, ele pica.”

Ao fazer
isso, ele injeta na vítima um veneno neurotóxico, que age no sistema nervoso e
provoca sempre muita dor, a princípio no local da picada, e que, na sequência,
vai se espalhando para todo corpo. “Em muitas pessoas, geralmente adultas,
esse pode ser o único sintoma”, informa Lofego. “Mas o quadro pode
evoluir para complicações maiores.”

Na
verdade, diz Lofego, os sintomas dos pacientes podem ser divididos em três
categorias: leve (dor local suportável, queimação, formigamento), moderado (dor
muito forte, náuseas, vômitos às vezes, respiração acelerada, taquicardia,
salivação e sudorese), e grave (sintomas mais intensos, prostração, convulsão,
coma, insuficiência cardíaca, edema pulmonar).

Segundo Lofego, a evolução para um quadro mais grave pode ser muito
rápida – algo como uma ou duas horas. “Por isso, o atendimento imediato é
fundamental, principalmente para crianças, que são as vítimas que geralmente
apresentam o terceiro quadro de sintomas (grave) e podem morrer”, alerta. “Não ocorrendo a morte, normalmente a vítima se recupera sem
sequelas.”

Prevenção

Para evitar contato com escorpiões e o consequente risco de
picadas, o recomendável é manter esses animais longe das residências. “Para
isso, deve-se evitar o acúmulo de lixo e mantê-lo bem armazenado e fechado,
além de vedar ralos, frestas, soleiras de portas, afastar as camas das paredes
e evitar que cobertas, lençóis e colchas encostem no chão, porque eles podem
subir por elas”, avisa Candido.

Depois que ocorre a picada, a
solução é o soro contra o veneno, que neutraliza sua ação. Um dos centros de
pesquisa que produz esse medicamento no Brasil é o Instituto Butantan, que
possui um viveiro com cerca de 10 mil escorpiões.

Além
disso, a instituição realiza pesquisas, com o objetivo de aumentar o conhecimento
sobre a peçonha desses animais, para entender melhor seus efeitos no organismo
humano.

Há ainda
outras linhas de pesquisa no país, que buscam desenvolver novos medicamentos a
partir do veneno dos escorpiões.


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