De pão francês a papel higiênico – alta do dólar já pesa nos preços

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 25 de agosto de 2018 às 19:26
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:58
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Escalada da moeda americana alcançou mais de 20% neste ano e pressão nos custos já é repassada ao consumidor

O dólar no patamar de 4 reais não aterroriza
somente os planos de quem tem viagem marcada para o exterior. A disparada deve
impactar o bolso do brasileiro.

Preços de massas, pães, produtos de higiene pessoal
e limpeza serão reajustados para compensar essa elevação. A explicação está no
fato desses produtos usarem muitos insumos importados e por isso ficarem
sujeitos ao sobe e desce da moeda americana. “A indústria já começa a repassar
o aumento dos custos ao varejo, que deve transferir parte desse aumento ao
consumidor”, disse o economista da Associação Paulista de Supermercados (Apas)
Thiago Berka.

Um exemplo é o preço do pacote do papel higiênico
branco com quatro unidades. Com o aumento da tonelada da celulose, que é um dos
insumos do produto e tem seu preço em dólar, as notas dos fabricantes para os
supermercados já mostram uma elevação de até 20%. “O aumento para o consumidor,
no entanto, foi de 7%, isso na primeira semana de agosto, quando o dólar estava
a 3,70 reais. Agora, a mais de 4 reais, vai ser difícil segurar esse repasse”.
Em agosto, a moeda americana se valorizou 8,60%. No ano, a disparada supera
23%.

O brasileiro também deve sentir o aumento no preço
do pão francês no final deste mês. Um dos principais insumos do pãozinho é a
farinha de trigo – o país importa 50% do que consome desse item. “Esse é um
produto em que o repasse acontece mais rapidamente. Até julho, o pãozinho ficou
3% mais caro nos supermercados. Em agosto, já observamos uma apreciação
também”, conta o economista.

Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), caso persista a tendência de
alta da moeda americana, além do pão e gasolina, cujos reajustes consideram a
cotação do petróleo no mercado internacional, outros itens devem ter aumento de
preços e pesar no bolso do consumidor. É o caso do azeite, vinhos e peixes,
como o bacalhau e salmão, eletroeletrônicos e as viagens internacionais também
serão afetados.

O presidente da Associação Brasileira das
Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), Cláudio Zanão, culpa o dólar pelo aumento de
custo dos fabricantes do setor. “Na produção de biscoitos, o trigo representa
30% dos insumos e na fabricação de pães industrializados e massas, de 60% a
70%. Com o dólar a esse preço, acredito que os repasses ao varejo acontecerão
até setembro. Vai depender do nível de estoque de trigo de cada empresa e de
quanto ela está disposta a ver suas vendas caírem”, disse Zanão.

Segundo ele, as vendas de biscoitos, macarrão e
pães industrializados caíram 3% no primeiro semestre na comparação com igual
período de 2017 – tendência que ele diz acreditar que permaneça até o final do
ano. “Quem pode suportar o aumento dos custos vai segurar os preços para não
perder participação de mercado. Mas essa não é a realidade da maioria das
empresas do setor que, além de serem pequenas ou médias, são regionais”,
ressaltou.

O consumidor deve se preparar para esses aumentos
de preços por um bom tempo, segundo João Luiz Mascolo, professor de economia do
Insper. “O dólar a 4 reais vai permanecer por uns dois meses, e as empresas vão
acabar repassando a elevação de custos para os preços, principalmente aquelas
que não têm políticas de proteção cambial, os hedges. Elas ficam
contanto com a sorte”, alertou o professor.


+ Economia