Davi Miguel volta ao Brasil no fim de março sem ter realizado transplante

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 13 de março de 2019 às 00:00
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:26
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Criança vivia em Miami com os pais há três anos, mas foi considerado inapto para cirurgia no intestino

O menino francano Davi Miguel
Gama, de 04 anos, deve voltar ao Brasil no dia 23 de março.

A criança, que tem uma doença
rara no intestino, vive há três anos em Miami, nos EUA, desde que a Justiça
obrigou a União a custear as despesas de um tratamento e de um transplante.

O procedimento, no entanto,
não foi feito porque Davi não foi considerado apto para a cirurgia, segundo
médicos do Jackson Memorial Hospital.

Procurado, o Ministério da Saúde informou que recebeu,
no final de fevereiro, o relatório médico da criança. “O processo foi
encaminhado à área responsável, que está realizando as providências finais para
o retorno da criança ao Brasil”, informou em nota.

A União deverá arcar com o remanescente das despesas nos
EUA, conforme consta em acordo na Justiça Federal.

Viagem de volta

A informação sobre a viagem foi divulgada pela família no perfil de uma
rede social. “Hoje a notícia que temos é sobre o retorno do Davi Miguel.
Embarcamos para o Brasil no dia 21 de março à noite, em Miami, e a chegada será
às 5h30 da manhã, em São Paulo (…) Contamos com as orações de cada um e
agradecemos o carinho de sempre com nosso guerreiro”, diz o post publicado no
domingo, 10 de março.

Jesimar disse que a viagem será feita em voo comercial, uma vez que os
médicos do hospital americano descartaram a necessidade de uma aeronave com
Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “A gente está com um pouco de receio, mas o
médico autorizou. Estamos torcendo para que dê tudo certo. Que ele saia bem
daqui e chegue bem aí.”

Segundo o pai, Davi está há
nove meses sem ser internado e o quadro de saúde do filho é bom. A criança
continua recebendo a nutrição parenteral, uma vez que o organismo não é capaz
de absorver nutrientes dos alimentos.

A deficiência do intestino é
conhecida como doença das microvilosidades ou diarreia intratável. “Ele está
bem, estável. Sempre tem os exames periódicos, toma duas injeções por dia. Hoje
ele tem que tomar três, por causa de uma vitamina. Desde junho do ano passado
ele não é internado. Está ativo, está bem.” 

Transplante

Antes da decisão que condenou a União a pagar os custos, os
pais, Jesimar e Dinea Gama, mobilizaram uma campanha que arrecadou R$ 1,5
milhão e contou até mesmo com a ajuda de famosos. Parte do dinheiro foi usado
nas despesas pessoais do casal e do filho, conforme determinado pela Justiça.

Em 2015,
Davi Miguel foi aceito no Jackson Memorial Hospital, único centro médico no
mundo habilitado para o procedimento em crianças com peso entre sete e dez
quilos. Porém, consta nos autos do processo que, ao ser submetido a uma
avaliação pela equipe de especialistas em Miami, verificou-se que o menino não
estava apto ao transplante.

Os pais
afirmam que Davi Miguel foi retirado da lista dois meses após a chegada. No
entanto, em novembro de 2018, o Jackson Memorial Hospital informou que a
criança nunca integrou a lista nacional. 

Acordo para retorno ao Brasil

Em fevereiro de 2018, o Ministério da Saúde encaminhou um
e-mail à Justiça Federal para informar que o médico havia recomendado o retorno
de Davi Miguel ao Brasil.

Diante
da inviabilidade do transplante, por ora, em razão da perda dos acessos venosos
e da falta de perspectiva quanto à recuperação deles, a família e a União
manifestaram interesse no retorno e ao prosseguimento do tratamento no Brasil.

Em
dezembro de 2018, um acordo foi firmado na Justiça Federal com os trâmites para
o retorno da família.

Davi Miguel deverá ser
internado no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, administrado pelo
Hospital Sírio Libanês, em São Paulo (SP). Ele passará por exames e a equipe
deverá fazer a compatibilização do tratamento para os protocolos nacionais,
além de treinar a família para cuidar dos cateteres usados para a nutrição
parenteral.

As três
passagens aéreas para São Paulo, ao custo de 1,8 mil dólares, já foram
compradas por Jesimar, que recorreu a um empréstimo para o pagamento. Segundo o
Ministério da Saúde, os valores serão reembolsados após a apresentação dos
recibos. O remanescente das despesas da família nos EUA terão que ser pagos
pela União.

Após a
internação, o serviço de home care será implementado em Franca, onde Davi
Miguel vai voltar a morar com os pais.

Ele continuará a passar por
consultas periódicas em São Paulo. Todos os recursos são provenientes do
Sistema Único de Saúde (SUS) e o tratamento está assegurado pelo período que
Davi Miguel precisar.

O acordo
ainda prevê que R$ 10 mil do saldo remanescente da campanha sejam reservados
para repasse aos pais durante cinco meses, tempo para readaptação. Caso seja
insuficiente, a União deverá fazer a complementação.


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