Conta de luz continuará mais cara por tempo indeterminado

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 29 de outubro de 2017 às 05:46
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:24
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Com baixo nível dos reservatórios e falta de chuvas, tarifa extra continua no patamar mais alto

Não há previsão para que a bandeira vermelha no patamar 2, o mais alto deles, deixe de ser aplicada às contas de luz enquanto as chuvas não vierem num nível satisfatório. 

A declaração é do diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, que reconhece, porém, que o patamar acionado é “muito alto”. 

A Aneel anunciou que a bandeira tarifária que será aplicada nas contas de luz de novembro será a vermelha patamar 2, o que representa um acréscimo de R$ 5 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

Segundo a agência, não houve evolução na situação dos reservatórios das usinas hidrelétricas em relação ao mês anterior. “Quando falamos de bandeira no patamar 2, significa que estamos com escassez de água no reservatório, que temos um custo alto para gerar energia”, disse Rufino, que participou ontem do 1º WTC Fórum de Energia BH, onde falou dos desafios do preço da energia diante da falta de água nos reservatórios. Ele informou que a mudança vai depender do nível de chuvas, que está abaixo do esperado.

“Ainda que não haja risco de desabastecimento de energia elétrica, é preciso reforçar as ações relacionadas ao uso consciente e combate ao desperdício”, diz a Aneel, que, na terça-feira, aprovou uma proposta de reajuste de quase 43% sobre o atual valor da bandeira tarifária vermelha patamar 2. Com isso, a taxa extra subiu de R$ 3,50 para R$ 5 a cada 100kWh consumidos.

A bandeira vermelha patamar 2 foi acionada pela primeira vez este mês desde que o sistema passou a contar com duas graduações para a cor vermelha, em janeiro de 2016.

A crise hídrica no país é maior do que a que passou o Brasil em 2001, mas não há risco de racionamento, segundo o diretor-geral da Aneel, que pediu aos consumidores que colaborem para ajudar na situação de escassez hídrica. 

“O consumidor deve reagir a esse sinal, consumindo de maneira consciente, evitando o desperdício de maneira consciente. Assim, ele ajuda seu próprio bolso, porque consumindo menos a conta fica mais barata, ele ajuda o sistema elétrico de maneira geral e o Brasil, porque geração térmica tem impacto ambiental”, afirmou.

Segundo ele, as grandes usinas, localizadas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste têm tido ano após ano um regime hidrológico desfavorável. Em setembro, foram registrados os piores índices em 80 anos.

Mesmo com os baixíssimos índices, Rufino descarta o risco de racionamento. “A crise hídrica está até pior, mas naquela oportunidade, em 2001, dependíamos praticamente 100% de geração hidrelétrica, quase toda a matriz, mais de 90%, era baseada no setor hidrelétrico”, afirmou. 

Segundo o diretor, hoje há outras fontes, como as usinas eólicas, solar, geração térmica, gás, carvão e biomassa. “Temos outras fontes que nos dão segurança de que não haverá mais risco de desabastecimento. Mas fica mais caro”, disse.

Por causa do atual cenário de falta de chuvas, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) decidiu que vai fazer reuniões semanais para analisar as condições de fornecimento de energia no país. 

Até terça-feira, o nível médio dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, os mais importantes do país, estavam em 17,9% de sua capacidade máxima. No mesmo período de 2001, quando houve um grande racionamento de energia do país, o índice estava em 21%.

USINAS 

Rufino também falou da venda das usinas da Cemig, que, segundo ele, gerou um estresse, e afirmou que a estatal mineira está sendo acompanhada pela agência reguladora para entregar um plano de melhoria dos serviços. 

De acordo com ele, as contas devem subir por causa do leilão de concessão das usinas de Jaguara, Miranda, São Simão e Volta Grande.

“Essa licitação impacta o preço da energia sim, porque está tirando energia mais barata alocada na forma de cota no seu lugar vai colocar uma mais cara, resultado do leilão. Esse impacto é para o consumidor do Brasil, não só de Minas, da ordem de 1% ou 1,2%”, afirmou.

O presidente da Cemig, Bernardo Alvarenga, que também participou do evento sobre energia, disse que a estatal já procurava se adaptar à possível perda das usinas desde 2012, quando foi editada a Medida Provisória 579.

“Apesar de que nosso entendimento é que temos a renovação de mais 20 anos das usinas. De certa forma, fomos desapropriados, nos tomaram as usinas. E o governo atual que tanto criticou a MP 579 veio ratificar, aproveitando de uma situação para poder auferir recursos para o deficit público”, criticou.

Alvarenga disse que a expectativa da Cemig era que pudesse ter de volta as usinas, que a estatal já estava só operando e mantendo. Como não foi possível, a perda de receita futura estimada é de R$ 1 bilhão por ano. 

O presidente da Cemig diz que a empresa tem sido procurada pelos vencedores do leilão e não descarta alguma parceria. “Estamos conversando, a gente não pode abrir mão de nenhuma possibilidade de negócio”, disse. 


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