Substâncias do café podem inibir avanço do câncer de próstata

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 31 de março de 2019 às 12:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:28
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Apesar da necessidade de mais testes, resultados podem render novos medicamentos no futuro

Uma das bebidas mais consumidas no
mundo pode ser a esperança de novas terapias oncológicas, segundo um grupo de
cientistas chineses.

Os pesquisadores usaram dois compostos
presentes no grão de café para tratar ratos com tumores de próstata. A
intervenção experimental diminuiu o crescimento dos cânceres, principalmente
quando as duas moléculas foram usadas em conjunto.

Apesar da necessidade de mais testes,
os autores do estudo acreditam que os resultados, divulgados no último
Congresso Europeu da Associação de Urologia, em Barcelona, podem render novos
medicamentos no futuro.

O café é um dos alimentos mais
estudados quanto aos efeitos que pode provocar no organismo, e já se mostrou benéfico
no combate e na prevenção de algumas doenças. Para entender melhor esse
impacto, os pesquisadores decidiram avaliar o potencial do grão contra o tumor
de próstata. 

Na primeira parte da investigação, eles testaram seis compostos
encontrados naturalmente no café, para verificar como as substâncias agiam na
proliferação de células cancerosas da próstata humana cultivadas in vitro. 

Descobriu-se que as células tratadas com os
compostos acetado de kahweol e cafestol, ambos hidrocarbonetos presentes no
café comum, cresceram mais lentamente que as células doentes não tratadas com
os compostos (grupo controle).

Em uma segunda etapa, os pesquisadores testaram as
substâncias em um grupo de 16 camundongos, que receberam células cancerígenas
da próstata por meio de transplantes. No grupo, quatro roedores ficaram como
controle, quatro foram tratados com acetato de kahweol, quatro com cafestol, e
o restante das cobaias com combinação dos compostos. Os cientistas observaram
que, após 11 dias de tratamento, o acetato de kahweol e o cafestol inibiram o
crescimento das células cancerosas em camundongos, mas o uso combinado das
moléculas pareceu funcionar melhor do que em separado, retardando
significativamente o crescimento do tumor, comparado aos animais não tratados.

Efeitos

“Descobrimos que o acetato de kahweol
e o cafestol inibiram o crescimento das células cancerosas em camundongos, mas
a combinação pareceu funcionar sinergicamente, levando a um desenvolvimento do
tumor bem mais desacelerado do que em ratos não tratados”, contou, em um
comunicado à imprensa, Hiroaki Iwamoto, principal autor do estudo e pesquisador
do Departamento de Terapia Câncer Integrativa e Urologia da Universidade de
Kanazawa, no Japão. Os pesquisadores também ressaltaram que não foram
registradas células tumorais nativas, ou seja, que se replicaram no corpo. “O
que isso mostra é que esses compostos parecem ter um efeito até sobre células
que hoje são resistentes a drogas usadas atualmente no tratamento do câncer”,
frisou o autor da pesquisa.

Os autores do trabalho destacaram que a pesquisa
precisa ser mais aprofundada, já que ainda não é possível dizer se o mesmo
efeito visto nos camundongos ocorre em humanos. “É importante manter essas
descobertas em perspectiva. Esse é um estudo piloto. Então, o trabalho mostra
que o uso desses compostos é cientificamente viável, mas precisa de mais
investigação. Isso não significa que as descobertas podem se repetir em
humanos”, ponderou Iwamoto.

“Os dados são promissores, mas não devem fazer as
pessoas mudarem o consumo de café. O café pode ter efeitos positivos e
negativos se consumido em excesso (por exemplo, pode aumentar a hipertensão),
por isso precisamos descobrir mais sobre os mecanismos por trás desses achados
antes de pensarmos em aplicações”, frisou o autor. Apesar disso, ele disse
acreditar que, com os bons resultados verificados, a possibilidade de novos
medicamentos com base nas moléculas que compõem o café é um objetivo a ser
conquistado. “Se pudermos confirmar esses resultados, podemos ter novos
candidatos para tratar o câncer de próstata resistente”, complementou.

Rafael Rocha Vidal, uro-oncologista do Centro de
Oncologia Santa Lúcia, em Brasília, considerou que a pesquisa mostra dados
interessantes, ressalvando, porém, que o estudo ainda é experimental. “Assim
como qualquer tipo de pesquisa inicial, ela suscita hipóteses. No caso desse
trabalho, é vista a possibilidade de que elementos presentes no café possam ter
algum efeito protetor ou até inibitório de alguns mecanismos envolvidos no
câncer de próstata”, destacou o especialista.

Vidal lembrou que os efeitos do
ambiente, principalmente a dieta, em relação ao câncer já são conhecidos. “Não
tenho a menor dúvida de que o padrão alimentar e o estilo de vida podem
influenciar doenças como os tumores. Temos na literatura estudos que mostram
como quem ingere café possui chances menores de ter câncer, mas esses estudos
ainda não conseguiram provar isso, é algo muito precoce”, observou o médico. “É
algo que merece ser mais estudado, entender como esses alimentos agem, se isso
está ligado à reação da microbiota do indivíduo. Sabemos que os orientais
possuem menos dados de câncer e é possível que isso seja justamente por causa
de uma dieta diferente, que contém alimentos mais saudáveis”, acrescentou.

Para o bem e o mal

Pesquisas científicas já mostraram que
doses diárias de café podem evitar problemas de saúde como a insuficiência
cardíaca contribuir para o combate a depressão e para a melhora da memória,
além de ajudar no emagrecimento, pois auxilia no aceleramento do metabolismo.
Já o consumo exagerado da bebida pode causar azia constante e também o
desenvolvimento de problemas como a gastrite e a úlcera.


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