Chuva antecipa plantio e produção de amendoim deve crescer 5% na região

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 23 de novembro de 2018 às 16:12
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:11
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Jaboticabal, Sertãozinho, Dumont e Ribeirão Preto concentram uma das maiores produções de SP

As chuvas chegaram na hora
certa e os produtores de amendoim em Jaboticabal, Sertãozinho, Dumont e
Ribeirão Preto, região da Alta Mogiana, preveem colher mais do que o ano
passado.

Com a antecipação do início do
plantio em um mês e as condições climáticas favoráveis até agora, agricultores
estimam um crescimento de, pelo menos, 5% na produção.

Segundo José Antonio Rossato Junior, presidente da
Cooperativa Agroindustrial de Jaboticabal, a Coplana, que representa 140
produtores de amendoim, ainda é cedo para falar em incremento na safra da
região, mas a conjuntura climática tem contribuído para um cenário de otimismo.
“Este ano, a colheita da cana foi antecipada, favorecida pela estiagem,
liberando áreas mais cedo para o plantio do amendoim. Logo na sequência, a
chuva veio e favoreceu entrar com a cultura.”

O amendoim é plantado nos
intervalos de reforma dos canaviais. Em anos anteriores, vinha sendo semeado a
partir de outubro. Mas, neste ano, máquinas já estavam no campo na primeira
quinzena de setembro. De acordo com Rossato, 95% do plantio estão concluídos.
“Em outros anos, faltariam, nessa época, ainda uns 15% a 20%”.

Como o amendoim tem ciclo de, aproximadamente, 120 dias,
a colheita deve começar no início de fevereiro, o que vai permitir, também,
antecipar a devolução de áreas para a cana.

Produção paulista

A Alta Mogiana está entre as duas regiões que mais produzem amendoim no
estado de São Paulo – a outra é a Alta Paulista, onde está Marília. Para o
estado, que responde por 95% da produção nacional, a Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab) estima um salto nos números do amendoim primeira safra, como
é chamado o que é cultivado nesta época do ano e que responde pela maior parte
da produção paulista.

Segundo a companhia, o aumento pode chegar a 4,2%, de 477,7 mil
toneladas no período 2017/18 para 498 mil toneladas na próxima colheita. A
projeção mínima é de um crescimento de 1,7%, o que totalizaria 485,9 mil
toneladas. Só os associados da Coplana devem contribuir com cerca de 90 mil
toneladas – quase um quinto da produção estadual.

A área plantada em São Paulo, ainda de acordo com a companhia, também
deve crescer, de 124,7 mil para 131,6 mil hectares – um acréscimo de 5,5%.

Foi o que aconteceu com Edval Luiz de Souza, agricultor em Jaboticabal.
Em 2017, ele plantou 150 alqueires. Já este ano, serão 165. Dez alqueires são
próprios. O restante é arrendado de produtores de cana e usinas de açúcar e
álcool.

Produtor de amendoim há mais
de 30 anos, de uma família que teve o avô no café e o pai no algodão, ele foi
um dos que conseguiram plantar mais cedo. E comemora. “Se continuar chovendo, a
expectativa é bem positiva. Deveremos, sim, aumentar a produção, apesar de
ainda não ser possível estimar quanto.”

Outro que está bastante confiante é Fernando Ferreira,
também de Jaboticabal. Há sete anos na cultura, mas de uma família que produz
amendoim há 32, ele tem 15 alqueires de área própria e arrenda mais 15.
Classifica a fase de “plantio” como excelente e espera colher, pelo menos, 5% a
mais que no ano passado. 

Casamento
perfeito

A produção de amendoim é uma das que mais crescem no país –
cerca de 12% ao ano. Além de famílias tradicionais, que cultivam o grão há
décadas, Rossato atribui o protagonismo do estado de São Paulo ao “casamento
perfeito” com a cana.

Como o
amendoim ocupa apenas áreas de renovação de canaviais, a cada ano ele é
plantado em locais diferentes, nutrindo o solo, geralmente empobrecido pelos
sucessivos cortes de cana. Isso porque ele tem, em suas raízes, bactérias que
fixam nutrientes na terra. “Esse é
um ambiente perfeito para qualquer cultivo agrícola. Como os canaviais são
renovados a cada cinco ou seis cortes, o amendoim só volta para a mesma área
cinco ou seis anos depois. Ou seja, ele é cultivado como num mosaico. Isso
evita, também, a exaustão do solo. Uma área que produzisse só amendoim por
muitos anos não se sustentaria”, afirma Rossato. 

Mercado externo

Na área da Coplana, 60% do amendoim têm, como destino, a
exportação. A cooperativa envia o produto para países dos cinco continentes. O
principal mercado é a Europa. Considerando todo o estado, o índice vendido ao
exterior, segundo a Conab, chega a 70%.

Rossato
explica que há espaço para que o cultivo continue em alta, mas que o mercado
interno está saturado. “Os aumentos dependem da abertura de novos mercados no
exterior.”

Para
isso, o controle de qualidade é importante. Para avaliar o amendoim que chega
do campo, a Coplana conta, por exemplo, com tecnologias que permitem testes
rápidos para avaliar a contaminação por aflatoxinas, compostos químicos tóxicos
ao homem e a animais e que representam uma das principais ameaças ao bom
desempenho da cultura. “Houve, ao longo dos anos, uma
curva de aprendizagem para lidar com as aflatoxinas. Elas ainda são uma ameaça?
São. Mas menor que no passado.”

Uma
segunda aposta da cooperativa para chamar a atenção do exterior é o decreto
assinado em janeiro pelo governo estadual que reconhece Jaboticabal como a
“capital do amendoim”. Para Rossato, o título, além de significar
reconhecimento, pode atrair investimentos de empreendedores, institutos de
pesquisa e consolidar a cidade no mercado internacional como sinônimo de
qualidade.


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