Chega ao Brasil o novo e potente antibiótico para combater superbactérias

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 17 de maio de 2018 às 00:55
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:44
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Novo medicamento mostrou 87% de eficiência no combate à terceira bactéria mais resistente do mundo

Um novo antibiótico
vai ser disponibilizado no Brasil para o tratamento de infecções causadas por
algumas bactérias resistentes.

Com o nome comercial
de Zerbaxa, o medicamento foi
aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no começo do
ano para o tratamento de infecções intra-abdominais e infecções do trato
urinário mais complicadas. Ele estará disponível para uso ainda esta semana. De acordo com a agência, 25% dos casos de
infecção no país são causados por organismos multirresistentes.

Uma
das indicações dessa medicação é para tratamento de doenças causadas pela bactéria
Pseudomonas aeruginosa, considerada uma das três
bactérias mais resistentes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Para tratar
infecções bacterianas, os médicos normalmente optam por utilizar meropeném –
classe de antibióticos considerada mais forte e de amplo espectro -, mas o uso
indiscriminado pode elevar ainda mais os índices de resistência bacteriana. O
objetivo agora é usar o novo tratamento como uma opção anterior aos meropeném
para que ele seja utilizado apenas casos extremos. 

Superbactérias

As bactérias super-resistentes têm sido cada vez
mais discutidas por organizações de saúde internacionais devido ao crescimento
no número de casos reportados. Estima-se que 700.000 pessoas morram
anualmente em todo o mundo por causa desse tipo micro-organismo.

Recentemente, dados
revelam que até 2050 as infecções provocadas por superbactérias devem causar,
anualmente, a morte de 10 milhões de pessoas em todo o mundo, número superior
às previsões de mortes por câncer.

De acordo com Lessandra Michelin, infectologista
na Universidade de Caxias do Sul (UCS), a utilização indiscriminada de
antibióticos na medicina e na veterinária, assim como na agricultura e na
pecuária, têm resultado em pressão seletiva de bactérias, o que significa dizer
que elas morrem ou desenvolvem genes de resistência que serão passados para as
próximas geração.

Por causa disso, antibióticos eficientes contra
superbactérias são imprescindíveis já que, sem eles, muitos procedimentos
médicos, como cirurgias e quimioterapia para pacientes com câncer, por
exemplo, poderiam ser suspensos ou postergados. “Nós utilizamos
antibióticos em complicações infecciosas de diversos procedimentos
hospitalares, o que possibilitou inúmeros avanços em várias áreas da
saúde, incluindo os transplantes, por exemplo. Se as bactérias se tornarem
resistentes aos antibióticos que temos disponíveis hoje, poderemos voltar
à era pré-antibióticos, onde um simples ferimento infectado poderá causar
graves danos”, alerta Clóvis Arns, infectologista e professor da Universidade
Federal do Paraná (UFPR).

Funcionalidade do Zerbaxa

ceftolozana-tazobactam,
comercialmente conhecido como Zerbaxa, foi desenvolvido pela farmacêutica MSD e
é de uso hospitalar para tratar pacientes com infecções
intra-abdominais e infecções do trato urinário, ambas de maior
complexidade. De acordo com estudos clínicos, o novo antibiótico
demonstrou 87% de eficácia no tratamento de infecções
intra-abdominais quando comparado ao tratamento padrão com meropeném
(83%). Já para o tratamento de infecções do trato urinário causadas
pelas P. aeruginosa, os números foram ainda mais
expressivos, com aproveitamento de 75%, se comparados aos do levofloxacino
(47%), que é um dos tratamentos contra esse tipo de infecção.

Pseudomonas aeruginosa

Cerca de 40% dos casos da P. aeruginosa
detectados no país apresentam resistência aos carbapenêmicos, como o
meropeném. O novo antibiótico será importante no tratamento de bactérias
gram-negativas (bactérias de estrutura complexa), principalmente pseudomonas,
que são resistentes a vários antibióticos.”O ceftolozana-tazobactam é
uma arma importante que está chegando ao mercado para auxiliar os médicos
nessa luta, pois ainda perdemos pacientes com infecções por
bactérias multirresistentes”, explicou Lessandra.


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