Celulares se tornam principal forma de acesso à internet no Brasil

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 25 de julho de 2018 às 00:54
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:53
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O levantamento divulgado na última terça-feira, 24 de julho, é um dos mais importantes do país sobre o tema

A conexão à internet somente pelo
celular se tornou a forma mais comum de navegar na web no Brasil. A
conclusão é da pesquisa TIC Domicílios 2017, produzida pelo Centro Regional de
Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC.Br), vinculado
às Nações Unidas e ao Comitê Gestor da Internet no Brasil. O levantamento
divulgado na última terça-feira, 24 de julho, é um dos mais importantes do país
sobre o tema.

Em 2017, 49% dos lares brasileiros
dependiam de um celular para acessar a rede mundial de computadores. O índice
foi pela primeira vez superior aos domicílios que usam tanto dispositivos
móveis quanto computadores de mesa (os chamados desktops) para se
conectarem. Dos lares pesquisados, 19% acessavam a internet mas não possuíam
computador.

A exclusividade da conexão móvel está
mais presente nas classes de menor renda. Enquanto na classe A o índice de
domicílios com acesso à web e computador é de 98%, nas classes D e E esse
índice é de apenas 7%. Entre os usuários deste segmento, 80% dependem de um
celular pra navegar. Essa prevalência se manifesta também nas áreas rurais
(72%) e no recorte de gênero, estando presente mais entre mulheres (53%) do que
entre homens (45%).

O fator socioeconômico foi confirmado
pelos entrevistados como barreira. A dificuldade de pagar pelo serviço foi
apontada como principal obstáculo à conexão, mencionado por 27% dos entrevistados.

Os dados revelam desigualdade no
acesso à internet em geral com índice na casa dos 30% nas classes D e E e em
99% na classe A. “Existe uma população de internautas no Brasil que tem relação
exclusivamente mediada pelo telefone celular. Isso está ligado ao marcador
socioeconômico. Os de A e B combinam atividades mais convenientes pelo celular
e outras pelo computador, quando requer teclado ou tela maior. Quem não tem
acesso ao computador utiliza apenas o celular e isso acaba sendo um fator de
limitação dos serviços que a pessoa acessa e das habilidades que vai
desenvolver”, analisa Winston Oyadomari, coordenador da pesquisa.

O coordenador acrescenta que esta
exclusividade da conexão móvel muitas vezes não significa que seja por meio de
tecnologias 3G ou 4G, ficando limitada, em determinados casos, apenas às
transmissões sem fio conhecidas como Wi-Fi.

Limites
econômicos

Na avaliação de diretor do Sindicato
Nacional das Empresas de Telefonia e Serviço Móvel Celular e Pessoal
(Sinditelebrasil), Alexander Castro, as restrições econômicas de uma parcela da
população fazem com que ela busque a conexão via celular em razão dos planos
serem mais acessíveis e terem mais opções. “A banda larga móvel apresenta muito
mais opções para a população, em termos de planos e preços, do que a banda
larga fixa. Esta última trabalha com o plano ilimitado, com variação por
velocidade”, compara.

Segundo Castro, o preço médio do
megabit no Brasil caiu de pouco mais de R$ 21,8 para R$ 4,64 entre 2011 e 2017.
Contudo, por conta da situação econômica do país ainda há dificuldade nas
camadas mais pobres de adquirir o serviço. “Com a crise, o desemprego, a
população se manteve sem condições de contratar, mesmo com a queda nos preços”,
opina.

Qualidade

Na avaliação da advogada que ocupa
uma das representações da sociedade civil no Comitê Gestor da Internet Flávia
Lefévre, o aumento da dependência do celular é uma tendência preocupante, já
que evidencia a desigualdade entre ricos e pobres no acesso à Internet. Além
disso, as limitações destes aparelhos e das conexões móveis, como planos com
limites de dados, fazem com que a qualidade do acesso seja consideravelmente
pior. São restrições que dificultam tarefas como assistir a filmes, baixar
documentos pesados, usar chamadas de voz, acessar serviços de governo
eletrônico, entre outros.

Para Lefévre, que também integra a
campanha Internet Direito Seu, os brasileiros que dependem do celular vão ficar
a mercê de pacotes limitados e dos serviços patrocinados, que não consomem
dados da franquia. “Essas pessoas vão ficar sujeitas aos aplicativos
‘gratuitos’, à seleção editorial do Facebook. A internet vai virar o Facebook,
o Whatsapp ou os apps definidos pela operadora. A gente não pode considerar que
alguém com essa qualidade de acesso esteja sendo incluído digitalmente”,
comenta.


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