Cana: Unesp vai coordenar pesquisas em parceria com o setor produtivo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 24 de fevereiro de 2020 às 11:10
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:24
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Proposta selecionada pela Fapesp contou com apoio de diversos órgãos, além da Unesp e Unifran

Com o gradual, planejado e ambientalmente desejado fim das queimadas como estratégia à colheita de cana-de-açúcar no Estado, a indústria sucroenergética foi em busca de ferramentas inovadoras.

Ecologicamente adequadas, pesquisas são para combater antigas pragas e doenças prejudiciais ao cultivo da cultura, como bicudo-da-cana (Sphenophorus levis), lagarta peluda (Hyponeuma taltula) e síndrome do murchamento da cana.

Detentora de um conhecimento de 30 anos de trabalho de campo aplicando o manejo integrado de pragas, que prega o respeito aos fatores ambientais envolvidos no cultivo de determinada cultura e privilegia o uso de agentes de controle biológico, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) foi a instituição escolhida para liderar o Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar.

O edital foi concebido a partir da parceria da Fundação de Ampparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Grupo São Martinho, uma das maiores empresas do setor no Brasil, com três usinas em operação em São Paulo e uma em Goiás.

Soluções competitivas

O Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar, o primeiro sob a coordenação da Unesp, tem como principal objetivo encontrar soluções eficazes e competitivas para o controle de pragas e doenças que prejudicam a produção de cana-de-açúcar, estratégica para a economia brasileira.

O trabalho reunirá 31 pesquisadores, de nove instituições diferentes, sendo 18 deles da própria Unesp, e receberá um aporte de aproximadamente R$ 8 milhões durante os cinco primeiros anos de funcionamento, podendo ser prorrogado por igual período com novo aporte de recursos. 

São, no máximo, dez anos de financiamento, com metade dos valores bancados pela Fapesp e a outra metade, pelo Grupo São Martinho.

Esse modelo de financiamento de longo prazo tem como finalidade promover uma forte interação entre a universidade e o setor produtivo. 

A missão principal, segundo a Fapesp, é executar projetos de pesquisa complexos orientados a problemas e à busca de resultados bem definidos, que colaborem para a formação de um centro de pesquisa de classe mundial durante sua existência.

“O principal objetivo desses centros é desenvolver pesquisas inovadoras, formar recursos humanos, desenvolver talentos e ser um centro de referência internacional”, afirma o professor Odair Aparecido Fernandes, do Departamento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agronômicas e Veterinárias (FCAV), do campus de Jaboticabal da Unesp, que coordenará o novo Centro de Pesquisa em Engenharia.

“O Grupo São Martinho contatou a Fapesp com demandas na área de fitossanidade de cana-de-açúcar, com destaque para problemas com insetos pragas e doenças, elencou uma série de perguntas e demandas que o grupo e o setor possuem e nós percebemos que tínhamos a competência e a expertise necessárias para responder esses questionamentos e atender essa demanda”, afirma o docente da FCAV-Unesp.

Seleção

A proposta selecionada pela Fapesp e pelo Grupo São Martinho, que contou com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unesp (Prope) e da Agência Unesp de Inovação (Auin), envolve parcerias da FCAV com o campus de Sorocaba da Unesp, o Centro de Cana de Ribeirão Preto do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, a Esalq-USP, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a Unifran (Franca), a Uniso (Sorocaba) e a Cooperativa Agroindustrial (Coplana), localizada na cidade de Guariba, que será responsável pela transferência de tecnologia para o setor sucroenergético.

O plano do Centro de Pesquisa em Engenharia tem como pré-requisitos a existência de pesquisa internacionalmente competitiva, a previsão de meios para a transferência de tecnologia e a difusão do conhecimento. 

Dessa forma, estão envolvidos no projeto professores da área da educação para promover ações educativas em escolas públicas de ensino básico de Jaboticabal, parte da estratégia de disseminação do conhecimento exigida pelo edital.

O Centro de Pesquisa em Engenharia liderado pela Unesp terá também um grupo internacional de pesquisadores, com notória experiência na cultura de cana-de-açúcar e, particularmente, em fitossanidade, que será responsável pela avaliação da evolução do trabalho desenvolvido no âmbito do centro de pesquisa. 

Além de brasileiros, compõem o grupo cientistas da França, Dinamarca, Canadá e Estados Unidos.

“É uma parceria com um grupo nacional importante, em um segmento no qual o Brasil é muito competitivo, que é o sucroenergético. Considero esse centro estratégico, pois vai colocar um segmento da indústria importante para o país e com forte ligação com São Paulo em conexão com uma universidade que é líder na área de ciências agrárias”, afirma o pró-reitor de pesquisa da Unesp, professor Carlos Graeff. 

“O efeito disso é muito positivo, de melhoria não só para o centro de pesquisa em si, mas com certeza para todo o ambiente que o envolve”, completa o docente.

Produção e meio ambiente

Filosofia de trabalho aplicada na Unesp há, pelo menos, três décadas, o manejo integrado de pragas norteará as pesquisas do Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar.

O conceito, em linhas gerais, envolve certa tolerância com a ação de pragas, partindo da premissa de que a existência pontual delas não é algo que obrigatoriamente vá causar prejuízos econômicos à lavoura, e o desenvolvimento de agentes de controle biológico para neutralizar os efeitos nocivos desses insetos pragas a partir do momento em que eles se tornem, de fato, um problema à produção industrial.

“Nossa pesquisa, ao longo dos anos, é para determinar quanto de ataque a planta tolera, que tipo de agente de controle biológico está presente e se a quantidade [desse agente] é suficientemente grande para reduzir esse problema com as pragas. Se esse controle não ocorrer, aí orientamos uma intervenção, sempre pensando em adicionar mais agentes de controle biológico”, afirma o professor Odair Fernandes.

Os agentes de controle biológico podem ser microrganismos ou mesmo outros insetos que combaterão os insetos pragas. 

Reconhecer esses agentes e saber se são amigos, e não inimigos, é fundamental para o trabalho. Alguns agentes de controle biológico que serão estudados no mais novo centro de pesquisa já foram identificados na prospecção inicial feita pelos cientistas da Unesp.

O desenvolvimento de estudos de ponta, na fronteira do conhecimento, deve fortalecer a cultura da inovação da universidade e também gerar ganhos acadêmicos significativos nos próximos anos, pois o novo centro de pesquisa contará com a participação de graduandos da Unesp e, em especial, pós-graduandos (mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos) do Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Entomologia Agrícola, da FCAV.

“O centro de pesquisa em engenharia vai deixar os alunos em contato direto com o setor produtivo e fará os professores trabalharem pensando em desenvolver produtos e processos, e não só na ciência básica”. 

“É um modelo de parceria inovador e que prevê um retorno rápido para a sociedade, com possibilidade de geração de propriedade intelectual, que seria compartilhada entre a Unesp e a empresa, e treinamento de mão de obra, porque os alunos que trabalharão neste centro terão grandes chances de ser contratados depois”, destaca o professor Wagner Valenti, diretor da Agência Unesp de Inovação (Auin).

Caráter inovador

O Grupo São Martinho, por meio do gestor de inovação da empresa, o pesquisador Walter Maccheroni, também reforçou o caráter inovador da parceria e disse estar muito satisfeito com a futura colaboração da Unesp no Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar.

“Nossa expectativa é grande para a criação de um novo ecossistema de inovação no País e estamos confiantes que essa interação entre indústria e universidade vai gerar bons resultados para nossa economia e sociedade”, diz Walter Maccheroni.

A expectativa do reitor da Unesp, Sandro Roberto Valentini, é que a aprovação do primeiro centro de pesquisa em engenharia sob liderança da universidade inspire outras iniciativas no mesmo sentido na instituição de ensino. 

O anúncio da aprovação da proposta da Unesp foi feito pelo reitor em dezembro, na última reunião do Conselho Universitário de 2019. O termo de outorga foi assinado no fim de janeiro.

“A seleção da nossa proposta é o reconhecimento do trabalho realizado por todos os envolvidos, da qualidade e do impacto da produção científica e tecnológica da equipe e da relevância do plano de pesquisa proposto”. 

Esperamos que a aprovação desse centro inspire outros grupos qualificados a submeterem propostas dessa natureza, aprofundando as relações da universidade com o setor produtivo na busca de soluções para problemas complexos”, pontua o reitor da Unesp.

Fonte: http://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/unesp-coordenara-pesquisas-em-parceria-com-o-setor-produtivo/


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